Elogiado por uns e duramente criticado por outros, o totem de videomonitoramento instalado na Praça do Relógio, no Centro de Sorocaba, tem atraído olhares curiosos de quem passa pelo local. A ferramenta, inaugurada no último dia 18, é uma parceria entre a Prefeitura e o Parque Tecnológico e está em fase de testes por 90 dias, ou seja, até o dia 16 de agosto. Enquanto alguns se sentem mais seguros com a tecnologia, há aqueles que acreditam que o sistema do totem não funciona corretamente e causa constrangimento aos cidadãos.

Cabe lembrar que esse tipo de avaliação é permitido na cidade desde que Sorocaba se tornou uma Sandbox, em novembro do ano passado, adotando um modelo que facilita a autorização temporária para empresas e startups desenvolverem modelos de negócios inovadores e testarem técnicas e tecnologias experimentais dentro do contexto de cidades inteligentes. De acordo com a administração municipal, a ferramenta está instalada em local de grande fluxo, justamente, seguindo o propósito de ser testada pelos munícipes.

Durante os três meses de teste, diversos critérios estão sendo avaliados com base em um termo de referência, que descreve as várias tecnologias incorporadas no equipamento e suas funcionalidades. A municipalidade explicou que estão sendo verificados, por exemplo, o tempo de resposta e a qualidade do acionamento do botão intercomunicador quando utilizado por algum cidadão, além da coleta de imagens de videomonitoramento e a transmissão de avisos sonoros à população.

O totem possui uma estrutura com aproximadamente 4,30 metros de altura e é equipado com um sistema de cinco câmeras. Quatro delas são fixas e têm a capacidade de cobrir todo o perímetro, enquanto a quinta é uma câmera full HD de 360 graus, possibilitando a captura de imagens em alta qualidade e facilitando a integração com os serviços de segurança pública do município, como é o caso da Guarda Civil Municipal (GCM). Além disso, o equipamento conta com um intercomunicador na parte inferior para atendimento aos munícipes em casos de emergência, que está em fase de ajustes finais.

O dispositivo também possui recursos como uma câmera de reconhecimento facial, um microfone, um alto-falante para divulgação de comunicados e informações de interesse público aos cidadãos, um botão antivandalismo e um sistema antitrote para evitar ocorrências falsas. O totem também é equipado com um detector de ruídos, como o som de colisões de veículos.

“Caso a tecnologia seja aprovada pela Prefeitura em suas várias funcionalidades, por intermédio da Secretaria de Segurança Urbana (Sesu), poderá ser viabilizada a instalação em vários pontos estratégicos por toda a cidade”, destacou o Executivo. Já sobre os gastos para manter o serviço após a fase de testes, a municipalidade respondeu que ainda não é possível precisar essa informação.

Sensação de segurança

A empregada doméstica Emerentina Rodrigues Gonçalves, de 40 anos, observava com curiosidade o totem instalado próximo ao Mercado Municipal. Ela mencionou que já tinha visto um dispositivo semelhante em Curitiba (PR), mas não sabia exatamente como funcionava. Em um teste realizado junto com a reportagem, Emerentina pressionou o botão de emergência do dispositivo. Uma mensagem foi imediatamente transmitida em voz alta pela tecnologia: ‘Você ligou para a central de monitoramento. Ligar sem necessidade é crime. Se realmente precisa de ajuda, aperte o botão novamente‘.

Emerentina aprovou a tecnologia, efantizando que mulheres podem ser beneficiadas com o serviço. “Eu gostei porque isso ajuda as pessoas que estão enfrentando situações difíceis. Seria interessante ter um desses perto do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) no Centro e outro próximo ao terminal Santo Antônio. Se alguém se sentir ameaçado ou com medo, poderia correr e denunciar no totem. Se uma mulher estiver passando mal ou até mesmo entrando em trabalho de parto, também seria mais fácil pedir ajuda”, opinou.

Constrangimento

Por outro lado, o universitário Gabriel Cerqueira, 28 anos, afirmou ter passado por uma situação constrangedora envolvendo o totem de videomonitoramento e decidiu apresentar uma denúncia ao Ministério Público contra a Prefeitura, Parque Tecnológico, GCM e secretários da administração municipal. Em uma publicação em seu perfil no Facebook, ele compartilhou o conteúdo da ação. Segundo seu relato, no dia 19, por volta das 16h15, Cerqueira se aproximou do relógio da praça com a intenção de fotografar as placas de bronze votivas do monumento.

De forma inesperada, ele afirma ter sido surpreendido pelo sistema de vigilância, que foi ativado e supostamente anunciou em voz alta para toda a população que ele estava destruindo o patrimônio público, alertando que sua imagem estava sendo registrada naquele momento. Na representação, Gabriel expressou sua preocupação com esse tipo de vigilância artificial, o que considera “perigoso, ultrajante e inaceitável”.

“A escravidão coletiva, deliberada, inconsciente e sem limites jamais poderá ser uma opção para a paz. Afirmar o contrário significa consentir na negação dos direitos à liberdade, à privacidade e à cultura - fruição dos espaços e dos monumentos públicos - por parte dos cidadãos”, escreveu.

Na petição, protocolada no dia 20, o universitário solicita a retirada imediata do totem, a prestação de contas pública e detalhada do projeto, a proibição de instalação futura de totens com características semelhantes ao que está em operação atualmente, além da aplicação de multas ao Poder Executivo e ao Parque Tecnológico. O MP tem 30 dias para se manifestar. (Wilma Antunes)