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Sorocaba

Taxistas resistem ao avanço do aplicativo

Profissionais dizem que a demanda por passageiros diminuiu e que fazem, em média, seis corridas por dia, em 12 horas de trabalho

02 de Setembro de 2023 às 23:01
Luis Felipe Pio [email protected]
O táxi é um serviço regulamentado e fiscalizado pela Urbes -- Trânsito e Transportes, que é submetido a alvará, aferição do taxímetro e inspeção do veículo e que todo ano precisa ser avaliado
O táxi é um serviço regulamentado e fiscalizado pela Urbes -- Trânsito e Transportes, que é submetido a alvará, aferição do taxímetro e inspeção do veículo e que todo ano precisa ser avaliado (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO )

 

Taxistas resistem ao crescimento do número de motoristas por aplicativo em Sorocaba. Nas imediações da avenida Comendador Pereira Inácio, onde fica a Rodoviária, normalmente é possível encontrá-los em pontos fixos a espera dos passageiros. Muitos relatam que a demanda por passageiro diminuiu e que fazem, em média, seis corridas por dia em 12 horas de trabalho. Destacam, também, que perderam muitos clientes para os motoristas de aplicativo, por exemplo, o que os faz refletir sobre o futuro de sua profissão.

Katsuo Ueti é morador de Sorocaba e trabalha há 11 anos como motorista de táxi. Ele relata que, desde 2015, um ano após a Uber entrar em operação no Brasil, “já começou a cair o número de taxistas” e que o período de isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19, também contribuiu para que muitos motoristas devolvessem o alvará à Prefeitura, já que não tinham mais passageiros para transportar como antes.

Segundo a Urbes -- Trânsito e Transportes, existem atualmente 294 autorizações para taxistas licenciados em Sorocaba. Esse número é 7,25% menor em relação a 2015, quando havia 317 licenças. Em 2018, o número aumentou para 321, porém, em 2022, voltou a cair, somando 299 alvarás.

Katsuo conta que trabalhou como motorista de aplicativo por duas vezes, mas ainda prefere o táxi por um motivo. Segundo ele, o transporte é muito mais seguro. “No aplicativo, vem o chamado, mas você não sabe quem é a pessoa. Aqui, no ponto, eu vejo o passageiro se aproximar. E eu gosto de saber quem é, de conversar com ele, e avaliar se levo ou não, porque dependendo do perfil da pessoa eu não me sinto seguro para levar”, justificou.

Além disso, Katsuo argumenta que sua profissão é regulamentada. “O táxi é cadastrado na Urbes, a gente tem regulamentação e fiscalização, precisa pagar renovação do alvará, aferição do taxímetro e inspeção do veículo, que todo ano precisa ser avaliado. Diferente dos ‘Uber’ que não têm isso”, disse. “Além de eles não ter fiscalização ainda é cobrado pelo aplicativo uma taxa muito alta por corrida, sendo que o motorista é quem banca com todos os gastos do carro. Já a gente cobra o que é definido pela Prefeitura, por meio do taxímetro, que é aferido depois, ou seja, a gente cobra o que é justo”, completou.

Embora, de fato, o número de taxistas licenciados tenha diminuído em Sorocaba e o cliente, de um modo geral, tenha “migrado” para o deslocamento via carro de aplicativo, o táxi ainda cumpre sua função, principalmente entre as pessoas com mais idade. Taxista há 5 anos, Valdemar Bento Pereira, 63 anos, diz que, normalmente, quem ainda pega táxi é o público mais velho, que prefere ligar e pedir um carro.

A aposentada Ângela Maria de Souza, de 68 anos, mora em Araçoiaba da Serra, mas eventualmente chama o táxi para ir visitar seu filho que reside em Sorocaba. “Hoje, eu estou vindo de Araçoiaba para levar meu neto à casa dele e, sinceramente, eu tenho dificuldade para mexer no aplicativo da Uber, então, eu prefiro pegar táxi”, disse.

Por que não táxi?

Entre os passageiros que aderiram ao uso de carro de aplicativo está Fernanda Horvath Réus, de 20 anos. Nascida em Boston, nos Estados Unidos, veio para o Brasil quando tinha 6 anos. Na época em que chegou ao País, ela andava muito de táxi com sua família. Desde 2014, porém, ela utiliza o aplicativo para se locomover. “É muito mais barato”, ela diz. “Eu sempre usei e ainda uso praticamente toda semana, para ir em eventos, para trabalhar”.

O táxi ainda cumpre sua função, principalmente entre as pessoas com mais idade, que têm dificuldade em usar o aplicativo - FÁBIO ROGÉRIO
O táxi ainda cumpre sua função, principalmente entre as pessoas com mais idade, que têm dificuldade em usar o aplicativo (crédito: FÁBIO ROGÉRIO )

Fernanda destaca também outro ponto que para ela é importante: a segurança. “Por eu ser mulher, eu tenho medo de andar sozinha à noite. Eu prefiro pegar Uber porque pelo próprio aplicativo eu posso ver também a avaliação do motorista, os comentários e quantas estrelas ele tem. Ainda tem aquele botão de emergência que eu posso acionar se acontecer alguma coisa. Agora, no táxi, praticamente você entra no carro de um ‘desconhecido’”, falou.

Moradora de Itu, Bruna Julie dos Santos Franco, de 28 anos, também prefere o Uber por causa do preço ser mais em conta. Porém, ela relata que, em comparação com sua cidade natal, Sorocaba tem corridas mais caras. “Aqui (em Sorocaba), só da Prefeitura (na avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, no Alto da Boa Vista) até a Universidade de Sorocaba (na rodovia Raposo Tavares, km 92,5) dá cerca de R$ 30. Já em Itu, o máximo que eu chego a pagar em um percurso semelhante é R$ 15”, contou.

“Eu até ando de ônibus, mas, o Uber também tem a questão do conforto. Você paga, mas vai sentado e chega mais rápido ao seu destino”, argumentou. Bruna também comenta que os passageiros precisam se conscientizar sobre as condições de trabalho dos motoristas. “Para a gente, pode até ter conforto e segurança, mas e para eles? Também há riscos. E será que vale a pena ficar dirigindo o dia todo?”, indaga.

O barato que sai caro

Por mais que seja um meio de transporte barato para os usuários, para os motoristas, às vezes, sai caro. Celina da Silva, de 57 anos, é motorista pela Uber há 6 anos. Conforme disse, ela faz em média 30 corridas por dia -- cinco vezes mais corridas que os taxistas -- e trabalha cerca de 12 horas. Ela diz que o aplicativo é bom para trabalhar, mas realmente cobra uma taxa muito alta dos motoristas que varia -- ou seja, a taxa não é fixa, sendo cobrado um valor diferente para cada corrida. “Além disso, tem umas que ele oferece por R$ 5,88 que é muito insignificante. Você colocar quatro pessoas no seu carro por esse valor é imperdoável. Mas, fora isso, se você trabalhar de acordo com a demanda, você até consegue um valor legal”, falou.

Já Alice Ramos Duarte, 52 anos, motorista de aplicativo há 3 anos, diz que nunca pensou em ser taxista por “não compensar” e ainda precisa solicitar alvará. Alice também faz cerca de 30 corridas por dia, porém trabalha para quatro aplicativos diferentes -- Uber, 99, Vip Car e Lady Driver, sendo este último um aplicativo de transporte exclusivo para mulheres. Ela diz que tanto o Lady Driver quanto o Vip Car possuem taxas fixas (cerca de 15% e 25%, respectivamente), diferente dos aplicativos Uber e 99, pelos quais ela precisa “escolher muita corrida” por conta do valor ofertado pela plataforma muitas vezes não suprir os gastos com o carro, como combustível. (Luís Pio - programa de estágio)

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