Denúncia
Engenheiro diz que foi pressionado por ex-secretário; veja o vídeo
Vídeo da oitiva mostra como teria sido negociação para fraudar valor de imóvel da Sedu

O engenheiro Areobaldo Negreti, ex-servidor da Prefeitura de Sorocaba, disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que o ex-secretário de Administração, Fausto Bossolo, o pressionou a aceitar propina de R$ 20 mil. O dinheiro teria sido oferecido em troca de um novo laudo de avaliação de preço do prédio da Secretaria da Educação (Sedu), que foi comprado pelo Executivo por R$ 29,8 milhões -- R$ 10,3 milhões a mais que o preço avaliado pelo mercado. O jornal Cruzeiro do Sul teve acesso ao vídeo da oitiva de Negreti e separou os principais pontos nesta reportagem. Confira os destaques:
Procurado fora do expediente
De acordo com os autos processuais, Bossolo teria oferecido propina para o engenheiro, em novembro de 2021, época em que fazia parte da Secretaria Municipal de Planejamento. Negreti complementou essa informação durante o depoimento. Segundo ele, o atual secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (Sedettur), Paulo Henrique Marcelo, o procurou fora do expediente para tratar o assunto.
“Eu já tinha saído do meu horário de trabalho. Ele [Paulo] pediu que a minha chefe tentasse falar comigo para perguntar se eu poderia retornar lá para conversar com ele. Eu retornei, ele disse queria falar comigo, mas não disse que era urgente. Eu fui até o gabinete e ele disse para irmos na Administração conversar com o Fausto. O Paulo me apresentou como a pessoa que iria ajudá-los”, disse.
Contas da Educação
Segundo Negreti, Bossolo teria dito que estaria em uma “encrenca” porque funcionários do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) não teriam aplicado o montante de recursos mínimo para a área de Educação, como exige a legislação. Em razão disso, o chefe do Executivo poderia “sair da Prefeitura”, contou. “Então, o jeito seria, já que eles estavam precisando de local para investir, tinha disponibilidade de um prédio no [bairro] Campolim que atendia as necessidades deles”, completou.
Preço definido antes
Ainda confome a oitiva, Bossolo estaria com pressa para a emissão do laudo e que o valor do novo prédio da Sedu já estaria definido. “Ele pediu o valor de R$ 30 milhões... Eu não fui ao imóvel. Sei onde fica, o endereço, mas eu não fui lá e não olhei o prédio”, declarou o engenheiro. Negreti confirmou que assinou o laudo e disse que ficou preocupado, mas não tinha tempo para analisar.
O laudo teria sido entregue ao ex-secretário por intermédio de uma secretária. “Ele [Bossolo] me fez pressão para pegar um envelope que ele já havia preparado, certinho na mesa... Eu imaginava o que tinha no envelope, mas não sabia o que tinha. Pelo formato, era dinheiro”, relatou o ex-servidor público. Negreti disse que não abriu o envelope e imaginava que havia aproximadamente R$ 10 mil. O dinheiro foi entregue ao Grupo de Atuação Especial de Representação ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-SP e está em uma conta judicial.
Preço correto
Questionado sobre o valor correto do imóvel, o engenheiro disse acreditar que o preço seria R$ 19,5 milhões. Já sobre a diferença de valor entre o que vale e o que foi pago, Negreti definiu como “comissão de venda”. “O que mais pode ser? Se o cliente pagou isso, se o dono do prédio recebeu uma parte só disso... Nunca fiz isso pensado que era o que é. Sabendo que estava sendo usado para fazer alguma coisa errada, que eu não conseguiu achar um jeito para sair disso. Sofri muito, tomei remédio para dormir”, contou.
A reportagem questionou Fausto Bossolo sobre o caso. Em resposta, ele negou qualquer envolvimento com a suposta compra superfaturada e pagamento de propina. “Primeiramente, eu nem conheço essa pessoa. Do fato, tomei ciência pela imprensa, pois não fui intimado sobre qualquer denúncia ou processo. A partir do momento da notificação, aí sim trabalharei para esclarecer os fatos. Todas as inverdades ditas ou colocadas por qualquer pessoa sofrerão as medidas judiciais cabíveis”, rebateu.
Procurado pela reportagem, o secretário Paulo Henrique Marcelo não respondeu às tentativas de contato. (Wilma Antunes)