Mundo digital
Estelionatários estão à solta na internet, todo cuidado é pouco
Usuários de aplicativos, redes sociais e outras ferramentas online são as maiores vítimas
Se, por um lado, a internet trouxe inúmeras facilidades para a vida das pessoas, também abriu brechas para criminosos aplicarem golpes financeiros explorando a ingenuidade ou a falta de informação dos usuários. Estes crimes online são classificados como estelionato, conforme estabelecido no Artigo 171 do Código Penal. Mas, afinal, o que é estelionato? Em resumo, é quando alguém engana outra pessoa com o propósito de obter vantagens pessoais.
Os golpistas usam vários métodos para iludir as vítimas. Estes incluem a criação de ofertas fictícias de produtos ou serviços a preços muito abaixo do mercado, leilões ou sorteios falsos que exigem taxas ou informações pessoais e financeiras, mensagens fictícias de bancos, simulação de perfis em redes sociais que se passam por amigos, familiares ou celebridades para solicitar dinheiro ou favores, entre outros artifícios.
Para evitar cair nesses golpes, é essencial manter vigilância e sempre desconfiar diante de situações suspeitas. Algumas dicas úteis incluem evitar clicar em links desconhecidos ou duvidosos enviados por e-mail, SMS ou redes sociais, não compartilhar informações pessoais ou financeiras com terceiros sem verificar a autenticidade da solicitação, evitar fazer pagamentos antecipados ou transferências para contas desconhecidas e não salvar informações do cartão de crédito em sites de e-commerce ou aplicativos.
O delegado Acácio Leite, titular do 8º Distrito de Polícia de Sorocaba, destaca que os golpes financeiros na internet podem causar danos irreparáveis. Ele alerta que as vítimas devem imediatamente procurar a delegacia mais próxima e registrar um boletim de ocorrência, levando consigo todos os documentos e evidências disponíveis. Segundo ele, uma denúncia precoce aumenta as chances de recuperar o dinheiro perdido e identificar os criminosos.
Tecologia do crime
Alexandre Brum, especialista em cibersegurança e CEO da GC Security, afirma que os golpistas estão em constante adaptação às inovações tecnológicas, sempre buscando maneiras novas de enganar as pessoas. Ele ressalta que o cenário dos golpes é diversificado, incluindo desde exploração de vulnerabilidades técnicas até métodos de engenharia social, clonagem de cartões em caixas eletrônicos e anúncios fraudulentos. Brum enfatiza que a conscientização é fundamental e que a segurança deve estar sempre um passo à frente.
A responsabilidade de garantir um ambiente seguro na internet não recai apenas sobre os usuários, mas também sobre as empresas provedoras de serviços online. Os golpistas tendem a mirar em um público mais jovem, que é mais ativo na internet e nas redes sociais. Portanto, é fundamental que todos adotem uma postura cautelosa e questionadora.
“É importante lembrar que todos estão vulneráveis a esses golpes, e é injusto atribuir toda a responsabilidade de segurança aos usuários. Os golpes estão se tornando cada vez mais sofisticados, dificultando a detecção por parte dos usuários. Todos os brasileiros tiveram seus dados vazados na internet em algum momento. Os criminosos muitas vezes conseguem acesso a informações básicas e as utilizam para ganhar a confiança das vítimas. Portanto, é fundamental questionar como estamos expondo nossos dados e como eles podem ser usados contra nós”, orienta Brum.
Responsabilidade
O especialista em cibersegurança também ressalta que as empresas que lidam com dados sensíveis, como informações de cartões de crédito, devem investir significativamente em segurança. Os golpes mais graves envolvem extorsão baseada em dados comprometedores, como informações sobre o perfil de consumo, locais frequentados e medicamentos utilizados. Esse tipo de cenário pode causar danos psicológicos significativos.
Tanto Brum quanto Leite destacam que esses golpes envolvem estruturas organizadas, quase como máfias, com várias pessoas testando as vulnerabilidades dos sistemas de segurança, tanto das empresas quanto das vítimas. Surpreendentemente, a maioria das vítimas não é composta por idosos, mas sim por jovens adultos que compartilham seus dados com mais frequência na internet.
Um dos golpes mais recentes é a venda de cartões clonados nas redes sociais. Golpistas usam plataformas como TikTok, Instagram e Facebook para atrair pessoas interessadas em adquirir ou alugar esses cartões. Eles utilizam aplicativos como WhatsApp e Telegram para divulgar supostos relatos de clientes satisfeitos, mostrando produtos adquiridos com dinheiro obtido de forma ilícita.
O Cruzeiro do Sul tentou contato com o TikTok e a empresa Meta, responsável pelo Facebook, WhatsApp e Instagram, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.(Wilma Antunes)