Monkeypox
Infectologista explica origem e tratamento da varíola dos macacos
Vírus da varíola dos macacos já infectou 1.474 pessoas no Brasil, sendo 1.079 no Estado de São Paulo
O primeiro caso de varíola dos macacos em Sorocaba foi confirmado na quarta-feira (27). Desde então, mais três pessoas foram diagnosticadas com a doença na cidade, coincidentemente, todas do sexo masculino e três delas com viagem recente ao mesmo local: a capital paulista. Também chamado de monkeypox, o vírus da varíola dos macacos já infectou 1.474 pessoas no Brasil, sendo 1.079 no Estado de São Paulo.
Segundo a Secretaria da Saúde (SES), no momento há seis casos suspeitos, sem nenhuma confirmação. Um homem de 28 anos foi o primeiro caso da varíola dos macacos em Sorocaba. Ela havia realizado uma viagem à São Paulo em 9 de julho, bem como o segundo munícipe, de 25 anos, com a doença confirmada na quinta-feira (28) e que esteve na capital há um mês. A terceira confirmação foi informada no dia seguinte, em 29 de julho. O paciente, de 25 anos, esteve nas últimas semanas em São Paulo.
Na segunda-feira (1º), houve a confirmação de mais um caso da doença: um homem de 42 anos. No entanto, ele não possui histórico de viagem recente. Todos os pacientes diagnosticados com a monkeypox encontram-se bem, sem internação e em isolamento domiciliar. Eles seguem monitorados pela Vigilância Epidemiológica, assim como seus contatos diretos. A SES informa que os casos confirmados e suspeitos são ocorrências isoladas.
Monkeypox
O monkeypox foi descoberto em 1958 em primatas, mas o hospedeiro intermediário, ou seja, a espécie que porta de forma assintomática o vírus são os roedores. “Os primatas são tão vítimas quanto nós e eles não transmitem o vírus para nós. São os roedores que estão sendo implicados nessa possível cadeia de transmissão”, disse a infectologista Naihma Salum Fontana.
De acordo com a médica, estamos frente a uma doença que não é endêmica e com número maior de casos na África Ocidental e da República Democrática do Congo. “A cepa que está circulando agora e que se propagou para outros continentes é da África Ocidental”. Para a infectologista, o aumento no número de casos é um alerta para a população, mas não é motivo para pânico, visto que a mortalidade relacionada ao monkeypox na população geral é de 1%, muito inferior a outra cepa que não está circulando no Brasil e se restringe ao Congo, que é de 10%.
Todos estão suscetíveis
A principal forma de contágio é o contato íntimo e prolongado; e também por via respiratória (gotículas), “Por isso a relação sexual está sendo implicada como a principal forma de contágio”. Apesar de a incidência ter sido, por enquanto, maior entre o grupo HSH (homens que fazem sexo com homens classificação técnica adotada pelas áreas de saúde que inclui homossexuais, bissexuais e pessoas que não se identificam com alguma dessas orientações), a médica ressalta que qualquer pessoa está suscetível à doença.
“Aconteceu, neste momento, da doença ter surgido primeiro neste grupo, mas poderia ter surgido em crianças, mulheres e em qualquer outro grupo. Isso é muito importante enfatizar. Essa afirmação de que é uma doença de ‘gay’, além de ser preconceituosa e estigmatizante, resguarda um sentido errôneo e dá uma falsa sensação de segurança para quem não está inserido nesse grupo”, disse. Portanto, não existe grupo de risco para contrair a varíola dos macacos, qualquer pessoa que esteja com o vírus e que tenha um contato íntimo e prolongado, contato com gotículas e com fluidos, pode contrair a doença”.
A transmissão ocorre através do contato direto com as feridas infecciosas ou fluídos corporais dessas lesões, que podem aparecer nas mãos, face, região genital e anal. Por isso é importante evitar relação sexual com alguém que esteja com suspeita da doença ou com lesões na pele e com febre, além de evitar a multiplicidade de parceiros. “É importante procurar ter um parceiro fixo e utilizar máscaras cirúrgicas se estiver com suspeita da doença ou próximo de algum caso suspeito. Também é preciso fazer o autoexame e procurar ajuda se tiver dúvida sobre as lesões que apareçam no corpo”.
No início, os sintomas são febre alta e dor de cabeça. Posteriormente, ocorre o aparecimento de gânglios, popularmente chamados de ínguas, que podem surgir na cervical e nas axilas. Náusea, enjoo e cansaço extremo também estão entre os sinais da varíola dos macacos.
Num segundo momento, aparecem as feridas e lesões no corpo. Mesmo antes do aparecimento das lesões, o paciente já está transmitindo o vírus. “Num primeiro momento, a sintomatologia é muito semelhante às outras doenças virais que já são endêmicas em nosso país, como a dengue, chikungunya, zika vírus (em menor proporção), o próprio Influenza e a Covid, e infecções bacterianas múltiplas”, explicou a infectologista.
Já em relação à mortalidade, a médica disse que imunossuprimidos, idosos, crianças portadoras de doenças onco-hematológicas, gestantes, e pacientes portadores de doenças reumatológicas que precisam fazer uso de medicamentos imunossupressores fazem parte do grupo de risco.
A primeira morte por varíola dos macacos no Brasil foi registrada em Belo Horizonte, na última sexta-feira (29). Segundo o Ministério da Saúde, o homem, de 41 anos, possuía imunidade baixa e comorbidades, incluindo câncer (linfoma).
Uma IST?
As ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) podem ser classificadas em infecções eventualmente transmitidas pelo sexo, infecções principalmente transmitidas pelo sexo e as predominantemente transmitidas pelo sexo. “Podemos classificar a monkeypox como uma IST eventualmente transmitida pelo sexo, mas isso ainda está em discussão. É preciso considerar que a transmissão é através do contato íntimo e prolongado, o sexo realmente é o ato do qual mais temos esse tipo de contato com outra pessoa, e em várias regiões do corpo”, disse a médica. Portanto, para a infectologista, o sexo é hoje a principal forma de transmissão, mas não a única. “Colocar a mão, mesmo íntegra, em uma lesão com um fluído genital de uma pessoa que esteja com a monkeypox, ou através da saliva. O beijo também pode transmitir devido à transmissão interpessoal de gotículas e até mesmo o abraço ou fazer refeições com uma pessoa que esteja com a doença, sem máscara, são ações do dia a dia que podem sim transmitir a monkeypox”, explicou.
Vacinação em breve
Em relação às vacinas, o Ministério da Saúde está em tratativas com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para aquisição de doses para a população brasileira. Nesta segunda-feira (1º), o ministro Marcelo Queiroga confirmou em sua rede social a compra, por intermédio da Opas, do antiviral tecovirimat, para reforçar o enfrentamento da varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil. Conforme o ministro, em um primeiro momento, serão contemplados casos mais graves em um primeiro momento. Ele não informou quando o País deve receber o antiviral e o número de doses. (Virginia Kleinhappel Valio)
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