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Insegurança

Clube fechado desde setembro é alvo de furtos e preocupa vizinhos; vídeo

Antiga sede da AABB está em situação de abandono; prédio foi depredado e abriga usuários de drogas

21 de Fevereiro de 2023 às 23:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Falta do telhado no antigo salão acusa o abandono do imóvel que abrigou a Associação Atlética do Banco do Brasil
Falta do telhado no antigo salão acusa o abandono do imóvel que abrigou a Associação Atlética do Banco do Brasil (Crédito: CEZAR RIBEIRO (16/2/2023))

Piscinas, quiosques, academia, lanchonete, salão de jogos e de festas. Essa era a estrutura que a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), de Sorocaba, oferecia aos sócios antes do clube encerrar as atividades em setembro de 2022.

Hoje, quem passa pela rua Laura Maiello Kook, no Jardim Novo Mundo, zona oeste da cidade, depara-se com um imóvel abandonado e depredado, de propriedade da Federação Nacional das Associações Atléticas do Banco do Brasil (Fenabb), sediada em Brasília. A entidade, por sua vez, diz estar providenciando a venda do imóvel e afirma que promoverá ações para preservar o local e inibir novos atos de vandalismo.

Janelas e paredes quebradas, vidros e pedaços de granito por toda parte, mato alto e muitas salas sem o forro de gesso, destruído por pessoas que aproveitam o abandono do imóvel para furtar alumínio, fiação elétrica, torneiras, corrimão e tudo o que se possa tirar de um local abandonado.

Até mesmo o portão da entrada e saída do clube foi furtado. Nas imagens feitas pelo jornal Cruzeiro do Sul, é possível ver um homem levando material do segundo andar do imóvel.

 

Torneiras foram furtadas e pias quebradas pelos atuais frequentadores do prédio - CEZAR RIBEIRO (16/2/2023)
Torneiras foram furtadas e pias quebradas pelos atuais frequentadores do prédio (crédito: CEZAR RIBEIRO (16/2/2023))

Os quiosques que antes serviam para comemorações estão destruídos. Por todos os ambientes, paredes com umidade e água no chão, vinda dos inúmeros vazamentos existentes no imóvel. O salão de festas do segundo andar, cenário de muitos casamentos e comemorações de aniversário, está sem o telhado e com muito alumínio caído no chão.

O cheiro forte de urina, as garrafas de cervejas espalhadas, as latas cortadas ao meio (usadas para fumar crack) e até mesmo um calendário de 2023 pregado na parede demonstram que o local não só se tornou moradia de algumas pessoas, mas também um ponto onde podem usar entorpecentes sem serem flagrados ou incomodados.

Quem sofre as consequências são os vizinhos. Michele Santos da Silva faz parte da Congregação Irmãs da Providência, que fica ao lado do antigo clube. “Algumas pessoas passaram a depredar o clube, furtando a fiação elétrica, portão de entrada, caixa de energia, janelas, lâmpadas e torneiras. Tivemos de acionar o Saae para fechar a água que vazava. É possível ver de fora a situação do prédio”, conta.

Transtornos

Desde dezembro de 2022, o imóvel da congregação foi furtado quatro vezes. Segundo Michele, essas pessoas começaram a pular o muro do antigo clube para tentar furtar os pertences da congregação. “Tentaram furtar uma bicicleta e também subiram no telhado para furtar os fios do para-raios, que são de cobre”. A solução foi contratar um vigia e instalar cercas elétricas.

Furto acontecia mesmo enquanto a reportagem estava no local - CEZAR RIBEIRO (16/2/2023)
Furto acontecia mesmo enquanto a reportagem estava no local (crédito: CEZAR RIBEIRO (16/2/2023))

Para furtar o que restou no antigo clube, as pessoas utilizam marretas. “O barulho das marteladas para arrancar janelas são constantes, principalmente à noite.” Ela comenta que já viu esse material furtado sendo levado do imóvel por carros, caminhões e até mesmo carrinho de mão.

Michele acionou a Polícia Militar muitas vezes, mas quando a PM chegava ao local, não havia mais ninguém. No início deste mês, a congregação entrou em contato com a PM, dessa vez, por meio do Programa Vizinhança Solidária: “Eles têm marcado presença na rua e na nossa casa. Mas as marteladas continuam.”

Além dos furtos e abandono, a piscina do clube está sem manutenção. De acordo com a Secretaria da Saúde de São Paulo, cerca de 80% dos focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, estão dentro das residências e em locais como piscinas.

Michele afirma que comunicou a situação na Ouvidoria da Prefeitura de Sorocaba e encaminhou para a secretaria responsável. “Espero que possamos tornar visível essa importunação e que os proprietários e os órgãos competentes tomem as medidas necessárias”, pondera.

Questionada, a Zoonoses do município informou que uma equipe de técnicos esteve no local e o proprietário do imóvel será notificado para adequação do mesmo acerca das normas de segurança sanitária.

Caso não realize os reparos necessários, em até 15 dias após o recebimento da notificação, o responsável será multado de acordo com a Lei nº 8.354, de 27 de dezembro de 2007. Os valores podem chegar a R$ 1.713,00, por autuação.

Falta de organização

A empresária Jéssica Favero tinha uma cantina na AABB e disse que fechou o estabelecimento devido à falta de organização: “Estava ficando cada dia mais ‘largado’. As pessoas levavam coisas da própria casa e não consumiam na cantina. Aí ficava exaustivo!”.

Ela conta que o salão de festas era usado com frequência pelos sócios: “Fazíamos roda de samba lá. Também fizemos um evento para a Casa do Menor, com 500 pessoas.” O chá de bebê do filho de Jéssica também foi feito no salão da AABB, em 25 de julho de 2022, poucos meses antes de o clube encerrar as atividades.

Jéssica comenta que estava indo ao mercado próximo à AABB na última quinta-feira (16) e decidiu passar no imóvel: “Me deu até vontade de chorar. Tive muitos momentos bons naquele lugar e foi meu ganha-pão por muitos anos. Me auxiliou a pagar as contas e proporcionar lazer aos meus filhos”.

Última gestão aponta descaso da federação

  - ARQUIVO
(crédito: ARQUIVO)

A ex-presidente do clube na gestão 2020-2024 -- que pediu para ter a identidade preservada -- afirma que deixou a função em setembro de 2022 devido a um problema de saúde, mas, também, por conta do descaso por parte da Federação Nacional das Associações Atléticas do Banco do Brasil (Fenabb): “Era falta de resposta para tudo o que eu solicitava!”.

Ela conta que notificou diversas vezes a Fenabb a respeito dos inúmeros problemas do imóvel, inclusive, a segurança: “Avisei que após os funcionários da portaria terem sido demitidos, eles tinham de colocar outra vigilância. Mandei orçamentos de empresas e eles nunca tomaram providência.”

As piscinas que faziam parte da estrutura do clube hoje estão sem tratamento e são motivo de preocupação por partes dos vizinhos - EDNILSON JODAR LOPES (16/2/2023)
As piscinas que faziam parte da estrutura do clube hoje estão sem tratamento e são motivo de preocupação por partes dos vizinhos (crédito: EDNILSON JODAR LOPES (16/2/2023))

Ainda, de acordo com a ex-presidente, o nível de endividamento do clube foi aumentando a cada dia. Meses depois que ela assumiu a função, o clube foi fechado temporariamente por conta da pandemia de Covid-19, o que fez com que muitas pessoas cancelassem a mensalidade.

“Tinha muito processo trabalhista e houve também uma dívida que foi cobrada judicialmente. Nesta cobrança, veio uma ordem judicial para penhorar o prédio. Então, a Fenabb pagou essa dívida e decidiu que fecharia o clube. Nesse momento, eu saí da função. Me arrependo apenas de não ter saído antes”, diz.

O que diz a Fenabb

A AABB Sorocaba é uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, tal qual todas as demais AABBs do Brasil, cujos responsáveis são os próprios associados, representados por diretorias eleitas.

Segundo o vice-presidente da Fenabb, Clodoaldo Soares, a última diretoria afastou-se do clube devido aos sucessivos mandatos temerários com malversação dos recursos do clube, ausência de associados e receitas e o encerramento das atividades já sem associados que pudessem reorganizar a gestão e assumirem a responsabilidade integral da associação.

A Fenabb então assumiu as ações para a alienação do patrimônio e demais desdobramentos, “visto a preservação da marca Banco do Brasil”.

O vice-presidente afirma ainda que a Fenabb está adotando as providências possíveis com o objetivo de promover a imediata venda do imóvel, nomeando um administrador provisório, “que estará à frente das ações necessárias para a preservação do patrimônio e inibição de novos atos de vandalismo e depredações.”

Fiscalização

A reportagem do Cruzeiro do Sul questionou a Prefeitura de Sorocaba sobre a fiscalização do imóvel abandonado. Em nota, a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento (Seurb) afirmou que “a equipe de Fiscalização de Obras esteve no imóvel e constatou que o mesmo está cumprindo a Lei nº 7.744/2006, a qual prevê que os proprietários de casas ou barracões vazios ficam obrigados, desde que comprovado seu abandono, a vedar portas e janelas do imóvel, o que foi devidamente constatado”.

No entanto, a reportagem constatou que os responsáveis pelo prédio não estão cumprindo a lei. As inúmeras portas e janelas não estão vedadas, bem como a entrada do imóvel.

Já a Polícia Militar, por meio do 7º Batalhão de Polícia Militar do Interior (7º BPM-I), afirma que a fiscalização do prédio e eventual estado de abandono é de atribuição da prefeitura, cabendo à Polícia Militar o planejamento e execução do policiamento externo. A PM afirma ainda que o patrulhamento no local será intensificado. (Virginia Kleinhappel Valio)

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