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120 anos

Credibilidade, educação e família são os principais pilares

Fundação Ubaldino do Amaral direciona os seus esforços à construção de um mundo melhor

11 de Junho de 2023 às 01:29
Cruzeiro do Sul [email protected]
Hélio Sola Aro, Presidente do Conselho de Administração da FUA
Hélio Sola Aro, Presidente do Conselho de Administração da FUA (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO )

 

 

Selo - JCS
Selo (crédito: JCS)

Não há nada que não se consiga com força de vontade, bondade e, principalmente, com amor”. A famosa frase atribuída a Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.) resume o caminho trilhado pelo Cruzeiro do Sul em seus 120 anos de serviços prestados à comunidade sorocabana e de toda a região. Para Hélio Sola Aro, presidente do Conselho Administrativo da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), mantenedora do jornal desde 31 de julho de 1964, o tripé sugerido pelo maior filósofo da Roma Antiga como alicerce de qualquer projeto humano tem uma tradução pragmática no caso da condução do diário sorocabano.

“O êxito do Cruzeiro está em se manter firme nos seus propósitos e com objetivos definidos a longo prazo”, pontua o presidente, acrescentando que o foco da instituição sempre foi investir o rendimento resultante da atividade jornalística em ações filantrópicas, principalmente no setor educacional. Para isso, os princípios norteadores são os valores da família e a união dos diretores da Fundação.

Às vésperas de completar 59 anos na direção do Cruzeiro do Sul, a FUA mantém os objetivos traçados pelos seus 21 instituidores, todos integrantes da Loja Maçônica Perseverança III. Estes, por sua vez, trazem na bagagem conquistas como a criação da primeira escola noturna de Sorocaba, em 1869; implantação do Liceu Sorocabano (1887); criação do Ginásio, atual Escola Estadual Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, o “Estadão” (1928); implantação do Lar Escola Monteiro Lobato (1946); e criação do Colégio Politécnico, em 1999.

Marco Aurélio Laham Dottore, presidente do Conselho Superior da FUA - Fábio Rogério / JCS
Marco Aurélio Laham Dottore, presidente do Conselho Superior da FUA (crédito: Fábio Rogério / JCS)

“ Q u a n d o olhamos para trás, sentimos muito orgulho dos feitos dos nossos irmãos”, destaca Marco Aurélio Laham Dottore, presidente do Conselho Superior da FUA. Segundo ele, o trabalho sério desempenhado pelas diretorias anteriores explica porque, ao contrário do que vem acontecendo com muitos jornais — tanto no Brasil como na maioria dos países —, o Cruzeiro do Sul não apenas resiste às drásticas modificações econômicas e tecnológicas, como demostra evolução em diversos aspectos.

“Isso nos motiva a continuar com esse lindo e árduo trabalho”, revela, acrescentando ter “certeza de que é daí que vem a inspiração para continuarmos nos adaptando às mudanças que o mercado nos impõe e obtendo êxito onde tantos outros jornais, infelizmente, falham”.

Aos 91 anos de idade, Laelso Rodrigues, único remanescente dos 21 instituidores da FUA e atual conselheiro da instituição, comemora a “dádiva divina que é poder continuar participando do dia a dia do Cruzeiro do Sul e contribuindo para a sua constante evolução. Ele reforça a opinião de Hélio Sola Aro sobre a importância da estrutura formada por voluntários benemerentes que há quase seis décadas administram o jornal, o Colégio Politécnico e os demais projetos e entidades filantrópicas mantidas pela FUA.

"Além de não receberem nada pelo trabalho que desempenham de corpo e alma, durante várias horas de dedicação semanal, essas pessoas também não têm qualquer privilégio. Todas assinam e pagam a mensalidade do jornal como quaisquer outros leitores; quando viajam para resolver questões do Cruzeiro ou representá-lo em eventos, pagam as despesas do próprio bolso”, exemplifica Laelso.

Hélio Sola Aro acrescenta o sistema administrativo da FUA como diferencial decisivo para o jornal superar as inúmeras barreiras enfrentadas pela imprensa em geral nos últimos anos. Ele cita “a estrutura enxuta, as metas e os objetivos traçados com base na imparcialidade e na credibilidade da informação, entre outras ações que refletem no dia a dia da estrutura do jornal”.

Jornal artesanal

Em suas primeiras quatro décadas, o Cruzeiro do Sul foi produzido de forma artesanal, pelo sistema tipográfico. Mantinha, basicamente, o processo inventado por Johannes Gutemberg, quase quatro séculos antes — em 1545 —, em que os chamados tipos móveis — pequenos carimbos de metal ou madeira, cada qual com um sinal gráfico — eram arranjados em uma prancha — bolandeira —, formando a matriz da página que seria impressa. Quanto à impressora, ao invés de rotativas, como as atuais, que imprimem cadernos inteiros de uma só vez e encadernam automaticamente, eram usadas máquinas planas, com capacidade para “carimbar” duas ou quatro páginas a cada passada.

Em seguida, ainda era preciso imprimir o verso, para, finalmente, dobrar e encartar as páginas. O Cruzeiro estava longe de se equiparar aos grandes jornais dos EUA e Europa, que já possuíam linotipo. A máquina inventada em 1884 permitia a composição de uma linha inteira de texto utilizando chumbo líquido. Mesmo assim, a publicação dos irmãos Camargo Pires já nascia um passo adiante de muitos periódicos brasileiros produzidos no sistema medieval da cópia manuscrita.

Fac-símile da 1ª edição do Cruzeiro do Sul, publicado em 12/06/1903 - JCS
Fac-símile da 1ª edição do Cruzeiro do Sul, publicado em 12/06/1903 (crédito: JCS)

Como a caneta ainda não existiam, os copistas utilizavam pena de ave e tinteiro. Quem conhece a obra “O nome da rosa”, de Umberto Eco, tem uma ideia desse penoso trabalho. O jornal 13 de Maio, editado em Sorocaba pelo próprio Nhô Quim, era feito dessa forma.

A produção do conteúdo jornalístico, por sua vez, seguia a praxe da época. Ao invés de jornalistas, a redação ficava a cargo de profissionais de áreas diversas, como advogados, comerciantes, dentistas, médicos, professores e líderes comunitários, entusiastas da escrita e da informação.

Quando o Cruzeiro começou a ser editado, o seu principal jornalista era Francisco Vera Cruz, que também era poeta e escritor. A ele somavam-se os irmãos Almeida, um grupo de três jornalistas botucatuenses — Levi, Gamaliel e Aquiles — além do Nhô Quim. Lançado como publicação bissemanal, o matutino logo passou a ser editado três vezes por semana e, a partir de 1908, a publicar seis edições por semana — de terça a domingo.

Diversas fases

O Cruzeiro do Sul foi administrado por diversas empresas familiares até 1963, quando foi adquirido por membros da Loja Maçônica Perseverança III (PIII). Em 1926, Nhô Quim mudou-se para São Paulo e deixou a direção da empresa, sendo sucedido por um trio de jornalistas.

Francisco Camargo César — que começou como gráfico e tornou-se jornalista — foi articulista nos tempos de Camargo Pires e exerceu por mais de 50 anos a função de correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Sorocaba; Afonso Vergueiro - que morreu vítima de um acidente trágico, quando seu carro, numa passagem de nível, foi atingido por um trem; e Antônio José de Castronovo - “homem de imensa capacidade”, segundo o historiador Aluísio de Almeida.

Em seguida, veio a fase de Carlos Correia, ex-jornalista do Correio de Sorocaba. A partir de então, o jornal substituiu o sistema de composição tipográfico pela linotipia. O jornal mudou de mãos novamente em 1940, ao ser adquirido por Orlando da Silva Freitas, que desde 1933 possuía também a Rádio Clube de Sorocaba. Hélio da Silva Freitas sucedeu o pai, Orlando, em 1954.

Novos tempos com a FUA

As mudanças mais significativas no rumo do Cruzeiro do Sul tiveram início em 1963. Um grupo formado por 21 integrantes da Loja Maçônica Perseverança III adquiriu a empresa jornalística, com o intuito de garantir a sobrevivência de uma imprensa forte, independente e imparcial e, ao mesmo tempo, utilizar os rendimentos da publicação para manter as atividades filantrópicas desenvolvidas pela Loja.

Em 31 de julho do ano seguinte, durante as comemorações dos seus 95 anos, a PIII oficializou a criação da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA). Desde então, a instituição é responsável pela gestão do jornal e de outras iniciativas que têm como missão a promoção humana, assistência social, socorro aos carentes, apoio à educação dos sem recursos e transformação de Sorocaba numa cidade com melhor qualidade de vida.

Entregadores de jornal em frente a sede do Cruzeiro, na rua São Bento, em 1973 - JCS
Entregadores de jornal em frente a sede do Cruzeiro, na rua São Bento, em 1973 (crédito: JCS)

Daí por diante, o pioneirismo tecnológico e editorial passou a fazer parte do DNA do Cruzeiro do Sul. Em dezembro de 1973, o jornal aposentou suas velhas linotipos e impressoras, sendo a primeira publicação do interior do País a adotar a composição fotográfica e a impressão em off-set com a utilização de rotativas de última geração. A informatização do processo de composição das páginas, por sua vez, foi concluída em 1988.

As páginas, com todos os seus elementos (textos, fotos, quadros coloridos, fios etc.), passaram a ser montadas diretamente no computador, do qual seguiam para o fotolito, pulando as etapas da fotocomposição e paste-up. Em 2002, outra revolução: as fotografias, até então produzidas em papel pelo processo tradicional e digitalizadas por meio de scanners, passaram a ser produzidas com câmeras fotográficas digitais e exportadas para a rede de computadores da Redação.

Paralelamente à modernização da sua versão tradicional, impressa em papel, o Cruzeiro investia no projeto de colocar Sorocaba no recém-criado mundo digital. Em 10 de outubro de 1997, a FUA inaugurou a CruzeiroNet, moderna provedora de acesso à web, e o jornal eletrônico Cruzeiro do Sul On Line. Este último foi a semente do portal e do sistema multiplataformas hoje atualizadas em tempo real para levar a informação confiável do município, do Brasil e do mundo para todos os computadores e equipamentos móveis de comunicação do planeta.

Do sobrado ao complexo industrial

A evolução tecnológica e conceitual destes 120 anos transformaram completamente o conteúdo e o modo de apresentação do Cruzeiro do Sul. Já a sede, o endereço físico do jornal, foi alterada poucas vezes, apenas para acompanhar o crescimento da empresa ou as mudanças de proprietários. Até ser vendido à empresa Cesar & Cia, em 1926 — ou seja, durante 23 anos —, a Redação e Oficinas ocuparam o andar térreo da residência do seu fundador Joaquim Firmino de Camargo Pires, um sobrado localizado na rua Monsenhor João Soares, conhecido como o solar do Barão de Mogi-Mirim.

Os novos donos — Francisco Camargo Cesar, A. J. Castronovo e Affonso Pereira de Campos Vergueiro — desocuparam o prédio de Nhô Quim e transferiram o jornal para o número 216 da rua Ubaldino do Amaral, nos fundos do Cine São José.

Carlos Correia assumiu a empresa pouco depois, mas manteve o endereço. Somente em 1940, quando adquirido por Orlando da Silva Freitas, a sede foi transferida para poucos quarteirões de distância, na esquina das ruas São Bento e Santa Clara, onde hoje funciona uma agência do banco Bradesco.

No início dos anos 1970, já sob a administração da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), o espaço foi ampliado, com a transferência da Redação e dos novos setores de composição e arte para o Edifício Pio XII — vizinho à propriedade do Cruzeiro — na rua Santa Clara, onde o mezanino e o primeiro pavimento foram alugados.

Em 1979, já sem espaço para atender às necessidades de ampliações, a FUA vendeu o imóvel do Centro e adquiriu as instalações da empresa de confecções CreAn, no Alto da Boa Vista. A última mudança física do jornal foi realizada em etapas, sendo concluída em outubro de 1980. É neste endereço, o número 2.800 da avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, que o Cruzeiro do Sul funciona até os dias atuais.

Agora, o espaço é compartilhado com a segunda unidade do Colégio Politécnico, também gerido pela FUA, e com a rádio Cruzeiro FM, 92,3, de propriedade da co-irmã, a Fundação Cultural Cruzeiro do Sul.

Durante esses longos anos de vida, o Cruzeiro esteve ao lado das necessidades da população, informando e cobrando melhorias das dezenas de administrações que comandaram a cidade nesse período. O foco do jornal, porém, mantém-se inalterado: o bem-estar dos sorocabanos e o desenvolvimento da cidade. (Marinaldo Cruz Filho)

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