Sorocaba
Funcionários de terceirizada da Prefeitura reclamam de atraso nos salários
Auxiliares de limpeza que atuam nos PAs apontam outros problemas
As auxiliares de limpeza terceirizadas que trabalham nas unidades de Pronto Atendimentos (PAs) de Sorocaba estariam recebendo os salários e benefícios com atraso todos os meses. A afirmação é de pelo menos duas funcionárias do Grupo Safe, contratado pela Prefeitura para prestar o serviço. Outro problema seria o não pagamento do salário-família, um direito das mulheres com filhos de até 14 anos. Além disso, as trabalhadoras alegam sofrer assédio moral e reclamam da falta de produtos de limpeza, bem como de itens de higiene.
Segundo uma auxiliar, que preferiu não ser identificada, os problemas ocorrem desde o início da operação do Grupo, em setembro de 2022. Ela se diz indignada, principalmente, com a demora para o depósito dos salários e benefícios. A mulher explicou que o salário deve ser pago até o quinto dia útil de cada mês. Porém, os valores sempre entram na conta bancária cerca de cinco a seis dias depois. Neste mês, segundo a trabalhadora, o pagamento, que deveria ter sido creditado até terça-feira (7), ocorreu apenas na quinta-feira (9). Por conta dessa situação, ela não consegue pagar as contas nas datas de vencimento e acaba tendo prejuízo. “O cartão em que faço a compra venceu ontem (quarta-feira, dia 8). Hoje (quinta-feira, dia 9), já tem R$ 123,00 de juros, e isso eles (empresa) não vão pagar”, explicou.
Conforme a entrevistada, no caso do vale-transporte, o atraso é maior, frequentemente. Ela informou já ter recebido o valor até uma semana após a data do pagamento. E a sua situação não foi a pior. “Para algumas pessoas, atrasou até 15 dias”, contou. De acordo com ela, quando isso acontece, as próprias funcionárias precisam custear as passagens de ônibus. “E não tem reembolso”, pontuou, exemplificando ter gasto, uma vez, R$ 60,00 em uma semana.
Já o vale-alimentação e o auxílio cesta básica, cujos dias de depósito são 1º e 20, respectivamente, costumam ser disponibilizados com três a quatro dias de atraso. Segundo a mulher, isso também prejudica as trabalhadoras. “Teve gente que precisou pegar cesta básica na Prefeitura para complementar a alimentação, porque não tinha em casa”, contou.
Outras reclamações
Outra auxiliar de limpeza, que também quis ter a identidade preservada, confirmou os problemas relatados pela colega e mencionou outras dificuldades. De acordo com ela, o grupo especializado em higiene e limpeza não paga o salário-família para todas as que têm direito. A lista de irregularidades ainda inclui a falta de produtos de limpeza e de itens de higiene. Segundo essa funcionária, por causa disso, os superiores orientam as equipes a racionar os materiais. “Eles (nos) mandam misturar produtos com água, o máximo que puder, para economizar, reutilizar saco de lixo, colocar pouco papel toalha e papel higiênico”, afirmou. Segundo ela, a diluição dos produtos interfere na sua eficácia e, consequentemente, na eficiência da limpeza. Ela considerou esses pontos preocupantes, pois, em se tratando de hospitais, há secreções, vírus, bactérias, dentre outros contaminantes, que podem não ser completamente eliminados. “É água pura”, comentou. “Temos que usar os produtos certos, e eles não fornecem”, emendou.
O Grupo Safe foi contatado pela reportagem para comentar sobre os problemas citados pelas funcionárias, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.
Prefeitura explica
Questionada pelo Cruzeiro do Sul, a Prefeitura de Sorocaba informou que o pagamento das auxiliares de limpeza foi efetuado na quinta-feira (9), pela Safe. “O Grupo Safe comunicou que havia realizado o pagamento no dia correto, porém, foi estornado por motivos desconhecidos pela Prefeitura, quando foi providenciada a devida correção para a data de ontem (quinta-feira, dia 9)”, explicou a Secretaria de Comunicação (Secom), em nota enviada ao jornal.
A Prefeitura esclareceu que as Secretarias da Saúde (SES) e da Administração (Sead) realizam a conferência dos documentos da empresa para efetivar o pagamento da nota fiscal mensal. Segundo a resposta enviada ao Cruzeiro, a municipalidade informou que “não foram localizadas inconformidades na checagem documental, seja para vale-transporte ou vale-refeição”.
Quanto ao salário-família, a Prefeitura afirmou que, “de acordo com o observado nos holerites dos funcionários que possuem filhos dentro da idade estabelecida, está sendo pago normalmente, conforme determina a lei”.
A respeito de possíveis casos de assédios moral entre os funcionários da empresa contratada, a administração municipal disse que “a coordenação da unidade pode relatar, inclusive no relatório mensal, para que a SES possa estar ciente e tomar todas as medidas cabíveis”. No entanto, “até o presente momento, não houve relato dessa natureza”.
Referente aos produtos de limpeza, a Prefeitura explicou que alguns precisam de diluição, porém, “caso a manipulação desses itens esteja sendo feita de forma irregular, a coordenação deve informar, também via relatório mensal”. A administração municipal acrescentou que não houve registro desse tipo até o momento.
Por fim, a nota da Prefeitura ao Cruzeiro do Sul informou que o setor de Fiscalização de Contratos da SES já atua de forma preventiva, de modo a evitar que intercorrências aconteçam, aplicando sanções, quando necessário, visando o controle e o acompanhamento do fiel cumprimento das obrigações assumidas pelas partes. “Todavia, a Fiscalização ainda será intensificada”, concluiu. (Vinicius Camargo)