Nutrição
Alimentos ‘da moda’ podem fazer mal
Especialistas alertam para o consumo excessivo de vitaminas e plantas medicinais
Todos os dias nos deparamos com informações variadas sobre vitaminas e alimentos que ajudam a reduzir o peso ou a prevenir doenças. Elas podem ser vistas em propagandas na televisão, sites, redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas. Impulsionadas por esses meios de comunicação, as pessoas estão consumindo substâncias como cúrcuma, goji berry, chia, folhas de “ora-pro-nóbis”, entre outras, que em excesso, podem causar prejuízo à saúde.
Em busca do tão sonhado “corpo ideal” ou “vida saudável”, muitos acabam aderindo às dietas pouco qualificadas e se esquecem do principal: buscar especialistas. O nutrólogo Bruno Takatsu, de 39 anos, alerta que todos esses alimentos consumidos em excesso podem causar problemas ao organismo. “O ‘ora-pro-nóbis’ tem um apelo muito grande hoje em dia. É uma fonte de proteína vegetal. Mas, se a pessoa já come muita proteína, pode sobrecarregar o rim”, explica.
Outra planta conhecida é a chia, nativa da Guatemala e do México. É mais conhecida por sua semente, que é comercializada integralmente, moída ou em forma de óleo. Cerca de 60% de sua composição é formada por ômega 3, ômega 6, proteína, carboidratos, fibra dietética, minerais e vitaminas. É consumida principalmente por pessoas que buscam perder peso.
Segundo o Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, o benefício da chia para o controle de peso provém do seu teor de fibras, que retarda o esvaziamento gástrico e promove a sensação de saciedade. No entanto, seu consumo deve ser moderado, pois é um alimento com grande densidade calórica.
Também na moda, a fruta goji berry é proveniente de uma planta originária da China e amplamente utilizada por sua população como alimento e planta medicinal. De acordo com material do ministério, estudos que foram realizados em animais que ingeriram goji berry têm demonstrado redução de triglicerídeos e colesterol total. Entretanto, alguns estudos têm reportado propriedades alergênicas de compostos presentes na fruta, que potencializam o efeito anticoagulante e elevam os riscos de hemorragia.
Por isso, antes de consumir essas substâncias e multivitamínicos, o ideal é consultar um especialista. Por meio de exames, ele vai descobrir se há deficiência ou excesso de determinado nutriente no organismo. Na hora de comprar a vitamina, o nutrólogo recomenda as marcas clínicas e regulamentadas pela Anvisa.
É necessário também tomar cuidado com a dosagem das vitaminas. A quantidade errada pode ser prejudicial de diversas maneiras: no excesso de vitamina B12, por exemplo, a pessoa não vai absorver, vai acabar excretando. Já o excesso de vitamina D pode causar intoxicação renal. De vitamina C, pode causar diarreia, dor de cabeça e problemas renais. “Por isso, é preciso cuidado. Elas são vitaminas que ajudam muito na imunidade, como as vitaminas C, D e o Zinco, mas sempre precisamos ter cautela, pois você não sabe quanto há no seu sangue, se está baixa ou alta. É preciso individualidade”, disse o nutrólogo.
A posição é a mesma da nutricionista Juliana Moraes, de 34 anos. Para ela, não existe uma fórmula que seja para todo mundo. A ajuda do profissional é essencial. É ele quem vai realizar os exames necessários para saber exatamente se há necessidade de suplementar algum nutriente ou não.
A especialista explica que a cúrcuma, também conhecida como açafrão da terra, tem ação antioxidante, anti-inflamatória e é um dos alimentos mais estudados do mundo. Porém, ela alerta que o que traz a ação anti-inflamatória é um polifenol, chamado curcumina, e ele é pouco encontrado. Quando compramos uma cúrcuma em pó ou a granel, essa quantidade de curcumina é praticamente zero. Muitas marcas, inclusive, misturam com fubá.
“Imagina o veneno que é para a pessoa que tem diabetes e que viu um blogueiro falar sobre a cúrcuma. Ela compra uma cúrcuma a granel, que dependendo da marca, tem fubá misturado. Ela vai passar mal e vai começar o dia tendo uma quantidade de glicose muito alta na corrente sanguínea. Por mais que aparentemente seja inofensivo, é fundamental para todas as pessoas ter acesso a essa informação. Isso, blogueiro e rede social não passam”, diz a nutricionista.
Juliana explica que como nosso organismo absorve muito pouco a curcumina, é preciso ativá-la. Um dos alimentos que faz isso é a pimenta. “A cúrcuma vendida em sachê no mercado possui de 1% a 3% de curcumina. Quando falamos de publicações que mostram o benefício da cúrcuma, vale lembrar que é preciso ter, pelo menos, uma quantidade de 30%”.
Imunidade
De acordo com a nutricionista, quando pensamos em imunidade, quatro vitaminas se destacam: C, D, as do complexo B e o Zinco. Porém, é possível encontrá-las nos alimentos. Se a pessoa tem uma alimentação rica em nutrientes, não vai precisar investir em uma suplementação, a menos que algum deles esteja com nível realmente baixo.
Em relação à vitamina C efervescente, é preciso se atentar à irritação gastrointestinal no caso de doses muito altas. Também há risco de formação de cálculos renais, mas isso se consumido em excesso e se a pessoa tiver pré-disposição.
“Uma pessoa que consome uma vitamina C efervescente, de 1.000 mg, o organismo não vai absorver tudo. O organismo vai absorver mais quando é dividido. Portanto, é muito mais inteligente para o nosso organismo suplementar 250 mg de vitamina C duas vezes ao dia. O corpo vai absorver mais do que se eu utilizar 1.000 mg. Essa é a informação à qual as pessoas não têm acesso quando vão fazer pesquisas com um profissional que não é capacitado”.
Vale lembrar que é muito difícil ter uma intoxicação por vitaminas. “A maioria dos polivitamínicos atrapalha. Quando tomamos tudo junto, alguns nutrientes interferem na absorção do outro. Então, é muito mais eficaz e eficiente suplementar menos itens de uma vez só”.
Alimentação saudável
Mas, afinal, o que é uma alimentação saudável? Quando pensamos nisso, é importante ressaltar que ela não se baseia apenas em frutas, verduras e legumes, mas sim em vários grupos alimentares. Segundo o nutrólogo Bruno Takatsu, é considerada alimentação natural e saudável aquela que está no nosso dia a dia: a comida brasileira. “Arroz, feijão, salada, legumes e proteínas animais ou vegetais, essa é uma alimentação natural, saudável e equilibrada. É a dieta colorida, própria da nossa cultura, da dieta brasileira. A alimentação natural não é somente verduras, legumes e frutas. É uma dieta equilibrada”, explica.
Quanto mais colorida é a alimentação, mais adequada é, em termos de nutrientes. Além de assegurar uma refeição variada, isso a torna atrativa, o que agrada aos sentidos, estimulando o consumo de alimentos saudáveis, como frutas, legumes, verduras, grãos e tubérculos, como mandioca e batata.
Para os especialistas entrevistados pela reportagem, essa “onda” de viver uma vida mais saudável e mudar os hábitos alimentares se intensificou durante a pandemia da Covid-19. Essa tendência traz inúmeros benefícios, principalmente às pessoas que têm doenças crônicas como colesterol alto, hipertensão arterial e diabetes. No entanto, o médico alerta: “Temos de conversar com o paciente, avaliar e orientar bons hábitos, que é a mudança da alimentação e o estímulo de práticas de atividade física”.
Já que não é possível fugir de todos os alimentos beneficiados, como é o caso do arroz e feijão, a orientação do especialista é evitar os processados. “O arroz sofreu uma ação da indústria e o feijão também, mas ainda assim, é uma alimentação saudável. O que é menos saudável é quando o alimento sofre muitos processos na indústria, isso é ruim”.
Além da saúde digestiva, a alimentação saudável proporciona mais disposição, energia, melhora o humor e também a saúde mental. As pessoas que sofrem com depressão e ansiedade têm uma diminuição de um neurotransmissor chamado serotonina, que é o hormônio do bem-estar. Nestes casos, podemos consumir alimentos com fonte de triptofano -- nutriente fundamental para aumentar a nossa produção de serotonina -- como banana, castanhas e cacau 70 a 80%. (Virgínia Kleinhappel Valio)
Galeria
Confira a galeria de fotos