Temporal
‘Chovia sem parar, sem dar uma trégua’
Moradora de Bertioga, natural de Itu, e turistas sorocabanos relatam dificuldades durante temporal
O temor de mais chuvas permanece nas cidades do litoral norte de São Paulo, após os estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram a região no último sábado (18). É o que relatam uma moradora de Bertioga e turistas sorocabanos que estão no Guarujá e Ubatuba. Durante o temporal, eles viveram momentos de tensão, como alagamentos, pessoas desabrigadas e veículos sendo arrastados pela enxurrada. Ontem (20), as consequências dos danos ainda eram visíveis nas ruas. Alguns bairros continuavam cheios de lama e muitas famílias se abrigaram em escolas.
Jaíne Aparecida Leite Dias, de 30 anos, é natural de Itu e se mudou para Bertioga há um mês e meio, depois de passar em um concurso público na prefeitura da cidade. De acordo com a professora, nesse período, ela já presenciou muita chuva e pontos de alagamentos, mas dessa vez foi bem pior. Segundo Jaíne, o temporal chegou com muita força e demorou horas para passar. “Chovia sem parar, sem dar uma trégua. Foi muito mais forte do que eu já tinha visto”, conta. O bairro Maitinga, onde ela mora, é um dos locais atingidos.
A funcionária pública conta que a rua de sua casa ficou alagada e a água chegou na altura do joelho. Na segunda-feira (20), a inundação havia baixado, porém os moradores ainda estavam com dificuldades para deixar suas casas. “Aqui na minha rua, estamos conseguindo sair, só que a rua está bem ruim. Dá para caminhar, mas ainda têm muitas poças. Está bem complicado de se locomover na cidade, eu não tenho carro, ando bastante com carro de aplicativo e está difícil para pedir, porque, em muitos bairros, eles não querem entrar”, relata.
Jaíne mencionou, que até ontem, havia ruas interditadas, bairros cheios de água e pessoas ilhadas nas casas em Bertioga. Além disso, pelo menos 17 famílias continuavam desalojadas, a maioria de Boraceia, bairro na divisa com São Sebastião. Atualmente, os moradores desalojados estão abrigados em uma escola, recebendo alimentos, roupas e outras doações. “Tenho conhecimento de vários bairros com alagamento, na Riviera de São Lourenço (bairro de Bertioga) teve prédio com estacionamento subterrâneo em que a água chegou a dois metros de altura. Tenho colegas que não estão conseguindo sair de casa. A cidade está em estado de calamidade pública, decretado pelo Governo do Estado. O município já está arrecadando cestas, mantimentos e colchões para essas famílias”.
O empresário João Vitor Braguin Alves, de 23 anos, está na praia da Enseada, em Guarujá, há quatro dias. Segundo ele, o temporal alagou vários pontos e estabelecimentos comerciais. Por causa disso, na noite de sábado (18) ele ficou ilhado no apartamento onde está hospedado. “Ia pedir comida, mas todos os restaurantes estavam fechados.
De acordo com o turista, a enxurrada também arrastou veículos para córregos. Ele disse que, quando as enchentes começaram, motoristas se desesperaram. “Pessoas estavam voltando na contramão, para não passar em lugares alagados”. Conforme o empresário, ainda por conta da tempestade, a maré subiu, levando lixo e sujeira para a praia.
Segundo o sorocabano, no domingo (19) a água já havia baixado, mas alguns locais continuavam inundados. Por isso, quiosques e restaurantes permaneceram fechados. Já ontem (20), informou que a situação havia melhorado e era possível até circular de carro. Mesmo assim, de acordo com ele, ao contrário do habitual para a época, a cidade estava mais vazia. “Não está com clima de Carnaval, nem um pouco”. Alves pretende retornar para Sorocaba hoje (21), mas está receoso por causa da condição das rodovias.
Ubatuba
A preocupação é compartilhada pelo estudante de medicina veterinária João Paulo Bassichetti Ribeiro, de 22 anos. Com um grupo de amigos, ele foi de ônibus à praia Grande, em Ubatuba, no sábado (18) e planeja voltar da mesma maneira hoje (21). Porém, a depender do estado das vias, a linha de transporte pode estar indisponível. Com isso, o regresso é incerto, e Ribeiro busca outra alternativa. “Estamos analisando aplicativos para voltarmos embora, talvez, de carro. Também estamos pensando em questões de segurança. Estamos cercados por serras e se houver mais deslizamentos talvez não tenhamos como voltar de ônibus. Estamos um pouco aflitos com isso.”
A hospedagem do universitário fica na região central do município. Conforme ele, a área não sofreu danos, mas houve alagamentos em várias outras. O sorocabano comentou que há temor de novos temporais e estragos tanto entre moradores quanto visitantes. (Vanessa Ferranti e Vinicius Camargo)
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