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Impunidade

Grupo ajuda mulheres a solucionarem conflitos

"Advogo Para Elas" presta assistência jurídica em situações como guarda de filhos e violência doméstica

21 de Abril de 2023 às 23:03
Wilma Antunes [email protected]
Elaine Pascuin é mãe da influenciadora Carol Pascuin
Elaine Pascuin é mãe da influenciadora Carol Pascuin (Crédito: Arquivo Pessoal)

“Viver sem a Carol é um caos”. Essa frase curta e simples carrega um peso enorme para a psicóloga Elaine Pascuin, uma mãe que teve sua vida completamente destroçada após a perda trágica da filha. A influenciadora Anna Carolina Pascuin Nicoletti, ou Carol Pascuin, como era conhecida por muitos, foi assassinada com um tiro na cabeça, no dia 13 de novembro de 2021, em Sorocaba. O acusado pelo crime é o ex-padrasto Eduardo de Freitas Santos.

Desde então, Elaine tem enfrentado todas as fases do luto, vivenciando a dor insuportável da perda de um ente querido. Mas, em meio a essa dor, ela encontra a força necessária para continuar, dia após dia. E, agora, ela usa sua própria experiência para ajudar outras mulheres que também foram vítimas de violência.

Em colaboração com outros profissionais, a psicóloga Elaine Pascuin é integrante do grupo Advogo Para Elas (@advogoparaelas). Apesar do nome sugestivo, a organização não se limita a prestar assistência jurídica às mulheres vítimas de violência. Como assistente técnica forense, Elaine conduz oficinas para apoiar mulheres que enfrentam questões de guarda de filhos, violência doméstica e outros desafios legais. O grupo, formado exclusivamente por mulheres, é composto por psicólogas e advogadas.

“Nos primeiros dois meses após a morte da Carol, tudo parecia insuperável para mim. Eu me vi perdida, sem saber como seguir adiante. Eu não conseguia nem olhar para ela, nem no caixão. Era como se, se eu não a visse morta, ela ainda estivesse viva. Apenas aceitar sua morte foi um processo demorado e doloroso para mim. No entanto, tive o privilégio de contar com o apoio das justiceiras, que me atenderam e ouviram tudo o que eu precisava dizer. Falar sobre a minha dor e a perda da minha filha me ajuda a superar e lidar melhor com tudo isso. Eu me sinto mais livre e aliviada quando coloco tudo para fora”, diz Elaine.

A inserção de Elaine nesse universo aconteceu gradualmente. A psicóloga revelou que, inicialmente, não conhecia nenhum grupo de apoio, mas que pessoas sensíveis à sua situação começaram a apresentá-la a entidades assistenciais.

Um dia, uma amiga disse a Elaine que o grupo Advogo para Elas estava em processo de seleção de novos membros. Decidida a tentar, ela se candidatou e conseguiu a vaga. Hoje, atua ao lado de outras 24 mulheres, prestando apoio, ajuda e promovendo justiça às mulheres fragilizadas, sem receber qualquer remuneração.

Além da dor de perder a filha, Elaine também teve de enfrentar o machismo e o julgamento da sociedade, como se ela fosse culpada pelo assassinato da própria filha. “Eu vi muitos comentários absurdos, do tipo: ‘como essas mães colocam qualquer um em casa?’. Não era qualquer um, era o meu marido, que por sinal é muito dissimulado. Eu nunca deixei minha filha sozinha com ele, mas ele aproveitou oportunidades. Os abusos eram tão sutis que ela só percebeu quando houve estupro. Ela ficou com medo. Tenho um amigo que deixou de falar comigo, sinto que me julgam culpada”, desabafa.

Embora a psicóloga canalize toda a sua indignação e sofrimento por meio de ações sociais, a impunidade do ex-marido é algo que a assombra. Isso porque Eduardo, que é advogado, foi preso temporariamente no dia 24 de novembro de 2021 e solto no dia 24 de janeiro de 2022.

Antes disso, em 2017, ele já havia sido preso suspeito de estuprar uma adolescente de 17 anos e divulgar as imagens no WhatsApp. “Eu fico indignada, porque a revolta não ajuda em nada. É uma coisa extrema, como a ira. Já a indignação é um propulsor para que a gente faça alguma coisa. Não é possível uma pessoa com tantos crimes nas costas ainda estar solta, desfrutando da vida, namorando, festejando, indo ao supermercado, como se nada tivesse acontecido. As pessoas encontram com ele (Eduardo) e levam um susto. Ou é a certeza da impunidade, ou é muita loucura”, finaliza. (Wilma Antunes)