Crise hídrica
Defesa Civil estadual descarta intervenção na represa de Itupararanga
Após vistoria do reservatório, órgão estadual informa que operação ocorre dentro de critérios técnicos, sem risco para os moradores de Sorocaba e Votorantim

Órgãos públicos estaduais e entidades ambientais confirmaram nesta quarta-feira (18) a situação de normalidade da operação da represa de Itupararanga, que é feita pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), e descartaram qualquer risco iminente de rompimento da barragem e ainda o vertimento, que é a passagem de água pelos arcos da barragem. Equipes da Defesa Civil estadual, da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), da Prefeitura de Sorocaba, do Saae Sorocaba e da CBA realizaram uma vistoria técnica no reservatório no início da tarde. A prefeita de Votorantim, Fabíola Alves, também esteve no local e descartou qualquer possibilidade de risco em relação ao reservatório.
A vistoria na represa de Itupararanga foi solicitada ao governo estadual na terça-feira (17) pelo prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, após realizar uma coletiva de imprensa para alertar sobre o risco de um possível vertimento do reservatório, o que poderia causar alagamentos para os moradores de algumas regiões de Sorocaba e de Votorantim.
Manga disse que pediu a intervenção da gestão da represa para o governo estadual por discordar da nova forma de operação aplicada pela CBA, de aumento da vazão defluente do reservatório para o Rio Sorocaba. A justificativa é que o nível do Rio Sorocaba subiu consideravelmente nos últimos dias por conta da mudança na operação da represa, e como estava chovendo bastante na cidade e região, poderia ocorrer o vertimento, causando transtornos para os moradores.
O diretor da Divisão de Prevenção da Defesa Civil do Estado de São Paulo, Alberto Luis Silva, que participou da vistoria na represa, disse que foi solicitado apoio do governo estadual, por meio da Defesa Civil municipal, por conta da elevação do nível do Rio Sorocaba, e seria necessário um ajuste em relação a vazão da represa, que é feito pelo operador, que é a empresa CBA. “Foi acionado o órgão técnico fiscalizador, que é a Arsesp, que acompanhou a visita, e foi verificado que a operação do reservatório está sendo realizada dentro dos padrões técnicos, de forma que não traga nenhum problema para os moradores de Sorocaba. Então, a represa está dentro de uma vazão considerada dentro dos parâmetros técnicos adequados, para que não haja nenhum tipo de transtorno aos moradores. E não é uma questão de intervenção estadual, mas somente um apoio ao município”, afirma.
O alerta da Prefeitura de Sorocaba acabou gerando “surpresa” para a Prefeitura de Votorantim, para as entidades ambientais que acompanham e participam de reuniões constantes sobre a operação da represa de Itupararanga, inclusive com a presença de integrantes do Saae Sorocaba e do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee).
Após o alerta da Prefeitura de Sorocaba, o Grupo de Trabalho de Crise Hídrica (GT-CH), do Comitê da Bacia Hidrográfica do Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), o qual o Daee é membro, e a Prefeitura de Votorantim, assim como a CBA, empresa responsável pela gestão do reservatório, divulgaram notas negando qualquer risco de vertimento ou de rompimento da barragem.
Ainda na noite da terça-feira (17), a CBA informou que a barragem de Itupararanga está segura e que não há nenhum risco de rompimento. “Em reunião realizada na terça (17), com o SAAE e a Defesa Civil do município de Sorocaba, a CBA esclareceu sobre sistema de gestão para controle e amortecimento de cheias, com o objetivo de equilibrar o volume de água advinda das chuvas e evitar o vertimento, que é a passagem de água pelos arcos da barragem. A Companhia ainda informa que possui um centro de monitoramento que faz a gestão e o controle do reservatório 24h/dia. Considerando a previsão meteorológica para as próximas semanas, não existe expectativa de vertimento de água. Caso haja alteração neste cenário, a CBA informará previamente os órgãos competentes”, informou.
A prefeita de Votorantim, Fabíola Alves, usou suas redes sociais para tranquilizar os moradores do município e lamentou o ocorrido. “Atenção! Não existe risco de rompimento nem vertimento da represa de Itupararanga, como garantem os especialistas da CBA”. Ela citou ainda nota oficial da empresa e explicou que a Prefeitura de Votorantim acompanha, junto a empresa, a situação da represa de Itupararanga.
Questionado a respeito, o governo estadual informou nesta quarta-feira que, “após receber o ofício da Prefeitura de Sorocaba, a Defesa Civil, em conjunto com outros órgãos técnicos, realizou uma vistoria na barragem Itupararanga para avaliar as condições do reservatório, que tem como principal finalidade a geração de energia elétrica e é administrada e operada pela CBA, com fiscalização de responsabilidade da Aneel e Arsesp”.
“De acordo com informações do empreendedor, no início da semana, o nível de segurança operacional estava normal. A Defesa Civil continuará em contato com os responsáveis para monitoramento. O Daee também vai responder à Administração Municipal. O Departamento faz parte do Comitê de Bacias Sorocaba e Médio Tietê, constituído por 35 municípios, órgãos do Estado e representantes da sociedade civil organizada, que acompanha os temas relacionados aos recursos hídricos na região”, ressaltou o órgão estadual.
A CBA confirmou a segurança da barragem. “Durante as visitas, a CBA reforçou que as barragens são seguras e não há risco de rompimento. Foram explicadas as funcionalidades do reservatório de usos múltiplos, bem como que a aplicação da regra operativa aprovada pelo Comitê de Bacias e que assegura o controle de cheias, evitando assim o vertimento. A Companhia reitera que a atuação colaborativa entre entes envolvidos é fundamental para operação adequada do reservatório”, ressalta.
Segundo a empresa, participaram da visita representantes da Defesa Civil do Estado, Defesa Civil de Sorocaba, Saae, Instituto de Pesquisa e Tecnologia (IPT), Arsesp, Secretaria de Segurança Urbana de Sorocaba e Corpo de Bombeiros. A CBA também acompanhou a visita da Prefeita de Votorantim e representantes da Câmara Municipal na barragem.
Entidades ambientais também se manifestam
O coordenador do Grupo de Trabalho de Crise Hídrica (GT-CH), do Comitê da Bacia Hidrográfica do Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), André Cordeiro Alves dos Santos, disse que a nova regra operacional adotada pela CBA para a represa de Itupararanga foi amplamente discutida no Comitê e que a mesma foi implantada pela empresa, justamente, para reduzir a possibilidade de vertimento. “Por si só, o vertimento não é problema, mas é uma água que se perde, pois não é usada nem para abastecimento e nem para geração de energia. O Comitê tem acompanhado a vazão e o volume da represa e não há nenhum perigo iminente”, reforça.
Alves dos Santos disse ainda que verter água da barragem não causa necessariamente enchente. “Já aconteceu centenas de vezes, a última vez em 2016. O GT-CH já fez mais de 50 reuniões e está construindo um acordo para gestão do reservatório com muito cuidado e baseado em dados apurados”, reforça.
A SOS Itupararanga também divulgou nota a respeito. “Desde que a falta de chuvas motivou a preocupação da comunidade regional em 2021 foi instituído o GT-CH, para elaboração de estratégias para a gestão do reservatório, de modo especial, o abastecimento da população. Em sua primeira reunião do ano, no último dia 9 de janeiro, o grupo tornou público os dados atuais da represa, que chegou a 53,28% na data. Com a previsão de mais chuvas, realmente havia a possibilidade de que as águas chegariam a soleira e passariam a verter pelos arcos da barragem. Com estas condições, a represa perde sua capacidade de armazenamento, de modo que toda a vazão que entrar será equivalente à vazão que sairá do reservatório. Diante disso, um plano foi traçado para que se aumentasse a vazão de maneira escalonada e controlada para gerenciar este período de cheias. Assim, a SOS Itupararanga desconhece as informações passadas durante entrevista coletiva concedida pelo prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, a respeito da situação da represa”, ressalta a entidade.
Já o diretor-geral do Saae Sorocaba, Tiago Suckow, que acompanhou a visita técnica do reservatório, disse que não foi levantado nenhuma situação de rompimento da barragem, mas de vertimento. “Nós levantamos uma situação de vertimento em que a CBA poderia perder o controle da vazão, ou seja, da água que sai do reservatório para o Rio Sorocaba. Então, o alerta foi importante para ajustar o índice atual da vazão, que foi reduzido pela metade pela empresa, e alinhar um canal direto de comunicação entre a CBA e o município”, afirma. (Da Redação)
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