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Sorocaba

Campanha incentiva a doação de órgãos

Setembro Verde tem palestras de especialistas e testemunhos de pessoas impactadas com a causa

27 de Setembro de 2023 às 23:01
Beatriz Falcão [email protected]
Enfermeira Camila Valério falou do dia a dia de quem está na fila de espera para transplante, como o marido dela, o empresário Eric Moreno
Enfermeira Camila Valério falou do dia a dia de quem está na fila de espera para transplante, como o marido dela, o empresário Eric Moreno (Crédito: BEATRIZ FALCÃO (27/9/2023))

 

Órgãos como coração, pulmão, fígado, rim e pâncreas são vitais para a sobrevivência humana. Quando esses órgãos não funcionam adequadamente, a única esperança para muitos pacientes é encontrar um doador compatível. O Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorado ontem (27), nos lembra a importância de conscientizar a população sobre esse gesto de solidariedade.

Em alusão à data, o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) de Sorocaba realizaram, na manhã de ontem, um encontro para incentivar a doação de órgãos com palestras de profissionais da área e com testemunho de pessoas que tiveram as suas vidas impactadas com a causa.

Camila Valério Gabriel, esposa do empresário Eric Moreno que, em julho deste ano, contou a sua história ao Cruzeiro do Sul, acompanha o dia a dia de uma pessoa na fila de espera para um transplante de coração. “Estar desse lado, aguardando um sim, e sabendo que se não chegar a tempo, infelizmente, o pior acontece, é muito dolorido”, contou Camila. “Porque ao mesmo tempo que eu preciso ser sincera com ele, eu também tenho que passar (informação) de uma forma que gere esperança”.

Eric tem 47 anos e está internado há oito meses no Instituto do Coração (Incor). O primeiro susto aconteceu em agosto de 2022, após um infarto. O empresário foi diagnosticado com miocardite, uma inflamação na parede média do coração. Depois de uma série de complicações, devido ao ataque cardíaco, foi constatada a necessidade do transplante.

Durante seu testemunho, Camila relatou que nunca passou por sua cabeça essa situação e estava completamente despreparada, apesar de ter atuado como enfermeira até o dia da internação do companheiro. “Não é como uma cirurgia, que sabemos as consequências e podemos nos preparar para aquilo. Eu precisei aprender a lidar com isso, entender a gravidade, saber que o pior pode acontecer. Mas eu não posso transparecer isso para ele, eu preciso ser forte”, explicou ela.

Atualmente, Eric está em primeiro lugar da fila de prioridade, com apenas 20% do coração funcionando e sendo auxiliado por um balão intra-aórtico - coração artificial. Para Camila, a chave principal e que dá forças para enfrentar essa situação é a esperança. “Nós, que trabalhamos na área, sabemos que, se a pessoa que está ali não tem esperança no tratamento dela, não dá certo. Nós precisamos acreditar que tem uma solução e que Deus vai nos dar a saúde novamente”, ressaltou Camila.

Campanha de doação

O mês de setembro, em especial, é dedicado à conscientização e ao incentivo à doação de órgãos, por meio da campanha do Setembro Verde. O assunto ganhou ainda mais notoriedade no último mês, após o caso do apresentador Fausto Silva. Faustão, de 73 anos, foi internado em 5 de agosto, no Hospital Albert Einstein. O transplante cardíaco ocorreu no dia 27 do mesmo mês.

A situação vivida pelo Faustão chamou a atenção da mídia e também da população. Com isso, entre 20 e 26 de agosto, foram contabilizados 28 novos doadores em São Paulo, um aumento de 86% em relação aos 15 doadores registrados na mesma semana de 2022.

A doação de órgãos desempenha um papel crucial no tratamento de doenças crônicas e condições médicas que podem afetar gravemente a saúde e a qualidade de vida de uma pessoa. Atualmente, no Estado de São Paulo, mais de 21,1 mil pacientes estão na fila de espera, e o “sim” de um doador pode salvar até dez vidas.

Assim como a família de Faustão, Eric Moreno também incentiva a população sobre a doação de órgãos. Em entrevista ao Cruzeiro do Sul veiculada no início de setembro, o morador de Sorocaba contou que conversou com o seu amigo, Jefferson Lunardon Ruiz, empresário do ramo de uniformes, e solicitou 50 camisetas com a estampa “Sou Doador Seja você também”. O pedido logo se transformou em uma doação por parte do colega, e as roupas foram distribuídas no Incor.

A ação comoveu a população e já ultrapassou as barreiras do hospital. Atualmente, existe um grupo com a participação de 250 empresários que abraçou a causa e confeccionou mais de mil camisetas. Além das roupas, outras atividades são realizadas para incentivar a doação de órgãos, como a instalação de outdoors e a divulgação da campanha em veículos de comunicação.

“Se a gente conseguir criar uma sementinha em cada coração sobre a importância de ser doador de órgãos, acho que o mundo será muito diferente daqui para a frente. Essa campanha não é especificamente para o Eric, porque eu acredito que ele já está preste a receber um coração, mas a campanha também visa o futuro, para conseguir aumentar o número de doações”, finalizou Camila.

Transplantes de coração aumentaram 8%

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) registrou, entre janeiro e agosto deste ano, um aumento de 8% no número de transplantes de coração realizados em comparação com o mesmo período de 2022. Foram 97 procedimentos contra 90 no ano passado, o maior alcance dos últimos seis anos. O número de doadores também cresceu e atingiu níveis equivalentes aos anos anteriores ao início da pandemia de Covid-19.

O tempo de espera por um transplante é variável e depende da disponibilidade do órgão que será transplantado. Em média, um coração é disponibilizado para potenciais receptores do grupo sanguíneo B em um período de um a três meses. A distribuição dos órgãos dos doadores segue critérios técnicos definidos por lei, como tipagem sanguínea, compatibilidade de peso, altura e genética, assim como risco iminente de morte de quem espera pelo procedimento. (Beatriz Falcão - programa de estágio)