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Sorocaba

Delivery tem queda de quase 30%; vendas on-line mantém alta

Consumidores preferem retornar aos estabelecimentos; outros segmentos dependem das entregas

28 de Agosto de 2022 às 00:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Segundo o Sindicato dos Motociclistas triplicou número de motoboys em Sorocaba
Segundo o Sindicato dos Motociclistas triplicou número de motoboys em Sorocaba (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO JCS (18/08/2022))

A população voltou a frequentar os estabelecimentos de maneira presencial. Agora, apps de entrega de comida precisam se adaptar a um novo perfil de consumidor, diferente daquele do auge da pandemia, que ficava mais em casa e utilizava com mais frequência o serviço de delivery. Boa parte do público, principalmente os que possuem maior poder de compra, prefere ir aos restaurantes. A empresa Statista, especializada em dados de mercado e consumidores, aponta que o Brasil é responsável por quase metade do faturamento do delivery na América Latina.

Segundo o diretor do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e similares (Sinhores), Luis Antonio da Fonseca, durante a pandemia, houve um aumento de 30% a 50% do delivery na cidade. Porém, vários fatores podem ter contribuído para a queda entre 10 a 30% do delivery em Sorocaba.

Ele explica que segmentos como pizzarias e restaurantes, que vendem marmitex, foram um dos que registraram queda. “O cliente pode ir até o local para consumir. Vale lembrar também a alta dos insumos, que é repassado no valor final do delivery e contribui para que a pessoa opte por consumir no restaurante (economizando), em vez de pedir por delivery. No meu segmento, de pizzaria, houve uma queda, não tão acentuada, mas justamente pelo fato das pessoas voltarem a frequentar os estabelecimentos”, explica Luis.

Uma pesquisa do Google Trends, realizada de janeiro a junho deste ano apontou queda de 45% nas buscas pela palavra delivery, em relação à 2020, no início da pandemia de Covid-19. Uma outra pesquisa, também feita pelo Google, mostrou que 29,2% dos brasileiros diminuíram as visitas a restaurantes e lanchonetes e que 21,8% reduziram a frequência de pedidos de delivery de comida ou bebida em relação a fevereiro.

O cenário reflete no Brasil e em outros países e afeta o resultado global do iFood, aplicativo que detém 80% do mercado brasileiro de entrega de refeições prontas, de acordo com os dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). A empresa registrou um prejuízo de US$ 206 milhões no ano fiscal encerrado em março e recuo de 66% no lucro operacional.

Um mal necessário

Thiago percebeu a preferência do cliente mudar após a pandemia - CEZAR RIBEIRO JCS (22/08/2022)
Thiago percebeu a preferência do cliente mudar após a pandemia (crédito: CEZAR RIBEIRO JCS (22/08/2022))

O empresário Thiago Cardoso Abib é dono de um restaurante e hamburgueria em Sorocaba há 16 anos e garante que neste momento, com o término do isolamento social, a sobrevivência do restaurante se deve ao salão. “Aqui no salão o custo é muito menor. Você não tem embalagem, não tem problema com o motoboy, fora que em 5% dos pedidos você também registra algum tipo de problema. O delivery ajuda a pagar as suas contas, mas a operação é muito cara. Eu ainda pago uma taxa menor do que os outros no aplicativo. Tem gente que paga 27,5%. Se o restaurante trabalha com um lucro líquido de 8 a 10%, como que ele consegue pagar os 27?”, questiona.

Ele cita as “dark kitchen”, uma espécie de restaurante virtual. É um serviço de alimentação que oferece apenas comida pra viagem. Eles não têm espaço físico para receber os clientes. Hoje, a venda do restaurante de Abib vem 55% do salão e 45% do delivery. “Ele ajuda muito, mas se eu fosse viver só do delivery eu teria que fechar as portas”, explica.

Delivery é o carro-chefe

Foco do estabelecimento passou a ser atendimento presencial, conta João Ricardo - CEZAR RIBEIRO JCS (22/08/2022)
Foco do estabelecimento passou a ser atendimento presencial, conta João Ricardo (crédito: CEZAR RIBEIRO JCS (22/08/2022))

Quando o empresário João Ricardo Pereira da Silva criou seu restaurante há 15 anos o delivery era o foco principal. Só depois de quatro anos e uma clientela consolidada, João abriu o restaurante físico, oferecendo também self-service. Durante a pandemia, houve um aumento de 40% do delivery. “Consegui me manter estável pois já tínhamos um delivery forte. Trabalho com quatro motoboys e com uma circunferência limitada. Da quantidade de entregas que tenho hoje, somente 0,5% é por aplicativo”, diz.

Com o retorno das atividades, o delivery teve queda e o foco do empresário passou a ser o salão. “Essas pessoas que antes estavam pedindo pelo app, hoje migraram pala o salão. O self service é um valor que compensa e que financeiramente vira bem. Voltando a abertura de tudo, caiu o delivery. Já está igual ao período de antes da pandemia, pelo menos no meu caso” comenta.

Cresce número de motoboys na cidade

Segundo Gledson Orlandi, presidente do Sindicato dos Motociclistas de Sorocaba, o número de motoboys na cidade triplicou. Porém, o aumento não pode ser relacionado à demanda do delivery, mas sim à facilidade de conseguir um emprego para os que investem em uma moto.

“Acho que todas as pessoas que estão desempregadas almejam comprar uma moto. Hoje em dia, quem tem uma moto, não fica mais desempregado. Mesmo que ele trabalhe em uma outra empresa, eles utilizam deste serviço como bico e complemento de renda”, disse.

Ele comenta que o serviço está em baixa na cidade e que a demanda do consumidor caiu. “O profissional sai para trabalhar esperando receber um valor. Eles começam a trabalhar entre 6h da manhã a 1h da madrugada. Passam o dia fazendo isso e não recebem um bom dinheiro, devido a esses problemas que acabei de citar, muita gente desempregada e pouca gente pedindo nos apps” explica.

E-commerce segue em alta

Por outro lado levantamento realizado pelo MCC-ENET, parceria entre o Compre & Confie e a Câmara Brasileira de Economia Digital, aponta um aumento de 20,56% das vendas virtuais em janeiro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2021.

Exemplo do crescimento é a receita líquida do Mercado Livre no segundo trimestre deste ano, que alcançou US$ 2,6 bilhões, um crescimento de 52,5%, em dólar, e de 56,5% em moeda constante, na comparação com o mesmo período do ano passado. O Brasil representa cerca de 56% da receita líquida total do Mercado Livre, tendo alcançado US$ 1,4 bilhão e crescimento de 52,5%.

Já os Correios apurou, em 2021, crescimento superior a 40% no volume de encomendas recebidas do comércio eletrônico nacional e internacional. “Com o aprimoramento das plataformas digitais, a empresa contabilizou recorde no fluxo de encomendas”, informa a estatal. Atualmente, a estatal entrega uma média diária de 2,4 milhões de encomendas (nacionais e internacionais). No primeiro trimestre deste ano, a média diária de encomendas entregues cresceu mais de 25% em relação ao mesmo período do ano passado.

José Bronzatto, gerente-geral e fundador do centro de distribuição Bronzautto, conta que antes da pandemia, a empresa estava fora do on-line, com portas abertas e representantes. “Com a chegada da pandemia, tivemos que nos adaptar muito rápido, mas o crescimento foi assustador. Viramos nosso negócio completamente, nos adaptamos e mergulhamos de cabeça no on-line”, disse.

A empresa saiu de um faturamento de R$ 130 mil em março de 2020 para R$ 11 mil no mês seguinte. A queda fez com que o empresário optasse por sair do ponto comercial alugado em uma avenida e fosse para outro imóvel. Hoje, o faturamento é de R$ 1,4 milhões/mês (dado de Julho de 2022). “Este ano, estamos 45% acima da nossa estimativa de faturamento”, disse Bronzatto.

Mesmo com o término do isolamento, não houve queda. “Pelo contrário, ainda crescemos em média, 20% ao mês. Nossa expectativa era de faturar R$12,9 milhões em 2022, mas já atingimos esse valor em jullho. Mantendo o crescimento, iremos faturar cerca de R$ 20 milhões nesse ano.“

Atualmente, a distribuidora trabalha de portas fechadas, com foco nas vendas on-line, sendo 40% do estoque dentro do centro de distribuição da empresa em Sorocaba e 60% do estoque dentro dos centros de distribuição de grandes MarketPlaces, como Mercado Livre e Magalu.

O empresário, que irá palestrar em um evento do Mercado Livre para o e-commerce, comentou sobre a tendência do setor “Hoje discutimos como a venda on-line vai se desenvolver e a tendência atual é a migração das fotos para o vídeo. Hoje, dentro de nossa empresa, o foco está totalmente voltado para essa questão, da foto para o vídeo. Mas não podemos considerar mais as vendas on-line como uma tendência, mas sim uma realidade; é impossível se manter sem essa modalidade”, analisa. (Virginia Kleinhappel Valio)

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