De volta para casa
Grupo de Sorocaba que estava em Israel chega à cidade
Ao todo, dez pessoas desembarcaram no município, sendo que três são sorocabanas, enquanto as outras têm familiares ou amigos na cidade
Um grupo de dez pessoas que estavam em Israel chegou a Sorocaba na manhã desta quarta-feira (11). Os passageiros brasileiros desembarcaram no Aeroporto Estadual "Bertram Luiz Leupolz," localizado na Vila Santa Clara, por volta das 9h50. Três dessas pessoas são naturais de Sorocaba, enquanto os demais possuem laços familiares ou amizades na cidade. O território israelense enfrenta uma guerra desde sábado (7), quando foi invadido pelo movimento islâmico palestino Hamas, a partir da Faixa da Gaza.
Ao todo, foram sete dias completos em Jerusalém. O grupo de 11 pessoas estava na capital de Israel desde terça-feira (3) e voltou para o Brasil no primeiro voo da Força Aérea Brasileira (FAB) enviado à Terra Santa, como é chamada, para resgatar brasileiros. A aeronave decolou do aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, às 14h12 (horário de Brasília) de terça-feira (10), com 211 passageiros a bordo. O pouso ocorreu em Brasília, por volta das 4h de quarta (11).
Na capital federal, dez das 11 pessoas do grupo embarcaram em um voo fretado cedido gratuitamente à Prefeitura de Sorocaba pela empresa NHR Táxi Aéreo, com destino ao município. O prefeito Rodrigo Manga foi até Brasília e acompanhou a viagem de retorno. Já um dos passageiros saiu do Distrito Federal e foi direto para São Paulo.
O casal Sandra Balbi, de 57 anos, e Pedro Francisco de Assis, de 53 anos, são de São Paulo mas viajaram com o grupo de Sorocaba. Ao descer da aeronave, ambos ficaram emocionados com as demonstrações de carinho que receberam. “Esse calor só o brasileiro sabe dar. Eles foram prestativos, mas esse amor é só do Brasil, o sorriso é só do Brasil, e sentimos isso quando nos trouxeram para cá, não esqueceram a gente”, disse o casal.
Já a médica sorocabana Mara Cleide Andrade Rodrigues contou, aliviada, como foram os momentos de tensão que viveu no território israelense. “Aqui no Brasil não estamos acostumados com esse tipo de situação e até Israel se surpreendeu -- as autoridades e o povo -- porque foi um ataque surpresa do Hamas. Quando soavam as sirenes, você tinha que sair correndo de onde estava para ir para o bunker e não sabia quanto tempo teria que ficar lá. É realmente tenso”, declarou.
O grupo de Sorocaba que estava na capital Jerusalém retornaria ao Brasil na segunda-feira (9), no entanto, ficaram "presos" no país depois que o voo foi suspenso. Segundo os cristãos, os primeiros mísseis foram lançados quando eles ainda estavam no hotel, tomando café. Com isso, precisaram correr do lobby para o bunker da hospedagem. Cerca de 30 minutos depois, a situação parecia ter se acalmado e todos os hóspedes foram liberados. Dessa forma, os turistas seguiram para o passeio programado e, ao chegar na Basílica do Santo Sepulcro, onde fica o túmulo de Jesus Cristo, novos bombardeios começaram.
Com auxílio de um conhecido, o grupo se dirigiu a um abrigo do próprio ponto turístico. Depois que as incursões pararam, os turistas receberam instruções para voltar aos seus hotéis e permanecer nas instalações.
Quem também estava na viagem é Eliana Mota Antônio da Silva, de 56 anos. Ao desembarcar em Sorocaba, a pastora reencontrou a família e relatou que Jerusalém estava com as ruas em festa quando os bombardeios começaram. “Tivemos o primeiro bombardeio na madrugada, 6h30 do sábado (7). Acordamos indo para o bunker, depois, no café da manhã, outro bombardeio só que a cidade e as pessoas do hotel também não esperavam que fosse guerra”, comentou.
Eliane conta, ainda, que após o passeio, na volta para o hotel, viveu episódios de pânico. “No caminho, antes de chegarmos no hotel, viramos a esquina e outro bombardeio. O hotel já estava em polvorosa. Eles nos colocaram novamente no bunker e foi anunciado que Israel estava em guerra. Assim, nós começamos a chamar o Brasil para que nos trouxesse de volta”.
Momentos de angústia também foram vividos por quem aguardava notícias aqui no País. “Desde o momento que ficamos sabendo do ataque em Israel foi uma loucura. Conseguíamos bastante contato com eles no começo, mas quando os ataques se identificaram perdemos algumas vezes os contatos, eles iam para os bunkers e era desesperador, foi muito difícil para nós que estávamos a 10 mil quilômetros de distância”, declarou Nicole Barbosa, filha de Eliane.
Quem também foi recebido pelo filho no aeroporto foi Romeu Barbosa da Silva Júnior. O pastor de 64 anos é diabético e, além da preocupação com o conflito, estava apreensivo com a sua saúde, pois os remédios poderiam acabar. “Começamos a cortar pela metade os medicamentos para que pudéssemos ter em um período maior e estávamos buscando apoio para adquirir essa insulina e ir atrás de um plano B, mas graças a Deus não precisou”, relatou.
Apesar do alívio de voltar para casa, o grupo também se mostrou preocupado por quem ainda contínua no país. “Vemos que outros países esqueceram as pessoas. Tem uma turma que está lá e não sabia para onde ir. Um pessoal da Itália que conhecemos ia embarcar no sábado, eles pedindo pelo amor de Deus para o governo ajudar, com recém-nascido, e ninguém foi. Isso foi crueldade”, salientaram Sandra e Pedro. “Já nós, a partir do momento que entramos em contato com a embaixada, fizeram os nossos cadastros, e recebemos carinho e respeito. O prefeito Rodrigo Manga também agilizou e conseguimos ver um grande apoio” enfatizou o casal.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a segunda aeronave KC-30 (Airbus A330 200) decolou de Tel Aviv, Israel, às 12h30 (horário de Brasília) de quarta-feira (11), com 214 brasileiros a bordo, resgatados após os conflitos recentes, sendo dois deles sorocabanos. Neste voo, pela primeira vez, ocorre também o transporte de animais, sendo um cachorro e três gatos. O voo terá duração prevista de 14 horas, com previsão de chegada no Posto CAN da Base Aérea do Galeão (BAGL), no Rio de Janeiro (RJ), às 3h desta quinta-feira (12). A repatriação faz parte da Operação Voltando em Paz, deflagrada pelo Governo Federal.
Ajuda Humanitária
Na cidade de Sorocaba, uma Comissão Municipal foi criada para tratar da ajuda humanitária às vítimas dos ataques terroristas a Israel. Na ocasião, houve a publicação de um decreto assinado pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). Segundo o Executivo, a comissão foi criada com o intuito de socorrer os sorocabanos e seus familiares que vivem naquele país ou em outro lugar na região da Palestina com necessidade de auxílio e articulação política para retornar ao Brasil.
De acordo com a Prefeitura, 17 pessoas solicitaram ajuda à Comissão e todos conseguiram deixar Israel. Além dos 11 que retornaram ontem, um casal está a caminho da residência após embarcar no segundo voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que decolou de Tel Aviv às 12h30 (horário de Brasília) de quarta-feira (11). Já as outras quatro pessoas saíram do País por meio de voos comerciais.
Para o prefeito Rodrigo Manga, a iniciativa, formada por secretárias municipais e pelo Centro de Aceleração Desenvolvimento e Inovação (Cadi), é uma conquista para a cidade. “Foi um conjunto de ações, que deu certo, Sorocaba deu um exemplo nessa ação humanitária, ajudando nossa população sorocabana e outras pessoas que foram ajudadas". (Vanessa Ferranti e Vinicius Camargo)
Galeria
Confira a galeria de fotos