Parece membro do corpo
Fica aflito sem o celular? Então, você pode estar com nomofobia
Transtorno que afeta grande parte dos jovens causa prejuízos à saúde mental e à qualidade de vida
É difícil encontrar quem não tenha um celular hoje em dia. O aparelho, cada vez mais moderno, é, para algumas pessoas, como uma extensão do próprio corpo, a ponto de não conseguirem ficar longe por muito tempo. Uma pesquisa divulgada pela rede britânica BBC mostrou que os jovens brasileiros -- faixa etária de 15 a 29 anos -- ficam quase cinco horas e meia por dia diante do celular. Ou seja, é como se a população passasse mais de um terço do tempo em que permanece acordada -- considerando uma noite de sono de 8h -- conectada. Apesar de o celular ser o maior foco, há quem passe muito tempo nas mais distintas telas, como computador, tablets e outros eletrônicos.
A questão é que o uso excessivo desses aparelhos pode desencadear a curto e longo prazo a nomofobia, transtorno que causa prejuízos à saúde mental e à qualidade de vida. O termo foi criado no Reino Unido, em 2008.
Segundo a psicóloga Juliana Marchi, de 36 anos, a fobia ocorre quando a pessoa é impossibilitada de ter acesso a um dispositivo conectado à internet, desencadeando sensações de medo, insegurança e angústia. “Isso demonstra um senso de não pertencimento ao mundo real e um vazio existencial de ordem emocional. Mas vale ressaltar que cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional especializado”, explicou.
Em algumas situações podem surgir comportamentos agressivos, sobretudo em pessoas que acabam se desacostumando a vivenciar a realidade e passam a agir apenas no mundo virtual. “A pessoa torna-se mais impaciente com quem convive e não deseja estabelecer vínculos afetivos profundos. É nesses momentos que a saúde mental e a qualidade de vida da pessoa são comprometidas”, comentou a especialista.
Entre os prejuízos para a saúde mental que podem aparecer estão depressão e ansiedade. Já na parte física, problemas na visão e audição, cefaleia, insônia, problemas musculares nas mãos e nos dedos e na coluna, além do sobrepeso. “Apesar disso, é preciso dizer que é possível parar com o vício em aparelhos eletrônicos e voltar a viver relacionamentos saudáveis”, complementou Juliana.
Equilíbrio necessário
O influenciador digital, maquiador e cabeleireiro Dodoh Oliveira, de 34 anos, tem uma profissão que, muitas vezes, exige tempo demasiado nas redes sociais, usada, principalmente, para divulgar seus serviços e conquistar mais clientes. Mas ele sabe da importância do equilíbrio entre a tela e o mundo real.
“Eu desligo o celular no momento do meu atendimento, pois me entrego totalmente a minha cliente. Mas, assim que termino, já pego o celular para me atualizar”, relatou Dodoh. “O momento em que fico mais ‘off’ do aparelho é a noite, quando procuro assistir TV, realitys shows e conversar com minha mãe”, finalizou.
Juliana ressaltou que, “por mais que uma pessoa fique horas no celular ou vidrada na internet diariamente, mas, ainda assim consegue manter relacionamentos exteriores, não necessariamente significa que esteja com nomofobia”.
Se tem gente que adora ficar horas nas redes sociais vendo e produzindo conteúdos, há quem use o celular para momentos específicos. A aposentada Joelza Araújo da Silva, de 72 anos, nasceu em uma época em que tais aparelhos nem existiam. Talvez, por isso, prefira as relações presenciais, com toque humano.
“Faço exercícios em casa e, às vezes, coloco músicas no YouTube para escutar no celular. Também ligo para meus familiares e colegas. E, se o assunto estiver bom, ficamos quase uma hora papeando”, disse a aposentada. Em sua casa existe, ainda, o telefone fixo e um aparelho de rádio, que também são usados em alguns momentos.
Descobrir e tratar
O autodiagnóstico não é recomendado para ninguém, independente da queixa. É necessário a orientação médica para que a pessoa possa ter a melhor orientação e tratamento. Porém, no caso da nomofobia, é possível identificar alguns sintomas: passar a maior parte do tempo conectado a um aparelho eletrônico; preferir relações virtuais às reais; perder o interesse por atividades diárias (como trabalho, estudo, relacionamentos e lazer); falta ou excesso de sono e alimentação; e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.
“O tratamento não é psiquiátrico, e sim, psicoterapia com psicólogo. É importante entender a origem da compulsão por acesso à tecnologia. Se o psicólogo diagnosticar outros transtornos associados, como ansiedade e depressão, por exemplo, pode encaminhar o paciente para tratamento medicamentoso com psiquiatra, se necessário”, alertou a psicóloga Juliana.
Cuidado com as crianças
A doença, apesar de ser associada aos jovens que acabam usando o celular em excesso, as crianças e adolescentes também merecem atenção. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que o uso de telas não aconteça antes dos dois anos de idade, mas hoje em dia é comum ver bebês com um aparelho eletrônico. De acordo com Juliana, é essencial que os pais retardem o quanto puderem o acesso dos filhos ao aparelho celular. “E quando for necessário, que tenham controle sobre o conteúdo consumido e tempo gasto em frente às telas”, acrescentou a psicóloga. (Da Redação)
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