Cuidados e riscos
Número de acidentes de trabalho cresce 27%, aponta Cerest
Dados são referentes aos primeiros nove meses de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado
Os acidentes de trabalho aumentaram mais de 27% nos nove primeiros meses deste ano em Sorocaba, na comparação com o mesmo período de 2021. De janeiro a outubro de 2022, houve 880 casos, enquanto, no ano passado foram 691. Os dados são do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) -- Regional Sorocaba.
O número parcial deste ano já se aproxima do total dos 12 meses de 2021, quando houve 883 registros. Segundo o Cerest, do total de vítimas em 2022, 36 são adolescentes. Por outro lado, as ocorrências com mortes caíram no período, de nove para seis (-33%).
Do total de ocorrências, 340 foram classificadas como leves e 132 graves. Houve, ainda, 176 causadas por agente biológico; 166 de contaminação pela Covid-19; 12 lesões por esforço repetitivo; sete envolvendo animais peçonhentos; quatro de dermatose ocupacional; e quatro de transtorno mental.
Conforme o Cerest, acidentes que acometem múltiplas partes do corpo são os mais frequentes (264). Depois, vêm as mãos (145) e dedos das mãos (97). Na análise por tipos de lesões mais recorrentes, as doenças contagiosas ou infecciosas lideram (307). Posteriormente, aparecem as contusões e esmagamentos (184). Logo após, cortes, lacerações, feridas contusas (tipo de lesão menos grave) e puncturas (feridas abertas) (104).
Entre os públicos, o masculino é o mais afetado, com 466 notificações, seguido pelo feminino (409), e gênero sem identificação (5). Na lista por faixa etária, as principais vítimas são pessoas de 31 a 40 anos (251), 41 a 50 (217) e 21 a 30 (197), respectivamente.
Subnotificação
A coordenadora do Cerest, Solange Regina Pereira do Nascimento, disse que há subnotificação de acidentes de trabalho em Sorocaba. De acordo com ela, grande parte dos casos não é computada porque as próprias empresas ou o sistema de saúde não os notificam. Isso porque, completa, os profissionais de saúde não estão preparados para identificá-los e comunicá-los. Além disso, diz que não é possível, muitas vezes, registrar os dados referentes a trabalhadores informais. Por isso, para ela, o número real é maior. “Em Sorocaba, seria (na verdade) 10 mil acidentes por ano”, projetou.
Segundo a representante do órgão, o registro eficaz das informações depende, sobretudo, da capacitação dos profissionais de saúde. “A rede de atenção à saúde precisa ter o olhar para o trabalhador e conseguir identificar se aquele acidente teve relação com o trabalho ou não”, apontou. Outra medida citada por ela é a necessidade dos trabalhadores informarem todas as ocorrências.
Causas
Na avaliação de Solange, o crescimento dos acidentes está relacionado à melhora econômica após a atenuação da pandemia de Covid-19. Conforme ela, setores como a construção civil e a indústria metalúrgica, nos quais há muitos registros, reduziram ou paralisaram as suas atividades, devido à crise sanitária. Com isso, as ocorrências caíram. Agora, porém, isso mudou. “Com a retomada, estamos vendo que os acidentes de trabalho aumentaram bastante”, comentou.
Rodrigo Soravassi, engenheiro de segurança do trabalho, também aponta a influência da pandemia nesse cenário. De acordo com o especialista, nesse período, empresas diminuíram diversas ações de saúde e segurança do trabalho. Alguns exemplos são treinamentos, palestras e diálogos de segurança. Isso “impacta diretamente nas estratégias de prevenção de acidentes, principalmente, no que envolve a operação de máquinas e equipamentos, bem como nas atividades críticas, como é o caso de trabalho em altura e em espaços confinados”, explicou.
Prevenção
Solange e Rodrigo citaram a prevenção como a maneira mais eficaz de evitar acidentes. Conforme a coordenadora do Cerest, a maioria ocorre devido à falta de treinamento e capacitação dos funcionários para desempenhar a sua função. Outros motivos são o não fornecimento e a falta de fiscalização do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs). Por isso, ela destaca que a implantação dessas medidas é primordial.
Neste sentido, Rodrigo sugeriu a implementação de programas de gerenciamento de riscos e de controle médico de saúde ocupacional. Além disso, indicou o desenvolvimento de treinamentos de segurança e ações de conscientização dos funcionários. Tudo para garantir a saúde e a segurança do profissional. Essa determinação consta, inclusive, na Consolidação das Leis do Tabalho (CLT), na Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, bem como em outras leis e normas reguladoras. “Caso ocorra um acidente, a empresa tomar todas as medidas possíveis para evitar que isso se repita. Dessa forma, deverá reavaliar as medidas de prevenção e controle de acidente”, indicou. (Vinicius Camargo)
Ocorrências na Região Metropolitana de Sorocaba chamaram a atenção
Casos marcantes de acidentes de trabalho aconteceram em Sorocaba e cidades da Região Metropolitana. Em Sorocaba, um trabalhador de 45 anos morreu após cair de um prédio enquanto trabalhava na obra. O fato ocorreu no Alto da Boa Via. Ainda no município, um eletricista da Viação Cometa morreu atropelado por um ônibus na garagem da empresa.
Em fevereiro, um funcionário da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), de 40 anos, faleceu depois de ter 90% do corpo queimado na explosão de um forno. Já em Votorantim, em junho, um homem foi atingido por uma roçadeira durante o trabalho e ficou gravemente ferido. Recentemente, no dia 7 de outubro, um colaborador de uma empreiteira, de 28 anos, caiu durante o expediente e faleceu em Porto Feliz. Ele trabalhava em um condomínio de luxo. (Vinicius Camargo)
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