Sorocaba
Moradores do Brasilândia criticam poeira gerada pelo Saae
Durante os 30 minutos que a reportagem esteve no local, cinco caminhões do Saae passaram pela via
O terreno do antigo Matadouro Municipal, no Jardim Brasilância, hoje utilizado como depósito de materiais pelo Saae, tem causado dor de cabeça aos moradores e comerciantes da vizinhança. O motivo são os inúmeros caminhões que entram e saem do local -- altura do número 1.900 da rua Paes de Linhares -- transportando terra e levantando nuvens de poeira que invadem casas e galpões e sujam cozinhas, banheiros e até veículos nas oficinas próximas. Além das questões materiais, a poeira virou problema de saúde pública, principalmente no outono, estação em que as doenças respiratórias costumam aparecer.
E o transtorno, de acordo com as pessoas entrevistadas, não é de hoje. O mecânico Rogério Leite possui uma oficina a poucos metros do terreno e garante que o tráfego intenso de caminhões ocorre desde que abriu sua oficina, há oito anos. “Agora piorou. Desde o mês passado está impossível. Se eu colocar o carro do cliente na rua, tenho que lavar para entregar. Quando a oficina estava em outro local, era um ‘brinco’, agora está cheia de pó, não tem condição”, conta.
Durante os 30 minutos que a reportagem esteve no local, cinco caminhões passaram pela via. “Pelo que a gente vê, toda a terra que eles tiram da cidade, trazem para cá. E daqui encaminham para outro lugar, aí fica esse fluxo de caminhão. Mesmo que molhe a rua, não ameniza, porque vira barro e, na hora que seca, a poeira volta. Tem que mudar de local, colocar em um lugar mais afastado. Dias atrás o dono de outro estabelecimento começou a filmar os caminhões passando e o motorista do caminhão foi brigar com ele”, contou o mecânico.
Em outra oficina próxima ao terreno utilizado pelo Saae, o problema é o mesmo: poeira para todo lado, na escada, cozinha, janelas e banheiro. Do segundo andar da oficina é possível ver os caminhões de terra trabalhando dentro do terreno. “Limpei a cozinha e olha como está de poeira. Isso é constante. Daqui da janela dá para ver que não parou o trabalho deles. É o dia todo. Às 7h da manhã, quando chego aqui, já tem caminhão (carregado de terra) passando na rua”, disse o mecânico e proprietário da oficina, Cezar Marcelo Bergman.
A única maneira de reduzir a entrada da poeira nos cômodos é manter as janelas e portas fechadas, o que se torna impossível para um estabelecimento comercial. “Desde o último mês, o negócio ficou fora de controle. Ontem, o rapaz do comércio da esquina contou o número de caminhões que passou na rua. Somente na parte da manhã, foram 32 caminhões de terra. O Saae fala que não tem mais atividade ali, mas tem sim”, afirmou Bergman.
Ele confirma que, vez ou outra, o Saae manda um caminhão pipa para molhar a rua, com o intuito de amenizar a poeira. Mas, “não adianta nada, porque seca e já volta a poeira”. Para o proprietário da oficina, é preciso desviar o fluxo dos caminhões. “Os caminhões saem com os pneus sujos e vão soltando a terra aqui na rua. Por conta do fluxo intenso daqui, levanta uma poeira tremenda”.
“Falta de respeito”
João Gomes é gerente do posto de combustíveis localizado em frente ao terreno e considera a situação uma falta de respeito. “Há dois anos trabalho aqui. Mandei mensagem para o Saae há um ano e até hoje não tive resposta. Liguei na Prefeitura e eles falaram que a responsabilidade é do Saae. Só que o Saae presta serviço para a Prefeitura, então ela tem que fiscalizar. É uma falta de respeito sem tamanho isso que eles estão fazendo aqui”.
“Mais de 100 caminhões saem do terreno carregados de terra todos os dias. Se for somar os que entram também, passa de 100. É só você ficar aqui observando. Dá a entender que aí é um depósito de rejeito. É essa a impressão que dá”, disse o gerente.
Para Gomes, uma solução é encerrar as atividades no local. “Tem que tirar esse negócio daí ou encontrar um jeito de não ter terra na rua. Mas eles precisam dar um jeito e manter a rua limpa. Dias atrás estava parecendo rua de sítio. Não tem condição isso aí. Você não pode deixar uma porta aberta. Tive que tirar as mesas que eu tinha na parte de fora da conveniência. Sem contar a poluição”.
Segundo o gerente do posto de combustível, nesta semana intensificaram a entrada e saída de caminhões. O gerente afirma ainda que a terra que entra no terreno é rejeito retirado do desassoreamento que está sendo feito no rio Sorocaba. “Eles estão tirando essa terra de algum lugar. Eu fui conversar com um funcionário do Saae que estava ali e ele disse que essa terra é do rio Sorocaba”.
O gerente também presenciou a briga entre um dos comerciantes da rua e o motorista de um caminhão. “Um caminhoneiro arrumou confusão porque ele (comerciante) filmou a situação para colocar nas redes sociais. Eles ficam bravos e ameaçam os moradores, parece até que nós é que estamos cometendo um crime. Encher a casa dos outros de pó pode”.
Advogado faz requerimento
O advogado Marcelo Alves Rodrigues tem um escritório de advocacia próximo ao local e fez um requerimento ao Saae na semana passada. Assim como os outros moradores, ele considera que o problema da poeira foi se intensificando desde o início do ano. “Fui até o Saae e fiz um requerimento para que eles abrissem um processo e tomassem alguma medida. Agora vão instaurar um processo interno”, explicou.
Para ele, o problema é uma questão de saúde pública: “Estamos respirando poeira há bastante tempo. É perigoso até mesmo por conta do outono, de problemas respiratórios. Estamos passando por uma situação complicada”. O advogado disse que precisou trocar a fechadura do portão do escritório devido à poeira, que causou desgaste.
Rodrigues afirma, ainda, que a questão da poeira é de conhecimento do Saae. “Eles têm conhecimento do problema, tanto é que mandam caminhão pipa para amenizar esse pó. Só que é um caos e não adianta nada, porque cinco minutos depois que o caminhão passa, volta o pó”.
O que diz o Saae
Em nota, o Saae/Sorocaba informou que a referida área é usada como entreposto pela autarquia, para depósito de materiais para serem utilizados em aterros e pavimentações realizados pela autarquia, como parte dos serviços de manutenção executados nas diferentes regiões da cidade. A autarquia disse que uma equipe realiza a limpeza da rua nas proximidades duas vezes por semana, acrescentando que a via é molhada para evitar a poeira. “Com relação à área do antigo Matadouro Municipal, nos arredores desse local citado pela reportagem, o Poder Público segue buscando recursos para a recuperação do imóvel tombado, bem como analisa qual a melhor destinação para a utilização dessa área e seu entorno”.
Em relação ao material retirado do desassoreamento do rio Sorocaba, o Saae explica que a rua era usada apenas como passagem de veículos. “Após a coleta do sedimento que se formou no leito do rio, o material era depositado na margem, para a adequada pré-secagem e, depois, levado por caminhões para uma área de descarte apropriado, na zona norte. Para a execução desses trabalhos, o Saae/Sorocaba cumpriu todas as normas de licenciamento ambiental, seguindo também os mais modernos requisitos de engenharia”. (Virgínia Kleinhappel Valio)
Galeria
Confira a galeria de fotos