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Sorocaba

Após 72 horas, Sorocaba tenta se recuperar das chuvas

Segunda-feira foi dia de remover lama, lixo e móveis estragados pelas fortes chuvas do sábado

22 de Janeiro de 2024 às 23:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Logo que o sábado amanheceu, os estragos estavam ali para quem quisesse ver
Logo que o sábado amanheceu, os estragos estavam ali para quem quisesse ver (Crédito: VIRGÍNIA KLEINHAPPEL VALIO)

Os estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram Sorocaba no último final de semana ainda podem ser vistos pela cidade. Em 72 horas, choveu mais de 80% do previsto para todo o mês de janeiro. Na manhã de sábado (20), a cidade amanheceu com inúmeras ruas alagadas, caso da avenida Dom Aguirre, que foi bloqueada em vários trechos. Outros bairros também amanheceram com as vias sob água, como Vitória Régia III, Jardim Faculdade, Jardim Paulistano, Jardim Sandra, Mineirão, Parque Campolim e Ipanema das Pedras.

O Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) acabou alagado e recebeu inúmeras doações. Próximo dali, a Capela João de Camargo teve sua estrutura interna e externa danificadas devido à chuva. Houve, ainda, a queda do muro do Hospital Evangélico de Sorocaba, na avenida General Carneiro. Durante a tempestade, duas famílias e um casal chegaram a ser socorridos pela Polícia Militar. Outro casal ficou ilhado com o carro em meio à enchente e uma das ocupantes do veículo, uma mulher de 74 anos, veio a óbito.

O acumulado de chuva nos últimos três dias em Sorocaba foi de 274 mm, sendo que o previsto para o fim de semana todo, era de 130 mm. O acumulado no mês de janeiro é de 407 mm, acima da média histórica de 368,53 mm para o período, levando em consideração os últimos 10 anos.

Diante de tanta chuva e tantos estragos, as equipes da Prefeitura de Sorocaba, bem como o prefeito Rodrigo Manga, estiveram nas ruas para atender às ocorrências. Segundo a administração municipal, os trabalhos estão concentrados nos pontos onde há alagamentos. Até o final da tarde de ontem (22) ainda havia interdição temporária de trânsito na avenida Dom Aguirre (altura do Parque das Águas) e das ruas Laura Maiello Kook (Ipanema das Pedras), Guida Mares (Central Parque), Dr. Heitor Ferreira Prestes e Osório Antônio de Lima (ambas no Parque Vitória Régia).

Um total de 150 homens das equipes da Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo), 30 caminhões-pipa, 30 caminhões basculantes, além de escavadeiras e outros equipamentos, atuaram ontem (22) nos serviços de limpeza e obras de reparo de infraestrutura no município. As equipes do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) fizeram o bombeamento de água em pontos do Jardim Vitória Régia e, em outros, foi feita a limpeza de vias e remoção de móveis afetados pelas chuvas, assim como a desobstrução de córregos.

Durante o domingo (21), também foram realizados trabalhos de limpeza de vias e imóveis alagados pelas chuvas intensas do fim de semana, assim como a desobstrução de córregos e ações de apoio social às famílias prejudicadas.

“No domingo (21) nós fizemos -- através do decreto emergencial -- a contratação de empresas para a obras de infraestrutura da cidade, pois tivemos ponte que caiu na Barão de Tatuí, estragos na Capela João de Camargo, por exemplo, e ruas que afundaram e engoliram veículos em Ipanema das Pedras e no Barcelona. Essas empresas estão em processo de contratação. Nós iniciamos o trabalho com uma equipe própria para recuperar em um ou dois dias aqueles serviços mais rápidos. (Em) Paralelo a isso, (é feita) a limpeza das vias: já estamos com equipes na avenida Dom Aguirre, no Parque das Águas, no Vitória Régia III (onde tem o maior acúmulo de sujeira) e também estamos com os caminhões-pipa pela cidade. Assim, a vida do sorocabano vai voltar ao normal”, disse o prefeito Rodrigo Manga ao jornal Cruzeiro do Sul.

“Perdi tudo”

No Jardim Maria do Carmo, o aposentado Elias de Freitas tentava limpar sua casa e contabilizar os prejuízos;   - VIRGÍNIA KLEINHAPPEL VALIO
No Jardim Maria do Carmo, o aposentado Elias de Freitas tentava limpar sua casa e contabilizar os prejuízos; (crédito: VIRGÍNIA KLEINHAPPEL VALIO)

O aposentado Elias de Freitas, de 66 anos, mora há 44 anos no Jardim Maria do Carmo, ao lado do Parque das Águas. Em seu terreno, moram quatro famílias. As quatro casas ficaram alagadas com a forte chuva. Ele conta que a água começou a subir rapidamente por volta de 2h de sábado (20) e que saiu tão rápido de casa, que não teve tempo de levar mais nada junto.

Desde que ele mora no imóvel, essa foi a primeira vez que a água chegou a poucos centímetros do teto. “Não tinha como eu carregar nada. Estava eu, minha esposa e meu filho. Desse jeito, foi a primeira vez que aconteceu. Tinha um bar na minha garagem e eu perdi tudo: freezer, geladeira, colchão, roupas, cama e mantimentos”, conta o aposentado.

Ele comenta, também, que o prefeito Rodrigo Manga esteve em seu imóvel neste domingo (21): “O prefeito esteve aqui e conversou comigo. Disse que era para eu fazer o cadastro para receber o benefício da Câmara e, se não desse certo, era para entrar em contato. Ele até deixou o contato particular dele comigo”.

Perto dali mora a enfermeira Cristiane de Almeida, de 51 anos, que há três anos afirma enfrentar enchentes na região do Parque das Águas: “No ano passado teve cinco enchentes, mas desse jeito, foi a primeira vez. Eu não estava em casa, mas soube que a água subiu muito rápido”.

Dentro da casa de Cristiane, ainda havia muita água acumulada em todos os cômodos. Com a ajuda da mãe, ela tentava limpar tudo, em uma tarefa que parecia não ter fim. Ela perdeu móveis, eletrodomésticos, roupas e desabafa que após essa última enchente, está pensando em sair do imóvel. “Depois disso, mão dá para ficar aqui”, desabafa.

Rua intransitável

A represa Ipaneminha transbordou e danificou o pavimento da rua Laura Maiello Kook, em Ipanema das Pedras, exigindo atenção das prefeituras de Sorocaba e Votorantim - FLÁVIA ROSTELATO / CORTESIA
A represa Ipaneminha transbordou e danificou o pavimento da rua Laura Maiello Kook, em Ipanema das Pedras, exigindo atenção das prefeituras de Sorocaba e Votorantim (crédito: FLÁVIA ROSTELATO / CORTESIA)

Moradores da rua Laura Maiello Kook, em Ipanema das Pedras, zona oeste de Sorocaba, estão desde o início da madrugada de sábado (20) “ilhados”. Isso porque houve o transbordamento da represa Ipaneminha, cujo canal passa pela via. O alagamento durou horas e danificou o pavimento da via. Por meio de nota, a Águas de Votorantim informou que não tem responsabilidade sobre esse problema e que realiza apenas a captação de água no local.

A arquiteta Flávia Rostelato mora em um condomínio localizado na rua Laura Maiello Kook desde 2010 e conta que frequenta o trecho há muitos anos, mas nunca teve um problema dessa gravidade. “Desde sábado está intransitável. Até a altura do número 3.550 -- entrada do condomínio em que moro -- é asfaltado, porém a continuação na rua com a ligação da avenida Nossa Senhora dos Remédios está intransitável devido à qualidade da via. Os usuários estão atolando. Só restou o acesso que vai pela Estrada Ferroviária João de Oliveira, que liga a Araçoiaba (trecho após o pedágio), uns 25 a 30 quilômetros de deslocamento em estrada de terra”, conta a arquiteta.

De acordo com o prefeito Rodrigo Manga, a rua Laura Maiello Kook, em Ipanema das Pedras, possui um trecho onde a responsabilidade é de Votorantim, e outro de Sorocaba. “A responsabilidade é meio a meio: Sorocaba e Votorantim. Nós sabemos da dificuldade das cidades da região, então Sorocaba vai assumir a maior parte das obras ali em Ipanema das Pedras para poder tocar e liberar a mobilidade ali para a população”, afirmou. Conforme o prefeito, as obras nesta via foram iniciadas ontem (22) e devem ser concluídas em 15 dias.

Por meio de nota, a Prefeitura de Votorantim informou que as equipes da Secretaria de Serviços Públicos atuaram em conjunto com a CPFL, concessionária Águas de Votorantim e Prefeitura de Sorocaba. O objetivo foi dar celeridade na normalização do abastecimento e na recuperação da via Laura Maiello Kook para restabelecer a passagem de veículos. Técnicos da Prefeitura e da concessionária estão apurando os motivos que levaram ao extravasamento da represa e, consequentemente, aos danos na estação e na via pública. (Virginia Kleinhappel Valio)

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