Creches municipais
Sindicato apura desvio de função de nutricionistas em Sorocaba
O Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo apura denúncia de irregularidades contra uma empresa de alimentos contratada pela Prefeitura de Sorocaba. De acordo com os relatos, as nutricionistas da empresa Pack Food, responsáveis pela supervisão da comida disponibilizada para as crianças de creches e escolas municipais estariam sobrecarregadas, sofrendo com o desvio de função há pelo menos três anos.
Pessoas que preferiram não se identificar também procuraram o Cruzeiro do Sul para fazer a denúncia. Elas contam que cada nutricionista faz a supervisão de dez unidades do município. Porém, trabalhos que não são de responsabilidade desses profissionais estariam sendo repassados a eles, como entregas de alimentos e produtos às escolas, retiradas de planilhas quinzenais, além da entrega e retirada de cartões de ponto e holerites para as cozinheiras. “A agenda dos supervisores não batem com a realidade do dia a dia. No cronograma, as coordenadoras não descrevem o que realmente é realizado pelos supervisores. Se faltar água na escola quem vai levar água mineral são os supervisores, lembrando que os recipientes de água contém 20 litros cada, tudo isso porque não tem fornecedor direto”, explicou.
Ainda de acordo com a denúncia, entre os alimentos remanejados estão carnes bovinas, suínas e frangos. Para fazer o trabalho, os funcionários estariam realizando o transporte dos produtos nos próprios carros. “Os veículos não são apropriados, estraga as coisas. Isso é errado e as nutricionistas são obrigadas a fazer”.
A dinâmica é confirmada em outro relato de que as entregas de materiais de limpeza, por exemplo, são feitas com atraso e os supervisores precisam fazer o remanejamento entre as escolas, devido a falta desses materiais. “Produtos que não são entregues nas escolas vão para o escritório para os supervisores entregarem nas unidades”.
A mãe de dois alunos que estudam em escolas da zona norte relatou ao Cruzeiro do Sul que presenciou uma situação parecida. “Eu vi uma nutricionista colocando carnes e verduras dentro do carro dela para entregar em outra escola, sendo que os alimentos têm que ser entregues direto na escola, mas parece que falta de uma (escola), eles levam em outra e não usam nem caixa de isopor”, informou.
A reportagem também recebeu uma foto registrada por uma vizinho em julho do ano passado. A imagem mostra alimentos sendo carregados em um carro por uma nutricionista e merendeiras, em frente a uma escola localizada na Vila Fiori. Na ocasião, o morador fez a imagem, pois pensou que a comida estaria sendo furtada pelas profissionais, porém, segundo os relatos, a escola teria esclarecido que tratava-se apenas do remanejamento dos produtos.
Ao Cruzeiro do Sul o Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo informou que está a apurando a denúncia. O órgão questionou a empresa responsável e deve marcar, em breve, uma reunião com as nutricionistas. “O sindicato irá agendar uma reunião com as nutricionistas da empresa para verificar a situação e ver se as denúncias procedem ou se é tal qual a empresa informou”.
Respostas
O Cruzeiro do Sul entrou em contato com a empresa Pack Food e, também, com a Prefeitura de Sorocaba. Em nota, a empresa respondeu que ainda não houve a reunião com o sindicato, mas já enviou todas as informações solicitadas pelo órgão acerca das questões narradas na denúncia. A empresa disse ainda que “as denúncias realizadas têm clara intenção de macular a imagem da empresa, sendo que todas são desprovidas de qualquer comprovação, demonstrando apenas uma perseguição de caráter malicioso para com a empresa Pack”. Já sobre os alimentos, a Pack Food ressalta que eles são distribuídos através de operador logístico da empresa, não sendo realizado pelas nutricionistas. “Tal situação é inverídica, já que é totalmente impossível uma nutricionista realizar o transporte de alimentos para centenas de alunos atendimentos pela Pack”.
A empresa informou, ainda, que as nutricionistas são responsáveis pela verificação de quantidade de alunos, análise do estoque de suprimento, anotações de sua rotina de trabalho, sendo que esses serviços não podem ser considerados como desvio de função, face a sua natureza intrínseca com os serviços de supervisão. Também foi afirmado que não há prejuízo algum com relação à refeição, “já que a denúncia se baseia em situações inverídicas, tanto que a empresa realiza pesquisas de satisfação junto à direção escolar, tendo desde o início do contrato atingido ótimos índices.”
A empresa afirma ainda que verificou junto às nutricionistas sobre eventuais descumprimentos de suas rotinas, reforçando as suas atividades. “Se algum colaborador venha a tomar alguma medida que seja contrária à política interna da empresa, a empresa estará tomando as medidas necessárias para correção da conduta”, finaliza a nota.
Já a administração pública informou que a Secretaria da Educação recebeu as denúncias, embora tenham sido feitas de forma anônima (não sendo possível verificar sua origem). A Prefeitura relata que assim que tomou conhecimento, a Divisão de Alimentação Escolar notificou a empresa para que apresente sua defesa e, na sequência, a Sedu encaminhou também uma advertência à empresa. Sobre a fiscalização, a pasta diz tratar-se de ação feita diariamente pela direção da unidade escolar e, em paralelo, pela Divisão de Alimentação Escolar. “A verificação interna já está em andamento e, sendo comprovadas as ações denunciadas, serão tomadas todas as medidas cabíveis e previstas em contrato, obedecendo ao que estabelece a Lei nº 8.666/93, sob a qual foi firmado”, concluiu em nota.
Sobre a foto das profissionais colocando o alimento no veículo, a empresa informou que, em consulta à coordenadora da escola, ela disse que a situação de fato aconteceu, porém, se tratou de readequação emergencial de pequena quantidade dos alimentos entre as escolas. A Pack Food ressalta que posteriormente todas as nutricionistas foram orientadas sobre o procedimento para o remanejamento de alimentos, que devem ser feito pela logística da empresa na cidade. A Secretaria da Educação (Sedu) disse que não tem conhecimento dessas informações. (Vanessa Ferranti)