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Sorocaba

Imóveis vazios chamam atenção no Centro

Acso, Secovi e Prefeitura tentam reverter esvaziamento iniciado com a pandemia e agravado pela especulação

12 de Setembro de 2023 às 23:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Afastamento da população levou muitas lojas e prestadoras de serviços a encerrar atividades ou migrar para outras regiões
Afastamento da população levou muitas lojas e prestadoras de serviços a encerrar atividades ou migrar para outras regiões (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/8/2023))

 

Basta um passeio pelas ruas do centro de Sorocaba para enxergar inúmeras placas de “aluga-se” e “vende-se”. O aumento no número de imóveis desocupados na região central está relacionado, segundo o presidente da Associação Comercial de Sorocaba (Acso), Hygor Duarte, à paralisação do comércio durante a pandemia de Covid-19, ocasião em que a economia global enfrentou um colapso.

Para Duarte, o comércio da região central sofreu com as restrições impostas pela crise sanitária. A partir de 2022, com o fim do período crítico, a Acso, em parceria com diversas entidades e junto à administração municipal, tem efetuado um movimento de recuperação do Centro no que diz respeito, principalmente, à revitalização e segurança.

“O processo é lento e dispendioso, mas começou. Está sendo desenvolvido um projeto moderno e arrojado na Doutor Braguinha com Barão do Rio Branco, que busca ‘reativar’, já em 2024, de forma convidativa, o interesse das pessoas em voltar a ocupar as ruas centrais, tendo a garantia do poder público de que elas terão iluminação, limpeza, acessibilidade e, acima de tudo, segurança de fato”, disse o presidente da Acso.

Para quem trabalha com venda de imóveis, como o corretor Igor Del Rio, a desocupação do Centro não está relacionada somente à paralisação provocada pelo período de pandemia, mas aos prédios antigos, deteriorados e aos altos valores de venda e locação. “Estou com um imóvel para alugar na rua Quinze -- em um dos melhores locais --, com 240 metros quadrados, por R$ 15 mil. É um salão livre, com apenas dois banheiros e sem lugar para parar o carro na frente. São coisas que acabam dificultando muito, pois a pessoa acaba ficando dependente do estacionamento ou até mesmo da zona azul”, explicou.

O resultado é um grande número de prédios vazios - FÁBIO ROGÉRIO (31/8/2023)
O resultado é um grande número de prédios vazios (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/8/2023))

Mesmo com valores considerados altos, o corretor de imóveis afirma que ainda existe procura, embora pequena, na Braguinha, Penha e Quinze de Novembro. “Você não vê tanta venda. Eles passam o ponto mas não querem se desfazer do imóvel. Os proprietários não entenderam, ainda, que os valores que elas estão pedindo no Centro são altos demais para os imóveis que são oferecidos”, disse.

Já na opinião do diretor regional do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais (Secovi), Guido Cussiol Neto, o Centro está abandonado. “Ninguém vai para o Centro à noite, por exemplo. Acabou isso! Está abandonado. Existem muitos comércios na rua Quinze ou Padre Luiz com placas de aluga-se ou vende-se. Esse efeito de vacância é em todo o centro comercial de Sorocaba. O comércio não está como era há 10 ou 20 anos atrás. Hoje, realmente, existe uma certa dificuldade com o Centro”.

Cussiol Neto explicou que existem muitas negociações sobre pagamento de aluguel e que diversos espaços do Centro têm o valor da locação baseada na renda direta do comércio, além de dependerem do tamanho e espaço. Segundo ele, a região da Braguinha, Álvaro Soares e Sete de Setembro são as ruas onde o comércio está mais aquecido e, consequentemente, há procura por imóveis. São as ruas com melhor acesso, estacionamentos e próximas do transporte público. “Hoje, para você se deslocar para o Centro, se for de carro e não tiver onde parar, você não vai. Portanto, a valorização está atrelada a onde existe um acesso melhor, tanto para usa transporte público quanto para as pessoas que vão de carro”.

O diretor regional do Secovi citou outras vias comerciais da cidade que foram “contaminadas” com o abandono do Centro, como as avenidas Coronel Nogueira Padilha e São Paulo, regiões onde antes havia um comércio forte. “Com a decadência do Centro, elas também têm decaído bastante. Isso é economicamente explicado, se você tem uma região de sucesso, as regiões que estiverem próximas serão valorizadas. Assim como o inverso”.

Guido ressaltou que a revitalização é um sinal de que o poder público tem interesse em fazer o Centro voltar a ser atraente. “É preciso incentivar novas construções, mexer na questão do aproveitamento das áreas. Vale a pena até derrubar casas antigas que estão subutilizadas e sem uma ocupação eficiente. Se o poder público, junto com a iniciativa privada, direcionar esses esforços para a região central, tenho certeza de que a situação vai se reverter. Não tão já, mas em cinco ou dez anos nós teremos aí um novo Centro”.

A ideia do Secovi, de acordo com o diretor regional, é investir em habitação na região central da cidade. Para isso, é preciso incentivo às construtoras e investidores. “Levando moradores novamente ao Centro, vai ativar o comércio. As pessoas precisam voltar a morar no Centro”. Ele cita a região da antiga fábrica da Fepasa, onde existe um vácuo imobiliário e, segundo ele, uma metragem de mais de 20 alqueire. “É possível transformar isso em habitação ou até mesmo em um parque”.

Migração para a zona sul

Seguindo caminho inverso do Centro, regiões como o Campolim "herdaram" fluxo e empresas - FÁBIO ROGÉRIO (31/8/2023)
Seguindo caminho inverso do Centro, regiões como o Campolim "herdaram" fluxo e empresas (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (31/8/2023))

Muitos comerciantes e empresários passaram a olhar para outras regiões da cidade, como a zona sul, mais especificamente, o Parque Campolim. O diretor regional do Secovi destacou que houve uma mudança da concentração comercial econômica da região central que foi transferida para essa região ou para os shoppings. Isso aconteceu, segundo ele, porque o Centro passou a ter dificuldade de acesso.

O Campolim se desenvolveu muito nos últimos anos e trouxe investimentos pesados para a região. “Além do shopping, o bairro está ao lado de uma rodovia e trouxe investidores do setor imobiliário para desenvolver prédios residenciais e prédios com salas comerciais. Qual região vai se desenvolver é uma questão econômica. Hoje, o Campolim está realmente muito valorizado e é uma região cara. Esse investimento concentrado ali, consequentemente, vai começar a contaminar o que está ao seu lado. Muitos optam hoje por investir em comércios e serviços no Campolim e nas regiões adjacentes, que também estão valorizadas”, concluiu Cussiol Neto. (Virginia Kleinhappel Valio)

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