Buscar no Cruzeiro

Buscar

América Latina

Sorocabano vai ao Ushuaia em uma moto de 125 cilindradas

Beda Motero passou por três países, foram 93 dias na estrada

17 de Julho de 2022 às 00:01
Cezar Ribeiro [email protected]
Sorocabano rodou um total de 16.500 quilômetros, em viagem inesquecível.
Sorocabano rodou um total de 16.500 quilômetros, em viagem inesquecível. (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Quando saiu de viagem, rumo ao fim do mundo, como é conhecida a cidade argentina de Ushuaia, no extremo sul do continente, o sorocabano Beda Motero trajava camisa, bermuda e tênis. Levava na bagagem da sua Yamaha Crypton 125 cilindradas (cc) uma barraca de camping e um kit para cozinhar contendo um pequeno fogão, gás e uma panela. Um mês antes de sua partida, Beda dispunha de R$ 260 na sua conta. Vendeu uma mobilete, fez algumas rifas e mesmo sem o dinheiro necessário para a viagem, subiu em sua moto e começou uma odisseia que lhe incluiria no currículo 93 dias de viagem, 16.500 quilômetros rodados e muitas aventuras. A saída de Sorocaba foi em 10 de fevereiro e o retorno em 13 de maio.

Na estrada, ganhou algumas roupas de amigos. Uma jaqueta, uma calça de moletom e uma bota foi o que lhe ajudou a suportar o frio intenso. O dinheiro que faltava ele conseguiu vendendo alguns itens, chaveiros e adesivos, e com a hospitalidade das pessoas que encontrou pelo caminho.

A busca pelo desconhecido, sua paixão pelo ser humano e pela cultura de um povo é o que motiva o sorocabano a estar na estrada. “Você nunca sabe o que vai encontrar lá na frente e é muito gratificante quando eu me deparo com algo que eu ainda não conheço, que eu ainda não comi, em um lugar que eu ainda não fui. Quando é a primeira vez que eu estou em um lugar, em um país, é muito bom.”

Uma viagem de Sorocaba para Ushuaia, ida e volta, tem uma distância de pouco mais de 10.000 quilômetros. Mas Beda não se limitou apenas em ir para a cidade de Ushuaia, passou pelo Uruguai e fez passeios em Buenos Aires, também na Argentina. Na volta, percorreu a rodovia Carretera Austral, no Chile.

Os obstáculos

Destino final foi a cidade argentina de Ushuaia, mas Beda também passou por Chile e Uruguai. - ARQUIVO PESSOAL
Destino final foi a cidade argentina de Ushuaia, mas Beda também passou por Chile e Uruguai. (crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Foi na Argentina, durante sua passagem pela Ruta 3, que Beda Motero enfrentou o primeiro desafio em sua jornada: a monotonia. Foram milhares de quilômetros percorridos sem árvores, pontes ou placas, apenas uma estrada sem fim, tangenciada por um horizonte infinito. O vento também foi um grande obstáculo nessa região inóspita. Sua Yamaha Crypton muitas vezes ameaçava sucumbir à força desses vendavais, perdia velocidade, fazendo com que ele diminuísse a marcha, viajando distâncias de até 160 quilômetros em baixa velocidade, resistindo.

De todas as adversidades impostas pela força da natureza, o frio foi a que mais lhe atingiu. Sua barraca não era apropriada para temperaturas extremas, fazendo com que Beda muitas vezes dormisse em lugares como sede de moto-clubes, postos de combustível, casas abandonadas e até mesmo em um banheiro de um camping, já na Argentina. Mas nem sempre conseguia encontrar esses lugares, recorrendo à sua barraca. Na Carretera Austral, no Chile, acampou na cordilheira. “Teve noites que passei em claro por causa do frio e eu ia dormir lá pelas 10h da manhã, que a temperatura subia para uns 8°C, era quando eu conseguia dormir. Agora, na madrugada, que fazia -3°C, -5°C, aí era pauleira mesmo”, conta Beda.

Devagar e sempre

Viajar com uma motocicleta de baixa cilindrada não é um desafio para Beda Montero. Ele afirma que o melhor da viagem é a estrada em si, as coisas que encontra pelo caminho. Sensível a esses detalhes, a beleza da viagem, para ele, reside sempre no que pode encontrar pelo caminho, não na urgência em percorrê-lo. “Eu gosto de estar devagar, porque eu sempre estou de olho em placas para tirar fotos, têm muitas placas nas estradas de fronteiras de países, de cidades, e eu estou sempre de olho em algumas coisas, uma árvore bonita, alguma ponte, então a moto de baixa cilindrada me dá isso, eu consigo visualizar melhor as coisas andando devagar”, afirma.

Inspiração

Os motivos para Beda viajar são muitos, mas inspirar as pessoas é o que lhe deixa mais feliz. Muitos viajantes pegaram a estrada seguindo o seu exemplo. Essa inspiração ganha maior relevância diante da sua experiência de vida. O motociclista venceu um câncer há alguns anos, motivo suficiente para ter uma nova perspectiva da vida. “Quando eu cheguei em Ushuaia, minha rede social me lembrava que exatamente há três anos eu estava fazendo quimioterapia, exatamente naquele dia, quando eu cheguei no meu ponto principal. Eu pensei, poxa, há exatamente três anos eu lutava para viver um pouco mais e olha onde eu estou hoje, estou vivendo! Isso faz valer a pena” conclui Beda Motero. (Cezar Ribeiro - programa de estágio)

Galeria

Confira a galeria de fotos