Você já chegou a dizer que alguém tem “bafo de onça”? Embora essa expressão popular e outras, como “mau hálito” ou só “bafo”, sejam pejorativos comumente usados, o nome correto dessa infecção bucal é halitose. Hoje (22), é celebrado o Dia Nacional de Combate à Halitose. E, para esclarecer as dúvidas e dar recomendações sobre essa condição -- que pode ser apenas um indicativo de problemas mais sérios -- o Cruzeiro do Sul entrevistou o cirurgião dentista Luiz Lima. Para começar, ele ressalta que a principal causa do mau hálito é a respiração pela boca.

“Há outras causas também, que incluem não escovar os dentes, não usar fio dental e inflamações no sistema respiratório, como rinite e bronquite. Mas, a síndrome do respirador bucal é a principal”, comentou o especialista. Ele explica que as pessoas que respiram pela boca convivem com essa complicação, em geral, desde a infância. E a causa disso é a falta de amamentação da criança e o consequente uso de bicos, como chupetas e mamadeiras -- que, segundo Lima, é um “crime” contra a saúde do bebê. “Durante a amamentação é que a criança aprende a respirar pelo nariz. Algumas mães introduzem chupeta na boca da criança, e chupeta é um crime. Porque, quando a criança abocanha o seio, com a língua, ela comprime o mamilo da mãe contra o céu da boca. Ao comprimir o peito da mãe no palato, a língua já fica na posição de descanso correta. Já a chupeta faz com que a língua fique embaixo”, explicou.

Pessoas com problemas gastrointestinais também podem desenvolver mau hálito, no entanto, de acordo com Lima, esses casos não chegam a 8% na estatística: a maioria mesmo ocorre por respirar pela boca. “Tenho 240 clientes, todos com problema de respiração bucal, que fazem consultas uma vez ao mês”, disse, demonstrando que, ao não respirar adequadamente pelo nariz por anos, o céu da boca do paciente fica estreito e profundo, fazendo com que a língua não caiba no palato.

“Isso faz com que a pessoa engula errado. E isso pode causar falta de concentração, mau desempenho na escola, apnéia do sono, ronco, sinusite, rinite e outros problemas respiratórios. Isso interfere até no crescimento da criança, além de afetar a autoestima. E o mau hálito é só um dos indicativos de que a pessoa está com problemas de saúde seríssimos”, afirmou.

Como tratar

O tratamento é feito com aparelhos removíveis, cujo foco não é só cuidar do dente, mas também da postura da língua, para que a pessoa respire e engula do jeito certo. “Quando você engole, a sua língua deve ir atrás dos dentes centrais superiores (os “dentes da frente”). Esse é o jeito correto. E o lugar correto em que a língua descansa é no céu da boca, vedando automaticamente os lábios”, disse.

Já o tempo de tratamento varia. Em crianças, o ajuste pode ser feito em dois anos. Mas, em adultos, pode demorar mais, por conta da estrutura óssea da face já estar totalmente formada. “Se você é uma criança com quatro anos de idade, você está com os ossos em crescimento. Por isso, em dois anos resolve. Agora, para um jovem adulto demoraria seis ou oito anos, porque não se pode fazer a movimentação do osso com rapidez, precisa ser bem devagar pois o osso já está duro e formado”.

Um cirurgião dentista é o profissional adequado para realizar o tratamento. Fonoaudiólogos também podem auxiliar no processo, tratando dos tecidos moles da face. “Psicólogo pode ser importante, porque as crianças com esse problema tendem a ser hiperativas, mais agitadas. Mas, a causa mesmo do problema é a deglutição atípica, que precisa ser tratada por um cirurgião dentista”, reiterou Lima.

E a higiene?

Escovar os dentes e passar fio dental é de suma importância. Além disso, Lima enfatiza que a língua também deve ser higienizada para remover a chamada saburra bucal. Em pessoas que respiram pela boca, inclusive, a saburra se forma com mais facilidade, pois as impurezas do ar vão deixar a língua manchada. “A própria escova de dente é suficiente para fazer a remoção das impurezas da língua. Você deve projetar a língua para fora, deixando ela dura, e limpá-la do fundo para a frente com a escova na posição horizontal”, ensinou.

Enxaguantes bucais também são úteis para amenizar o mau hálito, no entanto Lima adverte que estes podem ser “enganadores”. “O enxaguante bucal é útil, desde que indicado por um profissional. Ele auxilia na limpeza, entretanto, se você não higieniza sua boca corretamente, ele te engana, porque ele só melhora o hálito, mas não limpa a boca”, explicou. (Luís Pio - programa de estágio)