Sorocaba
Aplicadores do Enem 2023 ainda esperam pagamento
Em Sorocaba, pelo menos 90 pessoas ainda não foram remuneradas
Pessoas contratadas pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) para trabalhar nos dois dias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado ainda não receberam pelos serviços prestados. As provas foram aplicadas em 5 e 12 de novembro e, embora o prazo para a remuneração tenha sido estabelecido em até 30 dias úteis após o último dia de prova, já se passaram dois meses e os colaboradores ainda aguardam o recebimento. Em Sorocaba, pelo menos 90 pessoas não foram remuneradas. O problema também afeta trabalhadores de diversas cidades do Brasil.
A moradora de Sorocaba Claudina Maria Luzia dos Santos, de 48 anos, exerceu a função de coordenadora no Enem. A técnica em segurança do trabalho foi responsável pelo recrutamento dos colaboradores, que são divididos em duas funções: chefes de sala -- que recebem o valor de R$ 120,00 por dia trabalhado -- e os aplicadores -- com remuneração de R$ 90,00 ao dia. Claudina precisou administrar uma equipe de 60 pessoas. Desse total, 12 ainda não receberam o pagamento.
“O pagamento de uma parte do pessoal saiu e da outro não. Ficou uma coisa desconfortável, porque tínhamos um grupo (de WhatsApp) e nele umas pessoas colocaram que tinham recebido e outras não. Ai começou todo esse desgaste emocional; ficou uma situação muito chata”, comentou.
A técnica de segurança do trabalho participa também de outro grupo de WhatsApp com cerca de 20 coordenadores, todos de Sorocaba. Dessas equipes, 90 pessoas, até o momento, não foram contempladas com a remuneração. “As pessoas que trabalharam com a gente não têm a noção de quem está por trás. A primeira pessoa que eles enxergam na frente é a coordenação, que os convocou para trabalhar nos dia 5 e 12 de novembro”, explicou.
Entre os profissionais que aguardam o dinheiro está a assistente administrativo Eliana Miranda Silva, de 57 anos. A moradora de Sorocaba trabalhou nos dois dias de prova como chefe de sala e deve receber R$ 240,00. “Estamos tentando receber, porque trabalhar não é fácil. Foram 10 horas por dia de trabalho, nos dois domingos. Já faz 12 anos que trabalho no Enem e nunca aconteceu isso”, informou a assistente administrativa.
A assistente de departamento pessoal Mirieide Camargo Alves, de 37 anos, também trabalhou como chefe de sala em Sorocaba e está indignada com a situação. “Eles falaram que pagaram as pessoas (que trabalharam) no Estado de São Paulo, mas eles não pagaram todo mundo. Têm outras pessoas, inclusive de Sorocaba, que não receberam. Eles alegam que pagaram o Estado todo, mas não é verdade”, reclamou Mirieide .
Sem retorno
Eliana e Mirieide tentam entrar em contato com o Cebraspe para resolver a situação, no entanto, não têm sucesso. Conforme as colaboradoras, a empresa pede para que elas enviem um e-mail. Por meio desse canal, o instituição pede que elas refaçam o cadastro. As colaboradoras dizem que já fizeram o procedimento mas, mesmo assim, o dinheiro não entrou nas contas bancárias delas.
A coordenadora Claudina também insiste em falar com a empresa. Além de não ter retorno, ela conta que foi bloqueada da plataforma na qual os coordenadores tinham acesso. “Eu mando e-mail todo dia e não tenho retorno. A única coisa que eu tenho é aquela mensagem automática de que vão me responder em sete dias e não me respondem. Ninguém atende os telefones. Eu tinha direito de entrar em uma plataforma que os coordenadores têm acesso, também fui bloqueada, não consigo mais. Não tenho respaldo. Tem um número de WhatsApp de algumas pessoas que sempre me mandavam mensagens no período das provas, sempre estavam conversando comigo. Hoje não me respondem mais e quando respondem falam que não são os responsáveis”.
Problema geral
O Cruzeiro do Sul teve acesso a um grupo de WhatsApp com mais de 390 pessoas que trabalharam no Enem em diversos Estados do Brasil, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, entre outros. Até ontem (5), muitos alegavam não ter recebido o pagamento.
No site “Reclame Aqui”, plataforma em que usuários podem reclamar dos serviços realizados pelas empresas, há inúmeras queixas sobre o mesmo assunto: a falta de pagamento a quem trabalhou no Enem 2023. Uma pessoa de Bauru (SP) informou no site que está aguardando um retorno e nenhuma satisfação foi dada até o momento.
Colaboradores de outros Estados também informam o problema: “Estou reclamando que eu trabalhei no Enem e até agora eu não recebi, já estamos em 2024 e até agora não deram nenhuma resposta”, disse uma pessoa de Alta Floresta, no Mato Grosso. “Trabalhei como colaboradora no Enem e até agora não recebi, já se passaram os 30 dias úteis e nada, já assinei contrato e está tudo ok com o meu cadastro”, relatou outra colaboradora de São Leopoldo, cidade do Rio Grande do Sul.
Respostas
Questionado pelo jornal, o Cebraspe informou que foram processados os pagamentos dos colaboradores que atuaram no Enem dos Estados do Acre, Alagoas, Amapá, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Tocantins, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina, Amazonas, Distrito Federal, Piauí, Pará, Paraná, Goiás, Maranhão e Sergipe. Os pagamentos dos demais Estados estariam em fase de processamento. Os prazos não foram informados.
Segundo a empresa, colaboradores dos Estados que já foram pagos, mas que alegam ainda não ter recebido devem realizar a atualização dos seus dados bancários junto ao Centro. Segundo a Cebraspe, “pode ter havido devolução do pagamento por inconsistência nos dados, pois novas tentativas de pagamento estão acontecendo”. O canal para que colaboradores reportem eventuais inconsistências é o e-mail [email protected].
Já o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela contratação da empresa, informa que entrou em contato com o Cebraspe no intuito de obter esclarecimentos sobre o serviço, assim como a respeito da previsão de pagamentos dos profissionais contratados. A instituição contratada informou que os pagamentos estão sendo feitos após o processamento dos registros de frequência realizados pelos coordenadores de local de prova. Adicionalmente, o Inep solicitou que o Cebraspe estabeleça um cronograma com o prazo limite para quitação dos pagamentos restantes e a efetiva resolução de eventuais discrepâncias. (Vanessa Ferranti)