Sorocaba
Alerta: internet ‘abre’ processos e permite novos tipos de golpes
Os golpes virtuais estão se tornando cada vez mais frequentes. São muitas as modalidades usadas pelos criminosos, como o golpe do Pix, do empréstimo bancário e, mais recentemente, do falso advogado. Neste novo golpe, uma pessoa acessa informações de um determinado processo e, em seguida, manda mensagens para o cliente se fazendo passar pelo advogado ou funcionário do escritório de advocacia. Tudo isso, por meio do WhatsApp. Com tantas informações pessoais em mãos, os criminosos conseguem enganar as pessoas, que chegam a pagar guias e realizar transferências financeiras.
Para o advogado, professor e presidente da OAB Sorocaba, Márcio Leme, as pessoas precisam ter consciência de que os processos, bem como todas as informações que constam neles, são públicos. Portanto, qualquer pessoa consegue ver os processos nos sites dos tribunais e ter acesso aos dados das partes, além de identificar qual é o escritório de advocacia que está trabalhando no processo. “Munidos destas informações, os golpistas conseguem fazer contato com o cliente, se passando pelo escritório de advocacia. O cliente acaba sendo enganado, porque a pessoa que está fazendo o contato conhece de fato a história e tudo mais. Esse é o contexto do golpe”, explicou.
Leme alerta que é preciso tomar cuidado. Ao receber o contato de um escritório de advocacia a respeito de pagamentos, a orientação é que a pessoa não faça nada antes de ligar para o escritório de advocacia contratado por ela. “É importante que a pessoa não seja um sujeito passivo. Não existe a ideia de que precisa pagar algo para receber determinada quantia de um processo. O golpista sempre diz: ‘Olha eu vou te mandar uma guia; ou, faz um depósito para mim de R$ 5 mil, que eu preciso pagar para receber o seu valor’. Isso não existe. É preciso esclarecer isso para as pessoas”.
O presidente da OAB ressalta, mais uma vez, que as informações que constam nos processos são públicas, por isso, as pessoas não podem se surpreender se alguém mandar uma mensagem falando do processo. O mais importante, segundo ele, é entrar em contato com o advogado contratado para o serviço e falar diretamente com ele. Leme destaca que esse tipo de golpe tem sido comum. E não é de hoje que o ambiente virtual é propício para quem quer tirar vantagem.
“Infelizmente, as pessoas não foram educadas para viver nesse mundo virtual e estão usando-o intensamente para se relacionar. De modo que, quem é desatento, recebe uma mensagem via aplicativo e começa a bater papo, acreditando que a pessoa que está conversando com ela é aquela da foto que aparece. Ela não consegue se dar conta de que, se eu digitar o nome de uma pessoa no Google e aparecer a foto, eu posso usar no WhatsApp e falar que sou a pessoa”, exemplifica o presidente da OAB.
Leme ressalta, ainda, que este tipo de golpe virou febre: “Recebo isso toda semana”. De acordo com ele, não há como combater este tipo de golpe. A única maneira de evitá-lo é informar e orientar a população. “A pessoa precisa ficar atenta quando for conversar via aplicativo. É preciso se certificar se está conversando efetivamente com aquele que se apresentou e, antes de tomar qualquer providência que implique em movimentação financeira, como pagamentos ou transferências, se certifique duplamente, para não ser vítima de golpe”, orienta.
“Igual ao original”
A empreendedora Paola Garcia, de 34 anos, por pouco não caiu no golpe do falso advogado. Ela conta que recebeu uma mensagem pelo WhatsApp em 27 de novembro. A foto do perfil era do escritório que estava responsável por um processo trabalhista aberto por ela em 2017. Ela comenta que por ser um processo antigo, já não lembrava mais: “A pessoa entrou em contato se passando pela secretária do advogado responsável, pediu para que eu entrasse em contato com ele e me passou um número de telefone. Disse que tinha uma liberação do meu processo. Ela disse todas as informações e dados do processo. Me enviaram um documento muito parecido com o original. Nunca iria desconfiar”, relata.
Ela então entrou em contato com o falso advogado, que informou que eles haviam ganhado a causa. Segundo ela, o golpista sabia todos os dados, como CPF, número do processo, data e a empresa processada. “Fiquei tão feliz e comecei a comemorar. Confirmei os dados e ele pediu minha conta bancária para que fosse feito um depósito. Quando me enviou o termo do ‘juízo’, era um valor de R$ 126 mil. Foi aí que desconfiei”.
Nessa hora, Paola conta que decidiu ligar para o advogado responsável pelo processo, por meio de número que ela já possuía. “Pedi para falar com a tal secretária e já me informaram que era um golpe. Eu, que trabalho com internet e sou muito atenta a isso, quase caí no golpe”, comenta. A empreendedora afirma que se fosse um valor menor, não teria desconfiado e talvez teria enviado o dinheiro. “Depois de muita orientação do meu advogado, fiquei mais esperta. Esses golpistas têm um sistema de pesquisa muito avançado. Esse meu número de celular é recente e eles entraram em contato justamente por esse número”.
Prejuízo de R$ 2.500
O advogado Cláudio Dias Batista relata que esse golpe está acontecendo com muitos advogados. Em seu escritório, foram dois casos nos últimos meses. Ele explica como os criminosos agem: “Os bandidos entram no site da Justiça e vão olhando os processos. Os processos são visíveis para todo mundo. Ali, eles conseguem o nome completo e endereço de determinada pessoa. Com isso, eles começam a entrar em contato, fingindo ser advogado ou do escritório do advogado, e pedem transferências ou o pagamento de guias”. Batista passou então a informar todos os clientes a respeito deste golpe. “Três clientes retornaram dizendo que estava acontecendo esse golpe”, conta Batista. Um deles perdeu aproximadamente R$ 2.500.
“Sempre que tiver esse tipo de situação, nós fornecemos uma pasta ao cliente, com informações e até folder, com os nossos contatos oficiais, como telefone e WhatsApp do escritório, para que a pessoa confie sempre nesses números. Os clientes são sempre informados de que nós jamais vamos solicitar dinheiro emergencial por WhatsApp. Se houver qualquer solicitação, ela é feita de maneira formal e, normalmente, é enviada a guia para que o cliente pague e não que ele envie o dinheiro”, enfatiza o advogado. (Virginia Kleinhappel Valio)
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