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UPH Zona Leste

Mulher denuncia agressão em unidade de saúde de Sorocaba

Em dois meses, três casos foram registrados; Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo pede que medidas de segurança sejam adotadas

25 de Setembro de 2023 às 13:26
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Segundo a munícipe, paciente agrediu ela e uma médica da UPH Zona Leste
Segundo a munícipe, paciente agrediu ela e uma médica da UPH Zona Leste (Crédito: Arquivo pessoal)

Mais um caso de agressão dentro de unidade de saúde foi registrado em Sorocaba. O caso ocorreu neste sábado (23), na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da zona leste. A munícipe Michelle Kathleen, de 26 anos, afirma que ela e uma médica foram agredidas por outro paciente, menor de 18 anos, e pela mãe do paciente. Imagens enviadas por ela mostram o olho roxo e a boca cortada, devido ao soco que o adolescente desferiu contra ela. "Estou com um olho machucado, minha boca interna e o nariz também. Minha mão está luxada e o cotovelo também. Fora o emocional que está abalado né".

Segundo ela, tudo começou quando o paciente, acompanhado de sua mãe, saiu descontrolado da sala de atendimento médico e passou a insultar a médica e outros pacientes que estavam na unidade de saúde. Em seguida, ele partiu para cima da médica. "Ele entrou na sala, pegou uma caneta e foi para cima da profissional de saúde. Uma pessoa abriu a porta da sala e eu fui ver o que estava acontecendo, como não tinha ninguém para ajudar a médica e como a mãe dele não estava fazendo nada, tentei imobilizar ele por trás, e consegui", conta.

Ainda de acordo com a munícipe, outros médicos apareceram e tiraram a caneta do adolescente. Depois, ele ficou sozinho novamente com a médica que havia tentado agredir. Foi quando novos gritos surgiram de dentro da sala. Mais uma vez, a munícipe tentou ajudar a médica, que conforme relatado, estava gritando.

"Quando escutei os gritos da médica, entrei na sala de novo. Mas, dessa vez, ele me viu e veio para cima de mim sem que eu esperasse por isso. Ele me deu socos e chutes e eu revidei para me defender e dei um soco nele também. Nesse momento, a mãe dele veio para cima de mim e começou a me bater também. Eu não esperava que a mãe dele fosse me bater. Ele começou a tentar bater em todas as pessoas que estavam lá e só depois a Guarda Civil Municipal (GCM) chegou. A GCM ouviu a minha versão e a dele. Os dois foram liberados e eu fiquei lá aguardando o atendimento", disse.

A munícipe, que estava buscando atendimento para broncopneumonia na unidade de saúde, afirma que não havia segurança na UPH. "Não tinha nenhum segurança, em nenhum momento, desde quando o menino começou a se descontrolar. Também não tive apoio algum da UPH. Nenhum coordenador da unidade veio falar comigo. Só trataram a minha broncopneumonia e me deram alta".

Ela conta que chamou a mãe para ajuda-la, mas que a mesma foi impedida pelos GCMs de entrar. "Minha mãe chegou a ir até a UPH me ajudar, mas não queriam deixar ela entrar. A mãe do menino disse que bateram no filho dela, mas os enfermeiros e médicos viram o que aconteceu. Falta segurança nas unidades de saúde, não tinha ninguém lá. Minha mãe gravou um áudio da médica falando que se não fosse eu ter ajudado, ela poderia ter morrido".

Agora, ela afirma que vai procurar um advogado e processar a gestão da UPH por danos morais. Neste domingo (24), ela registrou um boletim de ocorrência online e esteve na delegacia nesta segunda (25). "Saí de lá (UPH) como se eu tivesse sido a errada da situação. Como que uma pessoa entra na unidade de saúde pra ser cuidada e sai pior?".

Procurado pela reportagem, o  Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou receber a notícia com indignação e lamenta profundamente que mais um caso de agressão ocorreu na unidade citada: "Até o momento, nenhuma providência foi tomada pelas autoridades locais para que outros casos não aconteçam mais. O Conselho não tolera nenhuma agressão ou assédio aos profissionais que realizam o seu trabalho e exige que, urgentemente, a segurança no local seja reforçada. Recentemente, em virtude de outro acontecimento, o Conselho oficiou a Prefeitura local para pleitear que a Guarda Civil Metropolitana faça a segurança da Unidade. A Autarquia defende que todo médico precisa de condições favoráveis para praticar a boa Medicina e, portanto, luta pelo fim da violência".

Em nota, a Prefeitura de Sorocaba disse que o paciente de 16 anos, acompanhado da mãe, foi prontamente atendido pela médica, que prescreveu a medicação e a solicitação de internação. Com o pedido, o jovem apresentou sintomas de surto e tentou agredir a médica. 

"Na sequência, a mãe do adolescente desferiu um soco na paciente. A Guarda Civil Municipal (GCM), que fazia ronda nas imediações, foi imediatamente à unidade. Ouviu todas as partes, as quais também prestaram depoimento no plantão policial", finalizou a nota. 

Outros casos

Nos últimos meses, outros dois casos de agressão a funcionários de unidades de saúde de Sorocaba chamaram a atenção e fizeram com que o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) oficializasse a Prefeitura Municipal de Sorocaba para que medidas de segurança sejam adotadas. A questão da falta de segurança nas unidades de saúde está na pauta da Oficina de Regionalização, que será realizada pelo Departamento Regional de Saúde de Sorocaba na próxima quarta-feira (27), às 8h, no Sorocaba Park Hotel.

Um dos casos de agressão em unidades de saúde ocorreu em 26 de julho, quando um munícipe de 36 anos foi detido pela Guarda Civil Municipal (GCM), após desferir golpes no balcão da UBS Vila Haro, na zona leste da cidade, e atingir dois profissionais da unidade. Segundo a Secretaria da Saúde (SES), o homem tinha uma consulta médica agendada na unidade e aguardava para ser chamado, quando entendeu, equivocadamente, que as senhas que estavam sendo retiradas pelas pessoas que chegavam à unidade para a realização de outros atendimentos ou procedimentos postergariam o seu chamamento.

Já o outro aconteceu em 4 de setembro, quando um acompanhante de uma paciente, de 42 anos, foi detido pela GCM depois de agredir uma médica e um funcionário da UPH Oeste, localizada na avenida General Carneiro. De acordo com o registro da câmera de segurança da unidade de saúde, o acompanhante da paciente agrediu o controlador de acesso da unidade e foi até a sala de uma médica, onde desferiu um soco no rosto e um chute na perna da profissional, deixando-a com ferimentos.

Quatro dias após o ocorrido na UPH Oeste, o Cremesp deu suporte à médica e ao outro funcionário e realizou uma fiscalização na UPH, visando coibir que casos como este ocorram novamente. “Não vamos aceitar essa violência descabida contra médicos que estão em seus postos de trabalho para fazer o melhor, mas que, lamentavelmente, enfrentam situações adversas e até violência física e emocional”, disse Irene Abramovich, presidente do Cremesp. Na ocasião foram discutidas também questões sobre segurança.(Virgínia Kleinhappel Valio)