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Alerta

Golpes contra idosos aumentam mais de 88% em Sorocaba

De janeiro a setembro de 2023, foram 162 casos. Em 2022, no mesmo período, foram 86 denúncias pelo Disque 100

28 de Outubro de 2023 às 23:01
Vinicius Camargo [email protected]
Em algumas situações, o próprio idoso fornece seus dados pessoais aos fraudadores
Em algumas situações, o próprio idoso fornece seus dados pessoais aos fraudadores (Crédito: FEBRABAN)

As denúncias de golpes contra idosos aumentaram 88,37% em Sorocaba no acumulado de janeiro a setembro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. Nos sete primeiros meses deste ano, foram 162 casos, ante 86 em 2022 -- 76 a mais. O número parcial de 2023 supera, inclusive, o total dos 12 meses do ano anterior -- 126 (28,57%). Os dados são do Disque 100, canal de denúncias e proteção contra violações de direitos humanos vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH).

Os registros também cresceram em todo o País no período analisado, passando de 18.117 em 2022 para 32.934 (81,78%). Porém, o porcentual de alta registrado em Sorocaba supera o índice nacional. Em todo o ano passado, o Disque 100 recebeu 26.814 chamadas.

De acordo com a perita especializada em fraudes de assinaturas e documentos físicos e digitais Beatriz Catto, de 28 anos, há vários tipos de fraudes contra idosos. A mais comum é a do empréstimo consignado, que consiste na contratação de crédito no nome da vítima.

Para a prática desse crime, os falsários obtêm os dados dos seus “alvos” a partir do vazamento ou compra de informações. Em algumas situações, o próprio idoso fornece seus dados pessoais aos fraudadores, principalmente, por meio de mensagens eletrônica, com o SMS. “Nesses casos, a vítima recebe uma mensagem sobre uma compra em seu nome em determinada loja. O texto ainda informa que, para cancelá-la, é preciso clicar no link contido no suposto comunicado. Quando a pessoa segue ‘a instrução’, a fraude se consolida. Pode ser instalado um vírus no celular dela”, explicou Beatriz.

As falsas ligações de banco são outro recurso usado pelos criminosos. Há, também, aplicativos para celular capazes de fazer isso, a exemplo daqueles que mostram como o usuário ficaria mais velho ou se fosse do sexo oposto. “Quando você baixa esses aplicativos, permite que eles tenham acesso a várias informações dentro do seu telefone”, alertou a perita.

Às vezes, o golpe tem até mesmo a participação de funcionários de financeiras. Nessas situações, trabalhadores de empresas onde o idoso já contraiu empréstimo podem se aproveitar do fato de ter as informações dele e realizam novos consignados, provavelmente, para atingir metas. “Um indício disso é que, eventualmente, esse dinheiro que foi emprestado cai na conta da pessoa, só que não foi ela quem pediu”, afirmou.

Outros golpes

A lista de golpes frequentes inclui, igualmente, o do falso boleto, no qual a pessoa recebe, por e-mail, contas fakes de internet, energia, telefone, dentre outros. De acordo com Beatriz, as versões fictícias costumam ser semelhantes das originais.

O delegado Mario Luiz Ayres, de 49 anos, titular do 3º Distrito Policial de Sorocaba (DP), especializado em crimes contra o idoso, conta que mais um tipo recorrente de crime nessa modalidade é o do pedido de dinheiro pelo WhatsApp. Nele, o falsário se passa por algum conhecido da vítima e solicita valores para pagar contas urgentemente, se comprometendo a reembolsá-la em breve.

Na maioria das vezes, os criminosos costumam fingir ser os filhos das vítimas, devido ao grande afeto delas por esses familiares. “Uma coisa que percebemos é que o idoso tem essa afetividade com os seus (entes) queridos, e o estelionatário é uma pessoa de boa conversa, que sabe coletar informações sem o idoso perceber”, diz o delegado.

Os estelionatários também costumam pedir quantias em conformidade com a condição financeira da pessoa e solicitar as transferências via Pix. “Normalmente, são valores que não chamam tanto a atenção do idoso, a ponto que ele perceba que está sendo vítima de um golpe”, explicou o delegado. Normalmente, o idoso só percebe tratar-se de golpe quando as requisições tornam-se recorrentes.

Vítima duas vezes

Morador de Sorocaba, o aposentado Antônio Antunes Filho, de 60 anos, foi vítima do golpe do consignado duas vezes. Na primeira, descobriu a fraude após o golpista comprar em uma loja de Curitiba (PR), em seu nome. Na ocasião, conseguiu reverter o empréstimo porque o estabelecimento o contatou para confirmar se ele realmente havia feito a compra. “Como eu falei que não tinha comprado nada e que era golpe, o dinheiro saiu da conta e, na mesma hora, entrou de novo”, contou.

Por conta desse caso, Antunes Filho bloqueou, junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a contratação de empréstimos em seu nome, com desconto direto da aposentadoria. Posteriormente, precisou de dinheiro extra para comprar uma motocicleta e desbloqueou o serviço. Contudo, acabou esquecendo de suspendê-lo depois de receber o valor solicitado e caiu no golpe novamente.

Dessa vez, o valor foi de R$ 50 mil. Ele só percebeu o crime quando foi sacar o seu benefício. “Estava faltando mais de R$ 1 mil no meu pagamento”, disse. Ele constatou, com a ajuda de um funcionário do INSS, que o consignado havia sido feito em uma agência bancária da capital paulista. Com isso, abriu boletim de ocorrência e efetuou os trâmites indicados pelo banco para reaver a quantia já debitada de sua conta, assim como anular as parcelas em aberto. Por sorte, teve êxito. “Mesmo assim, o empréstimo ainda veio descontado mais dois meses, mas, depois, o banco me ressarciu e, daí, a quantia do meu benefício voltou ao normal”, contou.

Desde então, Antunes Filho mantém o serviço de empréstimos travado. Até hoje, ele não sabe como os criminosos conseguiram os seus dados.

Vítimas devem formalizar as denúncias

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Sorocaba também recebe denúncias de fraudes contra idosos. Ao contrário do Disque 100, o volume de casos comunicados ao órgão caiu de 215 entre janeiro e setembro de 2022 para 200 no mesmo período de 2023 (-6.97%). Em todo o ano passado, foram 347. A maioria refere-se ao golpe do empréstimo consignado.

As denúncias ao Disque 100 devem ser feitas para o respectivo número. Já ao Procon, pode ser acionado pelo WhatsApp (15) 99198-2958 ou pelo procon.sorocaba.sp.gov.br. Também é possível ir pessoalmente à sede do órgão municipal (av. Antônio Carlos Comitre, 331, Jardim Portal da Colina). O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h.

Há, também, postos nas Casas do Cidadão Ipanema (segunda a sexta, das 8h às 15h), Nogueira Padilha (terças e quintas, das 8h às 15h) e Pátio Cianê Shopping (piso 3, bloco B, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h). Os endereços das unidades estão disponíveis em https://bitlybr.com/eZfnK. Os crimes ainda podem comunicados em todas as delegacias da cidade. 

Criminosos induzem vítimas ao erro, diz perita

Beatriz Catto, perita especializada em fraudes de assinaturas e documentos físicos e digitais - ARQUIVO PESSOAL
Beatriz Catto, perita especializada em fraudes de assinaturas e documentos físicos e digitais (crédito: ARQUIVO PESSOAL)

A perita Beatriz Catto diz que os golpes contra idosos utilizam-se de um conceito chamado engenharia social, empregado no âmbito digital. Referente ao âmbito da segurança da informação, trata-se da manipulação psicológica de pessoas para induzi-las a executar ações ou a divulgar informações pessoais. “Ela se aproveita da ingenuidade das pessoas, da falta de informação e da possível distração”, disse Beatriz.

Por isso, de acordo com a especialista, a atenção é a principal forma de evitar cair em fraudes. Uma das principais dicas é não clicar em links desconhecidos enviados por quaisquer meios. Ela também aconselha que todos sempre acompanhem suas movimentações bancárias e tenham cuidado ao fornecer dados pessoais.

Beatriz ainda aconselha os usuários a não baixar aplicativos duvidosos e efetuar o download apenas de ferramentas disponíveis nas lojas oficiais dos celulares. Nesse sentido, orienta a não entregar o aparelho para desconhecidos em bancos, por exemplo.

Além, disso, a perita ressalta a importância de se observar todas as informações e detalhes de boletos recebidos por e-mail. Em caso de desconfiança, deve-se contatar a empresa, por meio de seus canais oficiais, e pedir ajuda apenas a pessoas confiáveis. As mesmas recomendações valem para ligações suspeitas. “Sempre desconfiar e estar alerta de que é preciso validar se aquilo é verdade ou não antes de tomar uma ação”, reforçou.

Golpe do WhatsApp

Em relação ao golpe do pedido de dinheiro via WhatsApp, se as mensagens vierem de número desconhecido, não se deve continuar a conversa, segundo o delegado Mário Luiz Ayres. A primeira atitude é tentar falar com quem suspostamente entrou em contato, pelo telefone habitual. “Percebeu um pedido diferente, independentemente do valor, certifique-se de que realmente é a pessoa”, frisou ele. Se não for possível contatá-la diretamente, Ayres orienta a ligar para o local de trabalho ou pessoas próximas, por exemplo.

Outra tática recomendada é perguntar coisas sobre as quais somente as duas partes sabem. “Por exemplo, no seu aniversário, o que vamos fazer?”, mencionou o delegado. (Vinicius Camargo)

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