Largo do Divino
Pessoas em situação de rua são acusadas de causar transtornos
Entre os problemas, moradores e comerciantes da região apontam sujeira, desordem e até furtos
Comerciantes e moradores da região próxima ao Largo do Divino, no Jardim São Paulo -- zona oeste de Sorocaba --, se dizem cansados da sujeira e bagunça que seriam causadas pelas pessoas em situação de rua e usuários de drogas que fizeram da praça o seu lar. Se não bastasse isso, comerciantes também relatam furtos em plena luz do dia.
Embora a Guarda Civil Municipal (GCM) e as equipes do programa Humanização abordem as pessoas que estão na praça, com o intuito de levá-las ao Serviço de Obras Sociais (SOS), localizado a pouco mais de um quilômetro da praça, muitos recusam a ajuda e preferem se manter no local.
Vale lembrar que o espaço público onde fica a Capela do Divino foi revitalizada há pouco tempo pela Construtora Planeta. No entanto, a responsabilidade pela manutenção e limpeza é da Prefeitura Municipal de Sorocaba. Já a segurança, fica a cargo da GCM e da Polícia Militar.
Lojas furtadas
A funcionária de uma loja de cosméticos que fica a poucos metros da praça relembra o dia 11 de setembro, quando o comércio foi furtado, supostamente, por uma mulher em situação de rua, causando um prejuízo de R$ 940. “Ela entrou, me questionou algumas coisas. Eu estava atendendo uma cliente e ela aproveitou para furtar. Essa mulher está solta! Já a vi aqui na região após o furto”. Nas imagens gravadas pela câmera de segurança do comércio é possível ver o momento em que a mulher coloca embalagens de perfumes dentro da bolsa e vai embora.
Desde o furto, a funcionária, de 22 anos, deixa a porta do comércio trancada. “Na semana passada fui almoçar e deixei a porta trancada. Pouco depois, escutei algumas vozes. Quando olhei para a porta de vidro vi um grupo de seis pessoas. Eles falaram ‘está fechado’. Tenho certeza que se a porta estivesse aberta, elas teriam feito ‘a rapa’ na loja”. Segundo ela, a região está perigosa e o medo tornou-se sentimento diário de quem trabalha nas vizinhanças. “Está muito perigoso, nós ficamos com medo. Teve esse caso de furto aqui na loja e o comércio vizinho também tem casos de furtos de produtos”, conta.
Urina e restos de comida
Além dos furtos, a jovem reclama que as pessoas em situação de rua passam a madrugada na região, deixando a calçada da loja em que trabalha com restos de comida. Muitos também urinam no local. “Isso incomoda. Eles acabam atrapalhando o comércio. A praça foi revitalizada, está linda e fazem vários eventos ali. Esses dias, uma mãe com uma criança passou em frente à loja e falou para o filho que eles não poderiam ir brincar no parque porque os moradores de rua estavam sentados nos brinquedos. Ou seja, as crianças não podem nem ir ali brincar, porque eles estão sempre lá. Está bem difícil”.
Para ela, a região precisa de mais policiamento. Ela comenta que são poucas as vezes em que vê viatura da GCM estacionada na praça. “Eu acho que se tivesse um policiamento maior e se uma viatura ficasse na praça ou nas redondezas, essas questões melhorariam. Falaram que isso ia ser feito, mas não foi. Vejo a GCM na praça uma ou duas vezes na semana”.
Outro munícipe, de 52 anos, que possui um comércio próximo à praça há 40 anos, comenta que as pessoas em situação de rua também incomodam os seus clientes. “Eles sempre são abordados pelos moradores de rua. A clientela fica com medo de chegar nos comércios do bairro. Eles abordam na calçada ou na hora em que o cliente estaciona o carro. As pessoas ficam com medo de voltar para o carro, porque eles ficam insistindo. Isso incomoda e também afugenta o cliente”, comenta.
O comerciante afirma que raramente vê a GCM na praça e que esse incômodo com as pessoas em situação de rua passou a acontecer nos últimos dois anos. “Além de abordarem os clientes, eles dormem na calçada e largam tudo sujo. As pessoas doam marmitex e muitos abrem e comem só a mistura, o restante da comida, jogam no chão. Eles urinam e defecam na calçada e somos nós que temos que limpar no dia seguinte. É complicado”, relatou, acrescentando que o local “é um bairro esquecido de policiamento”.
Na opinião dele, a praça está abandonada pelo poder público. Além disso, é muito suja, porque as pessoas em situação de rua não limpam a sujeira que fazem. “Eu entendo que tem um problema social grande e desemprego, mas esse é um público que parece que não quer sair dessa vida, porque o pessoal vem aqui, traz café da manhã, almoço e janta para eles. Então, por que a pessoa vai procurar um emprego? Eles pedem um ‘trocadinho’ no semáforo e abordam um cliente ou outro. Um centavinho ali, já dá uma garrafa de corote. Então, por que a pessoa vai trabalhar?”, questiona.
“Pegam da prateleira”
Outra comerciante do entorno da praça relata que o movimento das pessoas em situação de rua na praça ocorre todos os dias e que muitas vezes eles passam em frente ao seu comércio, pegam produtos da prateleira e saem correndo. “Tenho que fechar a porta de vidro do meu comércio, porque eles entram e ficam perturbando. Quando fecho o comércio, às 19h, ainda tem gente na praça. Tem uns que chegam a abaixar a calça e fazer necessidades fisiológicas ali mesmo na praça”.
Alguns pais buscam seus filhos na creche localizada em frente à praça costumam ir ao espaço público para que as crianças possam brincar nos brinquedos. Essa opção de lazer das crianças está sendo prejudicada, pois as pessoas em situação de rua ficam sentadas próximas aos brinquedos. “Eles ficam onde as crianças querem brincar e fazem as necessidades fisiológicas ali mesmo, na frente das crianças. A praça é bem movimentada de criança. Os pais costumam ficar junto, mas se não tivesse os moradores de rua ali, com certeza se sentiriam mais seguros!”, comenta a comerciante.
Ela relembra uma situação que acontece na esquina em frente ao seu imóvel: os comerciantes e moradores costumavam deixar uma caixa com boldo, para compartilhar entre os vizinhos. “Todo mundo passava e pegava para fazer chá, por exemplo. Agora, eles (pessoas em situação de rua) transformaram o local em banheiro”.
“É deprimente”
Aos 63 anos, uma moradora do prédio em frente à praça descreve a situação como “deprimente e chocante”. Ela conta que, da janela do seu apartamento, viu um homem defecando na praça, em plena luz do dia. “É deprimente. Não é ser desumana. Hoje se tornou muito mais fácil viver assim. Você não paga aluguel, não paga luz, nem telefone e ainda tem comida e café da manhã. Eles ficam no bar perto da praça, mas onde eles arrumam dinheiro para beber e fumar crack? Tenho uma residência no Rio de Janeiro e em Sorocaba. Eu não vejo isso no Rio. É um problema social que a Prefeitura tem que resolver. O que está acontecendo?”, questionou.
A aposentada ressalta que vê a equipe do Humanização, mas que muitas pessoas recusam a ajuda. Em relação à GCM, ela afirma que frequentemente a viatura está na praça ou na rua ao lado. “Todo mundo tem o direito de ir e vir, mas ninguém tem o direito de acampar em uma praça pública, deixar sujeira, defecar em uma praça. Isso ninguém tem direito. Como cidadã, minha única alternativa é ligar para o Humanização, denunciando a situação e pedindo ajuda”.
Observando todos os dias o movimento na praça, um cabeleireiro, de 64 anos, afirma que as pessoas que vivem na praça atrapalham as crianças que querem brincar. “Eles ficam nos brinquedos das crianças e, às vezes, bebem demais e ficam gritando. Já cheguei a ver mais de dez pessoas ali”. Ele conta que também vê a GCM abordando as pessoas, mas que elas não querem ajuda. “O problema de ir ao SOS é que lá eles não gostam, pois lá tem regras. Eles gostam é de ficar aqui mesmo, bebendo os corotes deles e fumando. E é um direito deles, de ir e vir. Aqui, onde trabalho, nunca fizeram nada para os meus clientes”.
"Nova equipe será encaminhada ao local”
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba esclarece que as equipes do programa Humanização têm realizado, com frequência, ações de abordagem social na região mencionada na reportagem, assim como em outras identificadas. “Diante da informação da reportagem, nova equipe será encaminhada ao local para averiguar a situação e tomar as providências necessárias e ao alcance”, informou.
A Prefeitura ressalta que, em muitas ocasiões, as pessoas em situação de rua recusam os atendimentos e cuidados sociais ofertados gratuitamente pelo Humanização. “Nesse caso, ainda que a atuação técnica da equipe seja no sentido de insistir na aceitação dos cuidados oferecidos, cabe respeitar a decisão da pessoa abordada, desde que a atitude não envolva risco à integridade física dela ou de outros, o que também é sempre considerado”, conclui.
O que diz a PM
A Polícia Militar, por intermédio do Sétimo Batalhão de Polícia Militar do Interior, informou que direciona o policiamento nos locais de incidência de delitos com base nos registros de ocorrências e que, por esse motivo, é importante que as pessoas façam o registro da ocorrência.
Conforme a PM, no banco de dados de ocorrências criminais de outubro de 2023, não foi registrado qualquer tipo de crime próximo à praça. "A Polícia Militar acrescenta que realiza diuturnamente o policiamento ostensivo na região e atua para proporcionar sensação de segurança para a população através de diversos programas de policiamento", finaliza. (Virginia Kleinhappel Valio)
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