Sorocaba
População reprova ‘pacotão da Câmara’
Enquanto vereadores se esquivam do assunto, cidadãos comuns reclamam dos "aumentos"
A população sorocabana não está nem um pouco contente com o “pacotão de benefícios da Câmara” que os vereadores pleiteiam por meio de projetos. Enquanto os parlamentares se esquivam do assunto, trabalhadores da cidade se sentem indignados com o que consideram privilégios daqueles considerados representantes do povo.
O motivo da revolta são os projetos protocolados pela Mesa Diretora da Casa no dia 19 de outubro. De acordo com o documento, os vereadores, que atualmente ganham R$ 11,8 por mês, passariam a receber R$ 18 mil. Já o valor pago ao presidente, atualmente em R$ 13,7 mil, subiria para R$ 18,9 mil. Os parlamentares ainda contariam com um benefício extra, a inclusão do 13º salário. Outro pedido feito pela Mesa é o aumento no número de cadeiras na Câmara, de 20 para 25.
As alterações, entretanto, entram em vigor somente na próxima legislatura, em 2025 -- isso se forem aprovadas pelo Poder Legislativo em sessão ordinário ou extraordinária e sancionadas pelo Poder Executivo. Enquanto a maioria dos vereadores se esquivam do assunto, os cidadãos querem saber o porquê de tantas “generosidades”. E lembram que o salário médio mensal dos trabalhadores formais é de 2,9 salários mínimos, segundo dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na esquina da rua Dr. Braguinha com a praça Coronel Fernando Prestes, região central, Antônio Augusto Bispo, de 54 anos, relata o seu desapontamento com os parlamentares. Ele acorda cedo para vender churrasco grego, de segunda-feira a sábado, e considera o aumento salarial um “absurdo”. Bispo disse que mora no bairro São Bento, na zona norte, mas nunca viu um vereador pisar por lá para trazer melhorias aos moradores, fato que o deixa chateado. “É um absurdo, né? Enquanto tem tantas pessoas passando necessidade, sem salário nenhum, eles querem logo R$ 18 mil e décimo terceiro. Eu acho injusto, eles não merecem isso. Ser vereador agora virou uma profissão? Então, a gente também tem que se candidatar para conseguir ganhar um pouquinho melhor. A gente rala bastante para ganhar um só salário. Pelo que os vereadores fazem, eles tinham que se virar com uns R$ 3 mil, no máximo”, opinou.
A comerciante Elandia Lima, 39 anos, também não concordou com a reivindicação dos parlamentares. Ela disse não entender o que tanto os vereadores fazem pela cidade para querer ainda mais cadeiras na Câmara. “Acho que não deveria aprovar, isso é um absurdo. Eles querem mais pessoas para continuar não fazendo nada. Na verdade, é só dinheiro mesmo que eles querem, a população em si não é beneficiada. O salário dos vereadores deveria ser igual o nosso, de um salário mínimo (R$ 1.212)”, declarou.
A Associação Comercial de Sorocaba (Acso) não assumiu uma posição sobre o assunto, mas incentivou o debate da questão. Alertou para a “gravidade” do momento pelo qual passa a economia, ainda em recuperação dos efeitos causados pela pandemia de Covid-19. “A Acso reconhece e destaca o papel fundamental do Legislativo, que cumpre missão de vital importância em uma cidade em crescimento constante e acelerado como Sorocaba (...) e incentiva o debate desta questão, de suma relevância a todos os cidadãos sorocabanos”, comunicou. (Wilma Antunes)