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Sorocaba

Moradores pedem mudança de trajeto em obras da zona oeste

Representantes de residentes no condomínio Villa dos Inglezes, afirmam que anel viário, da forma que foi projeto vai causar prejuízos ambientais

04 de Novembro de 2023 às 23:01
Vanessa Ferranti [email protected]
Para viabilizar a obra, parte da área de mata precisará ser utilizada e muitas árvores deverão ser retiradas do local. Projeto original indica que será necessário fazer uma interligação na rua Carlos David Oetterer de Almeida, ao lado do condomínio residencial Villa dos Inglezes, em um trecho bastante arborizado
Para viabilizar a obra, parte da área de mata precisará ser utilizada e muitas árvores deverão ser retiradas do local. Projeto original indica que será necessário fazer uma interligação na rua Carlos David Oetterer de Almeida, ao lado do condomínio residencial Villa dos Inglezes, em um trecho bastante arborizado (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023))

Um grupo de moradores da zona oeste de Sorocaba pede à Prefeitura mudanças de trajeto nas obras de mobilidade do programa Sorocaba Tem Pressa. Segundo as queixas, para dar continuidade em um dos trechos do novo anel viário -- que promete oferecer uma rota alternativa, de forma mais direta e rápida, entre as zonas oeste, norte e central da cidade -- uma grande área de vegetação, localizada no bairro Chácaras Reunidas São Jorge, será desmatada, prejudicando a saúde dos moradores, as espécies que vivem na região e, ainda, causando transtornos aos motoristas, pois haverá um aumento no fluxo de veículos na área. Para a execução de alteração na rota, os munícipes fizeram um abaixo-assinado que conta com 5 mil assinaturas.

O Sorocaba Tem Pressa foi lançado em 2021 pela Prefeitura com o objetivo de agilizar às obras de mobilidade, em andamento, e iniciar novos empreendimentos viários. Ao todo, estão previstas mais de 30 obras de mobilidade urbana em todas as regiões da cidade.

Um das etapas é a interligação da avenida Adão Pereira de Camargo com as ruas Benedito Ferreira Telles (permitindo acesso à avenida General Carneiro) e avenida Miguel Patrício de Moraes (com acesso à avenida Santa Cruz) e contempla, ainda, uma ponte transpondo a avenida Dr. Américo Figueiredo, sobre a marginal do córrego Itanguá.

  - FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023)
(crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023))

No entanto, segundo a Associação de Amigos do Parque Residencial Villa dos Inglezes -- que representa os moradores -- o problema é que para chegar até a avenida Luis Mendes de Almeida, por meio da avenida Santa Cruz, será necessário fazer uma interligação na rua Carlos David Oetterer de Almeida, ao lado do condomínio residencial Villa dos Inglezes. De acordo com os munícipes, serão criadas seis faixas na via. Para isso, uma parte da área de mata precisará ser utilizada e muitas árvores retiradas do local.

“Nosso condomínio tem nascente de rio e aqui no bairro também tem várias nascentes. Estamos reivindicando que o anel viário Sorocaba Tem Pressa não passe aqui nessa região de mata para não desmatar as árvores nativas que nós temos aqui e os animais, que muitos são raros”, disse Denise Milena Serafim Vera, moradora do local há 15 anos.

Animais de diversas espécies já foram registrados por moradores do condomínio, como saguis, tatus e tucanos. Em um vídeo feito na noite de 21 de outubro, é possível ver um “mão pelada”, parente dos guaxinins, caminhando em direção a mata.

Além da preocupação com os animais, os moradores também estão apreensivos com a falta de qualidade de vida da população. “Toda a população é carente de um lugar assim, de uma reserva tão maravilhosa quanto essa. Eu não entendo, como eles podem dizer que têm as licenças, sendo que existem muitas nascentes de água aqui e essa nascente de água vai fazer muita falta futuramente. Se eles disserem que vão replantar as árvores, a nossa geração não vai ver essas árvores, porque elas serão replantadas, não serão salvas e queremos que eles salvem essa mata”, disse Silveli Pereira Franco, moradora do condomínio.

Outro problema seria o grande fluxo de veículos. Luciana Duarte Ramalho, também moradora do residencial, conta que cerca de 4 mil pessoas vivem no empreendimento, fora o número de prestadores de serviço que passam diariamente pelo trecho. Com isso, o tráfego é intenso. Com a interligação, os moradores terão mais dificuldade de deixar o imóvel. Luciana argumenta, ainda, que após o início das obras da região, já é possível constatar problemas no córrego Itanguá.

“São 4 mil pessoas que vão ficar ilhadas em uma possível enchente que é o que a gente já tem visto. Como essa obra vem margeando esse córrego, eu moro aqui há 17 anos e nunca tinha visto enchente, depois que essa obra começou, esse córrego já tem transbordado, porque já diminuiu a absorção da água ali para cima e a gente já está sofrendo com isso, enchendo na avenida Luis Mendes de Almeida, impedindo o trânsito de toda a região. Então, com certeza, com a retirada de mais mata, isso vai aumentar e priva 4 mil pessoas de entrar ou sair do condomínio”, observou.

Projeto prevê a construção de seis faixas na rua Carlos David Oetterer de Almeida  - FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023)
Projeto prevê a construção de seis faixas na rua Carlos David Oetterer de Almeida (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023))

Para solicitar o replanejamento do projeto nesse trecho, os moradores entraram em contato com o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), que teria informado à população que iria verificar a possibilidade de reverter a obra na região. No entanto, adiantou que o processo seria complexo, já que integra um financiamento internacional. Os moradores do condomínio disseram, também, que o pedido estaria em análise na Prefeitura.

Além disso, um requerimento foi aberto no Ministério Público. Os moradores pedem uma apuração “sobre a questão do impacto ambiental que a obra ocasionará na região”.

Novas rotas

O requerimento solicitando a alteração da rota foi protocolado na Prefeitura em 13 de julho de 2023. Além das reivindicações, os moradores apresentaram três opções de trajeto.

A primeira opção é a rua José Ricieri Orlandi com acesso à avenida Santa Cruz. Conforme os munícipes, por esse trecho, os moradores da zona norte terão acesso direto da avenida Santa Cruz à avenida Armando Pannunzio e rodovia Raposo Tavares.

A segunda opção é a rua José Ricieri Orlandi com acesso à Rua José Tótora, no Central Parque. Por esse trecho, os moradores da zona norte teriam acesso direto à rodovia Raposo Tavares. A terceira opção é um caminho pelo Jardim Bertanha. Os munícipes informam que por esse trecho, os moradores da zona norte terão acesso direto da rua Luis Schian à avenida Dr. Luiz Mendes de Almeida e rodovia Raposo Tavares.

Conforme os moradores, dessa forma, a área de mata não seria prejudicada e, ainda, poderia ser feito uma área de lazer ao ar livre na zona oeste, em meio a natureza. “A fauna e a flora são muito ricas e nós gostaríamos que essa área se transformasse em um parque e uma área de lazer para a população da zona oeste que é muito carente nisso, trazendo qualidade de vida e para termos esse desenvolvimento sustentável”, disse Denise.

Prefeitura diz que tem aprovações e mantém diálogo com moradores

Prefeitura garante que projeto tem o licenciamento da Cetesb e que fará parque Linear - FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023)
Prefeitura garante que projeto tem o licenciamento da Cetesb e que fará parque Linear (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/10/2023))

Por meio de nota, a Prefeitura declarou que a concepção do projeto da obra iniciou há aproximadamente 13 anos e passou por diversos estudos de viabilidade, ao ponto de se obter as aprovações necessárias para a sua aplicação e obtenção do financiamento.

Sobre a reivindicação dos moradores, informou que o município dialoga com representantes da Associação de Amigos do Loteamento Parque Residencial Villa dos Inglezes para buscar adequações à proposta original do projeto, da segunda etapa da marginal do Córrego Itanguá -- prevista para começar no primeiro bimestre de 2024 --, sendo que já houve mudanças importantes no projeto que continua em desenvolvimento e discussão. O objetivo é atender às demandas de todos os beneficiados e contribuir para uma grande melhoria em comum.

No momento, equipes do Poder Público avaliam sugestões feitas pelo grupo do residencial. Dentre os apontamentos feitos, um deles já foi atendido, com melhorias no desenho viário, para melhor acomodação do tráfego de veículos gerado pela única portaria que atende ao loteamento que, por sua vez, incidiria no acúmulo de carros nas imediações.

A versão do projeto da marginal, inclusive, é posterior à implantação do loteamento, cujo processo de concepção já especificava que a via margeando o residencial foi criada para servir de conexão com futuro sistema viário instalado na região, informou a Prefeitura.

Parque linear

A obra contempla, em toda a sua extensão, como ideia, a implantação de um Parque Linear, que permitirá a urbanização de áreas, até então, degradadas ao longo do trecho do córrego. “O parque linear propiciará melhoria paisagística e de interação com a natureza, além de práticas esportivas e recreativas. Haverá pista de skate no local, dentre outros equipamentos”, disse.

Conforme a Prefeitura, toda a intervenção, a exemplo do que foi executado na fase 1 da marginal, passa por acompanhamento e licenciamento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e de outros órgãos ambientais competentes. A obra permitirá a adequação das encostas do córrego, estruturando e promovendo a instalações de dispositivos dissipadores de velocidade do curso da água, resultando em benefícios em todo o entorno, de modo a melhorar o equilíbrio hidrológico.

Contemplará, ainda, a implantação de novo emissário de esgoto no local, além de substituir trechos daquele existente atualmente que se encontra limitado. O projeto prevê a construção de viário por onde já existe rua e em pontos onde será necessária a intervenção no bordo da mata, em sua maioria composto por espécies invasoras, como as leucenas, cuja vegetação não está mais íntegra.

As compensações ambientais são definidas pelos órgãos licenciadores, ao passo que o atual Plano Diretor também prevê esse tipo de empreendimento, o que viabilizou o financiamento da obra, aprovado por lei na Câmara Municipal e, posteriormente, pela esfera federal. (Vanessa Ferranti)

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