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Sorocaba

Veja o que muda no Alto da Boa Vista com o novo acesso a Aparecidinha

Projeto inclui abertura de ruas e novas conexões para melhorar o fluxo na avenida Engº Carlos Reinaldo Mendes

03 de Junho de 2023 às 23:01
Vanessa Ferranti [email protected]
Obras iniciadas na avenida 3 de Março
Obras iniciadas na avenida 3 de Março (Crédito: EDNILSON JODAR LOPES (2/6/2023))

Sorocaba está em constante evolução. Basta passear por algumas ruas para verificar a grande quantidade de imóveis construídos recentemente e de obras em andamento. Conhecido como polo industrial, o município tem recebido nos últimos anos pessoas de outras cidades da região e também da capital do Estado que optam por viver. Apenas entre 2020 e 2023, foram implantados 99 condomínios de prédios e 11 de casas. Com isso, o número atual de empreendimentos residenciais fechados chega a 6.376. Esses números representam uma boa notícia para a economia local, porém, o crescimento pode vir também acompanhado de alguns transtornos, como o grande fluxo de veículos.

As regiões dos bairros Aparecidinha e Alto da Boa Vista são exemplos disso. No chamado horário de pico, principalmente durante o período da manhã, moradores de Aparecidinha enfrentam uma longa fila de automóveis para acessar a rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho. De acordo com Carlos Pinheiro, morador do local, muitas vezes ele demora 15 minutos a mais para chegar no destino final, devido ao tráfego lento no trecho. “Toda a região sai por esse lugar. (Ainda) têm muitos prédios que estão fazendo e logo vão entregar. Então, vai complicar ainda mais. Vai ficar impossível de sair do bairro”, prevê.

Para dar mais uma alternativa aos motoristas, a Prefeitura iniciou as obras de pavimentação e duplicação da avenida Três de Março, com início na rua Quirino de Mello, no Aparecidinha. Os trabalhos começaram em 20 de maio. Ao todo serão seis quilômetros de revitalização. Quando a obra estiver concluída os moradores poderão se locomover por esse trajeto até a avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes.

Aumento do fluxo preocupa

Porém, desde que as obras da Três de Março foram anunciadas, a população tem questionado o poder público sobre o trânsito do Alto da Boa Vista, que pode ficar ainda mais intenso. Os motoristas já vêm enfrentando dificuldades nos últimos meses no local, devido ao grande fluxo de veículos.

Edney (Ney Motorista) Fequettia é um deles. O motorista de aplicativo mora no Éden mas faz muitas corridas na região, principalmente na saída da Três de Março para a Carlos Reinaldo Mendes. “Percebemos que ali é um caos, porque, se contar por cima, têm mais ou menos uns oito ou mais condomínios. Eu creio, chutando baixo, que tem por volta de 1.500 famílias morando por ali. Todo mundo sai junto -- no mesmo horário -- para trabalhar. Acontece todo dia de manhã. Na hora que liberar o (fluxo de) Aparecidinha, terminado o asfalto, vai piorar”, declarou.

  - EDNILSON JODAR LOPES (2/6/2023)
(crédito: EDNILSON JODAR LOPES (2/6/2023))

José Lopez, aposentado de 78 anos, mora no Jardim Gutierres e utilizou a Carlos Reinaldo Mendes na semana passada para deixar a filha no trabalho por volta das 7h30. “É um trajeto de 15 minutos, mas com o trânsito deu mais de 20. A fila estava na Raposo Tavares e veio até a Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes”, explicou.

Já a dentista Bruna Miranda, de 37 anos, pega o trânsito do lado oposto da via, pois sai de um condomínio na zona norte com destino ao colégio Politécnico, também na Carlos Reinaldo Mendes. Para chegar ao local, é necessário utilizar a rotatória que dá acesso à avenida Três de Março. “Pego trânsito somente em frente da Prefeitura, para fazer o retorno. Levo 15 minutos no trajeto que faria em 10. Perco cinco minutos só nesse trecho”, ressaltou.

A pedido do Cruzeiro do Sul, o engenheiro Valmir Almenara, professor e coordenador do curso de Engenharia da universidade Athon Ensino Superior, esteve no local e constatou que, de fato, é necessário um estudo de trânsito para minimizar os impactos causados pela alta quantidade de veículos. Segundo o professor, o ideal é que a Prefeitura verifique os fluxos preferenciais e encontre alternativas para dar mais fluidez ao tráfego, como o uso de faixas exclusivas de acesso, mudanças de tempo de semáforos e até dispositivos mais complexos como a implementação de viadutos e outras soluções.

Para o engenheiro, uma boa alternativa para o trecho seria a criação de um acesso da avenida Três de Março para a rodovia Celso Charuri. “Eu, pessoalmente, observo que talvez fosse um grande ganho ter esse acesso direto à Charuri. É algo a ser reivindicado pela Prefeitura, junto a Artesp, e da CCR Via Oeste em primeira instância. Creio que possibilitaria um fluxo mais ordenado”.

De acordo com a Prefeitura, por enquanto, não há esse estudo especificamente em andamento, porém, outras medidas estão sendo implantadas para reorganizar essa região da zona leste.

Planejamento integrado

Entre as medidas já adotadas para melhorar o trânsito na área do novo corredor viário está a pavimentação asfáltica da rua Professora Célia Cangro Marques Mendes -- uma travessa da avenida Três de Março -- que está em andamento e será via alternativa -- ligando a Três de Março com a rua Vidal de Araújo, no Jardim do Paço.

Também será realizada uma nova conexão entre a rua Otilia Wey Pereira com a avenida Carlos Reinaldo Mendes, passando atrás do jornal Cruzeiro do Sul. Para isso, será utilizado um terreno localizado na Três de Março para a abertura da via. Para a realização da futura obra, foi necessário realizar ajustes ambientais através de medida mitigadora dos empreendimentos.

A saída dessa via será na Olavo Machado Tavares, ao lado do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), com acesso, também, para a Carlos Reinaldo Mendes. Já o canteiro central desse ponto da Carlos Reinaldo Mendes também será aberto e um semáforo instalado no local. Assim, os motoristas que saem na Olavo Machado poderão acessar a pista sentindo Centro, sem precisar fazer o retorno mais à frente.

Além disso, está prevista ainda a implantação da pista “direita livre” na rua 28 de Outubro, para acessar a avenida Carlos Reinaldo Mendes, ao lado da OAB, em sentido à zona industrial. Além disso, será aberta uma nova conexão entre as ruas Frei Wilson Zanetti e 28 de Outubro. Por fim, na rotatória da Carlos Reinaldo Mendes, a Prefeitura deixará a via mais larga para comportar mais veículos nesse trecho.

De acordo com o secretário da Mobilidade (Semob), Carlos Eduardo Paschoini, tudo ficará pronto em 18 meses. “Fizemos todo um levantamento dos deslocamentos que temos hoje aqui na região do Alto da Boa Vista, para que consigamos fazer interligações viárias. Fazer não só a obra da Três de Março, mas para que todo mundo que usa a Três de Março tenha opções viárias para seu deslocamento sem ter que usar somente essa via até a Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, então, trabalhamos muito nessas obras e nesses projetos para que a gente faça essa interligação e faça uma fluidez de trânsito de forma natural”, declarou.

O poder público ressalta, ainda, que diariamente outras medidas de mobilidade são realizadas, por meio de intervenções de agentes de trânsito, cuja equipe está capacitada e recebe treinamentos constantes, para coordenar o fluxo de veículos. O acompanhamento é feito igualmente via sistema de videomonitoramento, a fim de otimizar ações pontuais e ágeis em cada ponto da cidade, inclusive na região do Alto da Boa Vista, assim como alterações no tempo de semáforos, cuja regulagem é feita por sistema digital on-line.

Aumentar transporte coletivo é opção para desafogar o trânsito

Almenara observou o trânsito durante cerca de 30 minutos na manhã de sexta-feira e constatou que a maioria dos veículos trafegava apenas com o motorista - VANESSA FERRANTI (2/6/2023)
Almenara observou o trânsito durante cerca de 30 minutos na manhã de sexta-feira e constatou que a maioria dos veículos trafegava apenas com o motorista (crédito: VANESSA FERRANTI (2/6/2023))

O engenheiro Valmir Almenara acredita que a maior utilização do ônibus como meio de transporte pelos moradores de uma cidade em desenvolvimento como Sorocaba é muito importante para o trânsito. Durante os 30 minutos em que a reportagem observou o trânsito no cruzamento das avenidas Três de Março e Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes, na manhã de sexta-feira (2), ficou constatado que praticamente todos os carros eram ocupados por apenas uma pessoa. Porém, para incentivar a população a usar o transporte coletivo, o poder público deve investir no setor.

“É importante que se diga que o ideal das coisas seria um transporte urbano que atendesse da maneira mais otimizada possível toda a população. Não estou dizendo que o nosso transporte coletivo é ruim, longe disso, mas que nós poderíamos evoluir para que as pessoas se motivassem a deixar o carro em casa e trabalhar de ônibus”, observou Almenara.

O advogado Renato Campestrini, especialista em trânsito, mobilidade e segurança viária, reforça a ideia. Ele ressalta que em pouco tempo qualquer nova via aberta é tomada por veículos automotores e cita a cidade de São Paulo como exemplo. “Antes você tinha só a Castello Branco, hoje tem a Castello Branco, com três ou quatro faixas, mais a via expressa, também com três ou quatro faixas, e têm momentos do dia em que está tudo travado. Não tem para onde escoar veículo; quanto mais você abre espaço para o automóvel, em pouco tempo ele toma conta. Isso mostra como é equivocada essa nossa opção pelo modo de transporte individual em detrimento do coletivo”.

Para os dois profissionais, além do investimento no transporte coletivo, a população também deve se conscientizar e utilizar outros modais, como a bicicleta. “A bicicleta propicia não só o meio de locomoção, como saúde física e mental. Diminuir também a sobrecarga sobre o sistema hospitalar e psiquiátrico. Você levantou de manhã e pedalou com o sol batendo no rosto, passarinho cantando, natureza... Isso aí melhora muito a qualidade de vida e a saúde mental, então, seria um grande benefício”, salienta Almenara.

Já Campestrini conclui com um questionamento. “É importante uma reflexão: até que ponto, de fato, é legal a cidade crescer como tem crescido? Aquela região da Antônio Perez Hernandez (zona sul) só tem prédios, é uma verticalização total. Não tem bolsões de estacionamento e mal consegue comportar os veículos. Então, até que ponto é importante lutar para uma cidade crescer tanto dessa forma? A demanda de veículos em Sorocaba é muito alta. A taxa de motorização na cidade é de quase um veículo para cada habitante. Então, vai chegar uma hora que se não adotarmos alternativas, não vamos conseguir sair do local, infelizmente”, lamentou.

Por sua vez, o secretário da Mobilidade (Semob), Carlos Eduardo Paschoini, enfatizou que além das obras, a cidade está investindo nos ônibus. Ressaltou que Sorocaba ainda não vive momentos de congestionamentos e, sim, de lentidões. “Você vê o crescimento da nossa população, crescimento da frota principalmente. Estamos investindo muito no transporte coletivo. É importante para nós que as pessoas utilizem o transporte coletivo, porque isso é um meio para diminuir a quantidade de carros na rua e melhorar o trânsito. Observamos que temos apenas lentidões de trânsito em horários específicos. (Mesmo assim) é ruim para a população, sabemos disso. Queremos minimizar cada vez mais isso, mas a gente quer realmente evitar que tenhamos congestionamentos no futuro”, finalizou Paschoini. (Vanessa Ferranti)

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