Passageiros afirmam enfrentar dificuldades para pegar veículos de transporte por aplicativo dentro de condomínios e supermercados, em Sorocaba. Segundo usuários do serviço, muitas vezes, motoristas se recusam a entrar nesses locais e cancelam as corridas. Condutores, por sua vez, dizem que a demora e a burocracia para acessar esses lugares inviabiliza a entrada. Isso porque as empresas não acrescentam o tempo de espera no valor da corrida. A Uber e a 99 rebatem e afirmam que adicionam as tarifas referentes ao período de aguardo nos valores finais das corridas.

Moradora de um residencial no Parque Campolim, a relações públicas Geovana Rodrigues de Vasconcelos Veiga, 21 anos, nem pede mais para que os condutores entrem. Após várias tentativas sem sucesso, ela passou a esperá-los diretamente na portaria. “Antes, principalmente, quando eu estava com compras, ou tinha que levar alguma coisa, sair com alguma caixa, eu falava com o motorista antes e muitos cancelavam”, relatou.

A esteticista Edineia Almeida, 48 anos, residente em um empreendimento no Jardim Novo Horizonte, vive a mesma dificuldade. “A maioria cancela, quase 100%. Tem uns oito meses que eu pego Uber. Nesse período, um aceitou a corrida para entrar no condomínio”, mencionou. Apesar disso, ela entende a negativa dos profissionais. “Eles ficam parados 15, 20 minutos. Os condomínios deveriam pensar em uma forma de facilitar a entrada deles, porque eles estão trabalhando”, sugeriu.

A autônoma Heloiza Freitas, 42 anos, já passou por essa situação duas vezes, mas em mercados. Ela conta que, em ambas as situações, só conseguiu um motorista na quarta tentativa, após três cancelamentos. “Eles simplesmente cancelam e não dão satisfação”. Ainda conforme a passageira, como sempre faz compras grandes, não há outras alternativas para ir embora. “Eu fico irritada, porque peço transporte por aplicativo por ser mais prático e para ir para casa logo”, falou.

Desvantagem

Condutores informam que corridas partindo de residenciais e supermercados podem ser desvantajosas. Lucas Barbosa Monteiro, 23 anos, até costuma aceitar viagens solicitadas a partir desses locais. Porém, às vezes, por conta do longo tempo de espera nas filas de entrada, acaba recusando. Nesse sentido, completa ele, o processo burocrático para acessar condomínios, especificamente, é outro impasse. “Perdemos corridas nesse tempo de espera e dinheiro também. Quanto mais ficamos parados, mais prejuízos temos”, comentou.

Nesses episódios, o motorista tem os seus ganhos afetados porque as empresas não pagam os valores referentes ao tempo de espera, conforme Monteiro. Com isso, a saída encontrada por ele para não prejudicar a si mesmo, nem ao passageiro é pedir para o usuário aguardar em frente ao local.

Marcos Vinicius Mendes Ramos, 35 anos, também não declina todos os chamados e, por vezes, entra nesses lugares. Mas, assim como Monteiro, se houver empecilhos, ele orienta o solicitante a encontrá-lo em uma localidade mais próxima. Caso a pessoa se negue a se locomover, a única saída é cancelar a corrida. “De cada dez corridas, eu cancelo sete, para conseguir uma que valha a pena.”
Além das questões citadas pelo colega de profissão, Ramos aponta a falta de áreas para embarque e desembarque em mercados como mais uma entrave para os carros de aplicativo. “Um pouquinho que ficamos parados, os seguranças já vêm pedir para circularmos”. 

Empresas se posicionam

Em nota, a Uber negou que não repassa o valor do tempo de espera ao motorista. Segundo a empresa, o preço das corridas já considera o período de espera pelo embarque do usuário após o condutor chegar ao local de início da corrida. Ainda conforme a plataforma, a partir do limite de tolerância, é cobrada do usuário uma taxa pela espera adicional. “Essa taxa tem o objetivo de recompensar o motorista, por isso, o valor pode aumentar dependendo do tempo e distância que ele tenha gasto para chegar ao local”, informou. “O valor é incorporado ao preço final e discriminado no recibo da viagem”, acrescentou.

Quanto ao cancelamento de corridas, o aplicativo diz que, como profissionais independentes, os condutores têm o direito de fazê-lo, quando julgarem necessário. Porém, complementa, recusas excessivas de viagens já aceitas representa abuso do recurso e configuração violação das suas diretrizes. Essa conduta é considerada mau uso da plataforma. “A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente os cancelamentos para identificar suspeitas de violação e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas”, afirmou.

A 99, por sua vez, disse trabalhar com um período de tolerância de dois minutos, tanto para o atraso de motoristas, quanto de passageiros. Após esse período, informa o aplicativo, a outra parte pode cancelar a viagem sem prejuízo. Caso precise de mais tempo, a empresa orienta o usuário a entrar em contato com o motorista e explicar a situação. Se houver demora diversas vezes, o passageiro pode sofrer consequências. “Em caso de atraso para embarque, a partir de dois minutos, é aplicada uma taxa adicional na corrida e a reincidência de atrasos pode acarretar bloqueios”, pontuou, em nota.

Nesse sentido, se motoristas, motociclistas e usuários não conseguirem se encontrar no local de partida, a plataforma recomenda o uso dos canais de comunicação disponíveis na ferramenta.