Sorocaba
O drama dos sorocabanos ‘presos’ em Israel
Com os voos de retorno ao Brasil suspensos, turistas "economizam" remédios e temem ficar sem dinheiro
“Neste momento, vemos o quanto é importante estarmos com a família, com os amigos. Nada no mundo substitui esse sentimento de estar junto com quem amamos”. A declaração é da médica sorocabana Mara Gleide Andrade Rodrigues, de 58 anos, e demonstra a sua ansiedade para conseguir sair de Israel e retornar ao Brasil. O Cruzeiro do Sul conversou com ela e outros dois sorocabanos que enfrentam dificuldades para deixar o país do Oriente Médio. O território isralense enfrenta um caos desde sábado (7), quando foi invadido pelo movimento islâmico palestino Hamas, a partir da Faixa da Gaza.
A pastora Mirian Duarte da Silva, de 66 anos, está na Terra Santa desde a terça-feira passada (3), em uma viagem de férias, com um grupo de 11 pessoas. Hospedada em um hotel de Jerusalém, capital daquele país, ela acompanha o conflito desde o início. “No sábado, por volta das 7h, nós estávamos tomando café e sairíamos às 8h para conhecer o túmulo de Jesus, mas teve o primeiro ataque com mísseis, e nós precisamos correr do lobby do hotel para o bunker”, relatou. “Nunca tínhamos passado por isso, ficamos muito apavorados”.
Segundo Mirian, cerca de 30 minutos depois, a situação pareceu ter se acalmado e todos os hóspedes foram liberados. Com isso, ela e o marido, o também pastor Romeu Barbosa da Silva Júnior, de 64 anos, decidiram seguir para o passeio programado. Porém, quando chegaram à Basílica do Santo Sepulcro, onde fica o túmulo de Jesus Cristo, os bombardeios recomeçaram. “No estacionamento, nós vimos várias pessoas correndo e, no alto, os mísseis sendo interceptados”, contou.
Diante desse cenário, o casal se dirigiu a um abrigo do próprio ponto turístico. De acordo com a sorocabana, durante o período em que ela e o esposo permaneceram no local, houve mais dois ataques. Após as investidas cessarem, os turistas puderam deixar o lugar, tendo sido orientados a retornar para os seus hotéis e não sair mais.
Mirian e Silva Júnior seguem a recomendação e permanecem na sua hospedagem desde então, devido, sobretudo, aos disparos contínuos e frequentes de mísseis. “Já é a terceira vez que a gente desceu para o bunker só hoje (ontem, dia 9)”, disse a turista. De acordo com ela, a cidade está vazia, com apenas militares e policiais nas ruas. As aulas foram suspensas e o setor de restaurantes, por exemplo, está praticamente paralisado, conforme observou. “É um estado de guerra, mesmo”, resumiu.
Remédio acabando
Além da apreensão por conta do conflito, o casal também lida com a incerteza de não saber quando conseguirá voltar para o Brasil. O voo estava previsto para ontem (9), mas foi cancelado pela companha aérea e remarcado para quinta-feira (12). “Mas nada certo”, ressaltou. “Pelo que a gente está vendo, as companhias não estão querendo entrar com aviões aqui”.
Por questões de saúde, Silva Júnior está ainda mais preocupado com a situação. Diabético, tem pouco estoque de insulina e precisa voltar para casa o mais rapidamente possível. “Eu acho que o limite é até quinta-feira”, comentou. Angustiado, decidiu buscar alternativa e solicitou, por intermédio de uma comissão da Prefeitura de Sorocaba, o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE), a fim de tentar embarcar em um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) que forem enviados para resgatar brasileiros.
Companheira de viagem do casal, Mara Gleide Andrade Rodrigues compartilha da mesma agonia. Diabética e hipertensa, ela, igualmente, teme pelo fim da reserva dos medicamentos usados no tratamento das doenças crônicas. Por isso, adotou medidas para tentar evitar o esgotamento dos remédios. Por exemplo, eu tomei os meus remédios ontem (domingo, dia 8) mas não tomei hoje (ontem, dia 9), para poder estender um pouco mais a durabilidade dos remédios que eu tenho, até poder voltar para o Brasil”, explicou.
Mara ainda teme que os seus recursos financeiros acabem, pois levou uma quantia específica para os sete dias de passeio previstos inicialmente. “Eu fico pensando em como faria para estender mais as diárias (do hotel) e para comer”, desabafou.
Prefeitura cria comissão
A Prefeitura de Sorocaba anunciou, no sábado (7), a criação de uma Comissão Municipal para tratar da ajuda humanitária às vítimas dos ataques terroristas a Israel. Na ocasião, houve a publicação de um decreto assinado pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos).
Segundo o Executivo, a comissão tem como objetivo socorrer os sorocabanos e seus familiares que vivem naquele país ou em outro lugar na região da Palestina com necessidade de auxílio e articulação política para retornar ao Brasil. É formada pelos secretários Jurídico, Douglas Domingos de Moraes; de Relações Institucionais e Metropolitanas, Luiz Henrique Galvão; da Cidadania, Clayton Lustosa, de Governo, Samyra Toledo, de Administração, Luciana Mendes da Fonseca; e pela superintendente do Centro de Aceleração Desenvolvimento e Inovação (Cadi), Jéssica Pedrosa. Até o fechamento desta edição, a municipalidade havia recebido pedidos de auxílio de 15 sorocabanos, sendo 11 do grupo integrado por Mirian Silva, Romeu Júnior e Mara Rodrigues.
Ainda de acordo com o Poder Público, a comissão vai levantar informações e realizar estudos com o objetivo de definir os requisitos necessários para acolhimento dessas pessoas; articular, junto aos órgãos federais competentes, as medidas, ações, instrumentos e recursos necessários à efetivação da ajuda humanitária às vítimas; atuar, junto ao Fundo Social de Solidariedade (FSS), na implementação de ações de mobilização social para recebimento de doações de gêneros alimentícios, itens de higiene e apoio comunitário; e articular, junto à sociedade, no levantamento de apoio para fins de execução das medidas.
Para solicitar o apoio da comissão, é preciso entrar em contato com a Secretaria da Cidadania (Secid), pelo telefone (15) 99119-9847.
Prefeito de cidade-irmã de Sorocaba morre durante os ataques
O Centro Cultural Brasil-Israel confirmou a morte de Ofir Liebstein, chefe do Conselho Regional (cargo equivalente ao de prefeito, no Brasil) da cidade-irmã de Sorocaba, Sha’ar HaNegev, Ofir Liebstein, durante a invasão do Hamas. O político foi assassinado no sábado (7). “Ele estava tentando defender a sua família e outras pessoas”, informou Vanderlei Martinez, de 52 anos, presidente da entidade.
Segundo Martinez, vários outros cidadãos foram mortos e sequestrados em Sha’ar HaNegev, localizada a cerca de três quilômetros da Faixa de Gaza, de onde partem os ataques ao território israelense coordenados pelo Hamas.
Ainda de acordo com Martinez, o Conselho Regional de Sha’ar HaNegev também está acompanhando a situação dos sorocabanos que vivem na Terra Santa. (Vinicius Camargo)
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