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Sorocaba

Prefeitura é cobrada por descumprir ordem do Tribunal de Justiça

Home care para idosa com Alzheimer deveria ter sido disponibilizado desde 12 de janeiro; agora, além de multa de R$ 1 mil por dia, há risco de processo

22 de Janeiro de 2024 às 23:01
Luis Felipe Pio [email protected]
Com Alzheimer em estágio avançado, Neusa, de 78 anos, desenvolveu uma infecção de urina que agravou seu quadro clínico
Com Alzheimer em estágio avançado, Neusa, de 78 anos, desenvolveu uma infecção de urina que agravou seu quadro clínico (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

A Prefeitura de Sorocaba tem até quinta-feira (25) para explicar porque descumpriu a determinação do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) de fornecer serviço residencial de atendimento de saúde especializado (home care) à aposentada Neusa Carvalho de Oliveira -- uma paciente, de 78 anos, com Alzheimer em estágio avançado. A decisão judicial foi tomada por meio de um procedimento de tutela antecipada expedido em 28 de dezembro, com prazo de execução em até dez dias úteis.

O prazo concedido pelo TJ-SP expirou em 12 de janeiro, sem que a administração municipal cumprisse a determinação. Por conta disso, começou a valer a cobrança de uma multa diária no valor de R$ 1 mil. Na última terça-feira (16), uma nova liminar foi emitida pela Justiça. A nova decisão exige que o secretário municipal da Saúde se manifeste, em até cinco dias, sob pena de apuração das responsabilidades criminal, civil, e por improbidade administrativa.

A paciente Neuza possui doença de Alzheimer há 12 anos e, no ano passado, desenvolveu uma infecção de urina, que agravou seu quadro clínico, deixando-a em estado de demência avançado. Atualmente, ela não se comunica mais e se alimenta por sonda, pois perdeu a capacidade de engolir e se movimentar. Conforme os laudos apresentados, apesar de ter as funções cognitivas comprometidas e estar completamente dependente para realização de suas funções básicas, Neuza apresenta condições de receber alta. A indicação médica é que ela receba cuidado domiciliar contínuo, com acompanhamento 24 horas por dia.

O custo para isso, entretanto, não é baixo. Conforme orçamento feito em uma clínica especializada de Sorocaba, o preço mensal do home care -- incluindo todas exigências feitas pelos médicos de Neusa -- é de aproximadamente R$ 20 mil. Um valor com o qual a família não pode arcar. “Os médicos disseram que ela corre risco de contrair uma infecção hospitalar. Pelo quadro, ela não resistiria a isso. Só que para ela conseguir ir para casa, é necessário um home care”, explicou o filho de Neuza, Francisco Henrique de Oliveira Júnior, de 47 anos.

Após a administração pública não se manifestar e o prazo judicial ter expirado, o advogado responsável pelo caso, Vitor Henrique Duarte, abriu um boletim de ocorrência contra a Prefeitura de Sorocaba em uma delegacia de polícia, no dia 15 de janeiro, com base no Artigo 330 do Código Penal. “Não cumprir uma determinação judicial é crime de desobediência. Isso significa que, uma vez não cumprida a decisão liminar, vai ser apurada a responsabilidade do servidor responsável, que pode ser demitido. No processo, ainda não consta qualquer justificativa do secretário da saúde”, relatou.

O parecer

A Secretaria Municipal da Saúde (SES) informou ao Cruzeiro do Sul que, “assim que recebeu a demanda em questão, imediatamente iniciou os trâmites necessários para contratação de empresa especializada, respeitando os fluxos municipais, bem como as legislações pertinentes e Constituição Federal”. Também afirmou que mantém contato com os familiares de Neusa, por meio de mensagens, “a fim de assegurar transparência nos atos e informar o andamento da contratação”.

O filho de Neusa, contudo, disse que tentou contato com a Prefeitura diversas vezes até que foi adicionado em grupo do WhatsApp, pelo qual poderia falar diretamente com a SES. Também no dia 15, foi dito a ele que a gestão “estava fazendo o possível para resolver o quanto antes”. Porém, depois disso, Francisco teve seus questionamentos ignorados.

A nota oficial destacou, ainda, que a SES concentra todos esforços para a contratação de uma empresa e que haverá manifestação da Prefeitura à Justiça em momento apropriado. “Todos os esforços estão voltados para concluir a contratação o mais breve possível. Por fim, cabe registrar que a Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria Jurídica (SEJ), se manifestará nos autos oportunamente ”, finalizou a nota enviada ao jornal. (Luís Pio - programa de estágio)