Um homem de 40 anos foi preso na últimasegunda-feira (18) em Sorocaba por tentativa de feminicídio. Ele é o principal suspeito de atear fogo em uma mulher de 46 anos, com quem mantinha um relacionamento há cerca de seis meses. O caso ocorreu em 26 de agosto, no Jardim J S Carvalho, zona norte da cidade. À época, o crime chegou à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) como tentativa de suicídio, hipótese que foi descartada após investigações da Polícia Civil. De acordo com a polícia, o homem não aceitava o término do relacionamento.

O que chamou a atenção da delegada titular da DDM, Alessandra Reis dos Santos Silveira foi o fato de não ser comum uma mulher tentar suicídio ateando fogo no próprio corpo. Durante as investigações, chegou ao conhecimento da delegada que a vítima estava tentando romper o relacionamento com o homem, mas ele não aceitava o término. Houve também relatos de ameaças à vítima, inclusive, no dia da tentativa de feminicídio. "Testemunhas relataram que ele não aceitava um não de uma mulher, então a vítima estava há um tempo tentando romper o relacionamento e não conseguia por conta das ameaças", comenta a delegada.

No dia do fato, o indivíduo teria ameaçado a vítima com uma faca e foi retirado da casa. Pouco tempo depois do homem sair da casa, a filha da vítima, -- de 11 anos -- se deparou com o corpo da mãe em chamas, dentro da residência. Nesse momento, o homem estava ao lado da vítimae alegou que a mesma havia ateado fogo no próprio corpo. "Toda a cena não condiz com as declarações dele. Foi efetuada uma perícia no local e estamos aguardando o laudo. O que foi apurado até agora e os indícios que nós temos é que se trata de uma tentativa de feminicídio e não suicídio", explica Alessandra.

Segundo a Polícia Civil, o homem possui antecedentes criminais e já cumpriu pena pelos crimes de roubo, furto, sequestro e tráfico de drogas. A vítima permanece internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), onde passou por uma cirurgia e deve passar por outra na próxima semana. Ela teve queimaduras graves por todo o corpo, principalmente da cintura para cima. "Com certeza, ela se recuperando, vai restar sequelas", lamenta a delegada.

Com a prisão temporária do homem decretada, a delegada vai agora ouvir outras testemunhas e até mesmo a vítima, que ainda não se encontra em condições de relatar com detalhes como os fatos ocorreram.Serão 30 dias para a conclusão do inquérito e, em seguida, se confirmado todos os dados, ele será indiciado e haverá o pedido de conversão da prisão temporária em preventiva.

Inicialmente, o homem responderá por tentativa de feminicídio. "Nós torcemos para que a vítima se recupere. Se ela não resistir, ele passa a responder pelo crime de feminicídio com agravante do emprego de fogo, para esse crime a pena é de 12 a 30 anos de prisão".

De acordo com a delegada, a vítima não tinha conhecimento das passagens criminais do parceiro quando iniciou o relacionamento: "É o que acontece com quase todas as vítimas. Elas se envolvem com o companheiro e, posteriormente, acabam descobrindo o passado dele.Neste caso, ela soube depois, tanto é que tinha medo de romper pela situação de periculosidade dele".

A filha da vítima, que presenciou o ato criminoso contra a própria mãe, foi encaminhada para a Escuta Especializada, através do Sistema de Garantia de Direitos e, em seguida, entregue ao pai. "Ela terá todo o acompanhamento para lidar com essa situação que presenciou", afirma a delegada.

A delegada pede que as mulheres fiquem atentas e se orientem nos primeiros sinais de violência, colocando um fim no relacionamento e procurando a Delegacia de Defesa da Mulher ou a delegacia mais próxima. O boletim de ocorrência pode ser registrado também pela Delegacia de Defesa da Mulher Online, pelo próprio celular.

"Um alerta para as mulheres é que todo início de relacionamento é uma lua de mel. No começo o agressor se mostra carinhoso, atencioso e educado, então orientamos que a mulher tenha cautela. Ao iniciar um relacionamento, é importante conversar com familiares, amigos e procurar informações sobre o parceiro. O que acontece muito é que as mulheres só têm conhecimento de situações de violência, depois que já estão envolvidas e, muitas vezes, morando com o companheiro. Hoje temos a facilidade das redes sociais, é importante procurar por informações e conhecer melhor a pessoa antes de se envolver", aconselha a delegada.