Sorocaba
Falta segurança na rodoviária de Sorocaba
Moradores de rua e usuários de drogas intimidam frequentadores e furtam o comércio local
Mais uma vez, a rodoviária de Sorocaba é alvo de reclamações em relação à falta de segurança. O prédio municipal, que todos os dias “abriga” moradores de rua e usuários de drogas, se tornou um desafio para a atual gestão. Isso porque, embora tenha revitalizado o prédio, realizado melhorias e divulgado medidas de segurança, não consegue conter o medo dos frequentadores e comerciantes, além dos furtos aos comércios -- sem falar na quantidade de moradores de rua e usuários de drogas pedindo um “trocado” a todo momento.
Em fevereiro deste ano, o Cruzeiro do Sul publicou uma reportagem relatando casos de furtos e, até mesmo, um roubo à mão armada no entorno da rodoviária de Sorocaba. Na quinta (31) e sexta-feira (1º), a reportagem esteve novamente no terminal rodoviário de Sorocaba para conversar com comerciantes. Um deles, cuja identidade será preservada, possui registrado pela câmera de segurança o momento que um homem passa em frente ao seu comércio duas vezes. Na segunda, ele joga um objeto na porta e estoura o vidro. A ação ocorreu às 17h05 de domingo, 9 de julho. Ele conta que no momento que o homem estoura o vidro, havia muitos passageiros circulando pela rodoviária: “Acredito que a intenção dele era voltar e entrar, mas devido ao movimento, ele desistiu”. O prejuízo, entre porta provisória, vidro e mão de obra ficou em torno de R$ 1 mil.
Essa é a primeira vez que isso acontece em um ano na loja. Ele afirma que sabia da presença de moradores de rua, mas não tinha ideia de que seriam tantos. “Foi decepcionante, não tem segurança”. Na última tentativa de furto ao comércio, um cliente e policial à paisana notou um casal furtando o comércio e realizou a abordagem. O casal foi encaminhado à delegacia, mas no dia seguinte, estava novamente rondando o prédio da rodoviária. “Conversei com os GCMs que estavam do lado de fora, mas eles trataram isso como algo que não vai ter jeito. A própria pessoa que faz a ressocialização também disse. Parece que eles aceitaram a situação. Não percebo a presença dos GCMs dentro do prédio”.
Para ele, esperar do poder público está difícil, por isso, os comerciantes criaram um grupo de condôminos para estudar a ideia de contratar segurança particular. “A ideia de dividir esse custo é uma questão de desespero e imediatismo da nossa parte. Mas é preciso que a GCM esteja lá, eles que são as autoridades que podem deter pessoas suspeitas, abordar e revistar”, disse. Em relação ao grande número de moradores de rua e usuários de drogas, para o comerciante, isso virou um caso de saúde pública: “Embora tenha uma pessoa que promova a ressocialização, entre aspas, ela não dá conta, teria que ter uma ação mais rigorosa e ativa. Essa impunidade nos dá uma sensação de impotência”.
Três vezes
Outra comerciante, que possui a loja desde 1988 e pediu para não ser identificada, teve seu comércio furtado três vezes pela mesma pessoa. Ela conta que a segurança da rodoviária piorou muito e que os moradores de rua e usuários de drogas ficam no prédio durante todo o dia. “Eles roubam e furtam. E quando falo com a equipe de segurança de dentro da rodoviária, eles alegam que são contratados para fazer a segurança somente do embarque, desembarque, sala de espera e banheiros, e que o restante não é com eles. A loja já foi furtada várias vezes. A mesma pessoa já furtou a loja três vezes. Os seguranças falam que não podem impedir que essas pessoas entrem aqui porque é o direito delas de ir e vir. Essa mesma pessoa continua frequentando o prédio da rodoviária, mesmo eu tendo avisado os seguranças. GCM raramente a gente vê por aqui”, disse.
A comerciante desabafa que as vendas em sua loja pioraram muito devido à falta de segurança. “As pessoas têm medo de vir para cá. Tem clientes que infelizmente deixam de vir pela questão de segurança. Eu não iria em um lugar sabendo que posso ser assaltada ou furtada. A segurança está péssima”. Basta um momento de distração do comerciante, para que se torne uma oportunidade de furto. “O que eu mais vejo são os moradores de rua pedindo coisas nas lanchonetes e aos clientes. Comigo, o que acontece é que quando me distraio, eles entram e furtam”.
Para ela, é preciso melhorar a segurança, com policiamento e abordagem, além de retirar os moradores de rua e usuários de drogas que ficam no prédio e no entorno. “Não adianta ajudar os moradores de rua e usuários da forma que ajudam, porque no dia seguinte eles voltam. Eles precisam de outros programas, algo que ofereça curso profissionalizante para que eles consigam um emprego. Isso que estão fazendo agora, com o ‘Humanização’, é uma solução de curto prazo, é preciso algo a longo prazo”.
Todos foram furtados
Poucos metros à frente, está a loja de outro comerciante, que também não será identificado. Há sete anos com o comércio na rodoviária, ele afirma que todas as lojas já foram furtadas ao menos uma vez. “Sempre trabalhei em empresa de ônibus, trabalho na rodoviária há 50 anos e tenho o meu negócio há sete. Aqui você tem de ficar esperto, um descuido e eles furtam. As vezes a pessoa pede para você fazer um favor, como pegar uma sacola, só para você virar as costas e ele furtar.”
Ele também acredita que a segurança piorou após a Urbes assumir o prédio: “A empresa contratada pela Urbes para fazer a segurança do prédio está limitada. Eles não estão aqui para a segurança dos comerciantes. A segurança era para ser para todo mundo, mas não é. A guarita, por exemplo, não foi reativada para a GCM, somente para o “Humanização”. Dificilmente vemos a GCM aqui, eles ficam parados na praça. Hoje (31) eles entraram aqui no prédio para sacar dinheiro no caixa eletrônico e foram embora”.
Segundo o comerciante, não há condições de trabalhar aos sábados, domingos e qualquer dia à noite. Através das portas de vidro de seu comércio, ele presenciou diversas situações e disse ter dó das pessoas que precisam utilizar o caixa eletrônico, principalmente as mulheres. Tempos atrás observou uma pessoa sacar dinheiro e entregar ao pedinte, com medo que ele fizesse algo. Também viu a funcionária de uma lanchonete pedir para que um morador de rua esperasse a cliente comer para depois pedir dinheiro. O homem se exaltou, pegou o lixo e virou no chão.
“Um senhor que viajou na semana passada ficou na sala de espera da rodoviária das 9h até as 21h esperando o ônibus para o Paraná. Ele contou quantos pedintes foram até ele: 31 pessoas pediram dinheiro. Ele falou que fez questão de contar, porque achou um absurdo”, comenta. Com tanto tempo de trabalho dentro do prédio da rodoviária, ele relembra a época em que as pessoas frequentavam o prédio para andar, passear ou ir à lanchonete. “Ninguém mais vem na rodoviária e fica parado. Quem é de Sorocaba, vem para embarcar e ir embora e ainda assim, já encosta pedinte.”
Chega a desanimar
O mesmo comerciante confessa que todos os condôminos do prédio da rodoviária estão em uma situação difícil: “Chega até a desanimar. Por estes dias rodou uma imagem das câmeras de segurança em um grupo que temos no WhatsApp, que mostra um rapaz tentando abrir as portas dos comércios. Quando o segurança chegou de manhã, viu a imagem, deu risada e brincou ‘olha o novo segurança que os comerciantes contrataram, conferindo se as portas estão fechadas’. Ou seja: os seguranças ainda tiram sarro. A GCM aqui iria inibir muito. Ouvi de um cliente que no Terminal Santo Antônio colocaram a GCM e melhorou muito”.
Ele também comenta sobre a situação dos banheiros. Antes, a rodoviária possuía banheiro pago e gratuito, hoje, existe apenas o gratuito. De acordo com ele, não tem condições de um cliente ou passageiro usar o banheiro. “Na parte da manhã, por exemplo, está cheio de mendigos, e eles tomam até banho ali dentro. Quem vem aqui são clientes que compram passagem, pagam taxa de embarque, não estão aqui de graça, eles merecem segurança. Para falar a verdade, eu fico constrangido e com vergonha quando vejo cliente que não é daqui, porque os mendigos ficam pedindo dinheiro e não tem ninguém pra dar apoio.”
Na opinião do comerciante, falta vontade de trabalhar nas pessoas contratadas. “A taxa de embarque arrecada muito dinheiro. Os responsáveis pelo condomínio já avisaram que se vamos contratar segurança particular, vai dobrar o condomínio. Hoje pago condomínio na faixa de R$ 300, e se contratarem segurança, vai dobrar. Já está fraco o movimento e ainda vão aumentar o condomínio?”, questiona.
Pior que nunca
Há 18 anos trabalhando na rodoviária, outro comerciante comenta que quando o prédio era gerenciado pelo condomínio, não havia insegurança. Meses atrás, ele fechou a porta de seu comércio para descarregar o ônibus e quando voltou, a porta estava estourada. “Você chama os seguranças, eles olham e não fazem nada. Em 18 anos de empresa aqui, nunca esteve como está agora, está complicado. Antes, não deixavam esses moradores de rua e usuários de drogas andarem o tempo todo na rodoviária. Não sei como essa turma ainda não fez um arrastão aqui”.
Ele também faz críticas ao programa Humanização e comenta que a rodoviária passou a ter mais morador de rua e usuário de drogas, do que passageiros: “Não dá pra fazer nada, o pessoal vai comer na lanchonete e o pedinte fica em cima”.
A reclamação do comerciante vai além da falta de segurança, ele faz críticas também sobre o banheiro, onde, segundo ele, por muitas vezes, não tem papel higiênico. ‘Fui perguntar para o rapaz da faxina e ele falou que era para limpar com papel toalha. Aí fui falar com o pessoal da Urbes, onde tem a cabine, e ele me respondeu ’tá feio o negócio’. Essa reforma que fizeram foi só na fachada. Pintou a rodoviária, mas o principal, que é a segurança, não fizeram nada. É só ficar aqui o dia inteiro que você vê como é aqui”.
Passageiros opinam
No banco da plataforma de embarque da rodoviária estava a maquiadora Tabata Matarazzo, de 33 anos. Ela é de Itapetininga e frequenta a rodoviária toda semana. Ela afirma que não se sente segura e que fica agarrada à sua bolsa e de olho ao seu redor a todo momento. “Acho que não tem nenhuma segurança aqui. Não vejo ninguém olhando os passageiros e tem pessoas suspeitas que ficam próximas. É uma insegurança. À noite, por exemplo, eu não venho, por conta da segurança.”
A estudante Rafaela Ribeiro, de 19 anos, procura ficar próxima ao ônibus, aguardando o embarque, pois assim se sente mais segura: “Frequento bastante a rodoviária porque estudo aqui e tenho que pegar ônibus para voltar para casa, em Cesário Lange. Não me sinto segura porque tem alguns andantes que ficam pedindo dinheiro”. Voltando de viagem, a aposentada Marta Sobrinha, de 59 anos, disse para ela que à noite é mais complicado. “Aqui é mal iluminado e tem o pessoal de rua também. Acho que o poder público tinha que dar uma atenção maior. Não tem carrinho para colocar as malas, não tem local para buscar informações. Está largado”.
O que diz a Urbes
Por meio de nota, a Urbes afirma que tem contrato com empresa de vigilância patrimonial para fazer a segurança 24 horas nas plataformas, banheiros públicos e sala de espera na rodoviária. Eles atuam de forma coordenada com a PM e a GCM, acionando as forças policiais, caso preciso, sendo que a GCM faz incursões no interior do prédio, de forma regular. Já a segurança das lojas, segundo a Urbes, é de responsabilidade da Administradora de Condomínios SOCIA.
A nota traz também um levantamento da GCM. Ao longo de 2022, a Corporação realizou 1.270 ações no entorno da rodoviária, incluindo patrulhamentos, operações e abordagens. Em 2023, já são 1.133 iniciativas desse tipo, até o momento. Ainda de acordo com a Urbes, em 2023 não houve registro de ocorrências na rodoviária.
Em relação aos moradores de rua, a Urbes informa que viaturas da GCM prestam apoio às equipes do programa “Humanização”, cujo trabalho de abordagem social e acolhimento às pessoas em situação de rua prosseguem de maneira ininterrupta no local, inclusive, oferecendo pernoite, alimentação completa, roupas limpas e, se necessário, cuidados em saúde.
Competência do setor público
Procurada pela reportagem, a Administradora de Condomínios SOCIA afirmou que o condomínio tem um orçamento proveniente da cota condominial, que faz frente às despesas necessárias mensais e que, atualmente, o condomínio não tem recursos para contratação de uma empresa de segurança. Uma assembleia geral do condomínio referente à segurança foi realizada, mas não foi aprovada a contratação.
“Hoje contamos com a Guarda Municipal e seguranças que operam no terminal rodoviário sob responsabilidade da Urbes. Não entendemos que a responsabilidade da segurança seja do Condomínio, visto que os usuários do terminal rodoviário são passageiros que embarcam e desembarcam no local. Entendemos que, o que acontece no entorno da rodoviária é um problema social, que não é de competência do Condomínio e sim do poder público”. (Virginia Kleinhappel Valio)
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