Sorocaba
Hábito de fazer churrasco e reunir amigos se mantém, mesmo com alta do preço da carne
Para muitos o dia de domingo é perfeito para o churrasco. Só que é comum encontrar quem considere que é mais que uma refeição, por isso a carne assada na brasa costuma receber o “status” de evento social, com capacidade para reunir pessoas e promover comemorações. Mas, quem não se recorda que, com o início da pandemia do Covid-19, organizar um churrasco tornou-se algo impróvavel. Só agora, mais de dois anos depois, com o avanço da vacinação e diminuição da gravidade dos casos, é que as pessoas se sentem à vontade para voltar a se reunir com familiares ou amigos.
Ocorre que, no momento, a alta no preço da carne tornou-se um impecilho. Os cortes tradicionalmente usados no bom churrasco superam os R$ 60 o quilo e pesa no orçamento, que já tem tantos outros custos, que não podem ser reduzidos. Então, além de criatividade é preciso encontrar novas formas de promover os encontros, que garantem boas risadas e muita fumaça.
Não é à toa que a opção de dividir os custos aliada à criatividade, comum ao brasileiro, mantém a tradição. Ir ao açougue e sair com muitos quilos de carne e carvão é praticamente uma raridade. Os gastos estão mais controlados e quantidade que cada compra diminuiu.
E se os hábitos mudaram, o primeiro a perceber isso é quem está do outro lado do balcão. José Joaquim Pereira Gaspar, dono de um açougue há 44 anos, fala disso com autoridade. A casa de carnes dele fica no Jardim Vergueiro, em Sorocaba. Há 5 anos era comum as vendas de carne aumentarem em função do churrasco de fim de semana. Agora é outra realidade.
“Parece que antes as pessoas se reuniam mais, hoje vende 20% do que vendia antes”, disse. O que o comerciante também comenta é que o tipo de churrasco que está mais comum é o comunitário. A vantagem é que não envolve tanto planejamento. O preço da carne também pode ser o vilão que promoveu essa mudança. Ser for colocar na ponta do lápis os custos, pensar em um churrasco é quase como imaginar um acontecimento. “Acho que atualmente o churrasco é mais em família mesmo, cada um leva meio quilo ou no máximo um”, disse José.
Essa percepção não é só dele. Antônio Carlos de Souza, que trabalha no açougue de um supermercado percebe a mesma situação. Ele está acostumado a sugerir opções para os clientes que não querem gastar tanto. Se antes a preferência era o contrafilé, a maminha e a picanha, hoje as escolhidas são as carnes de 2ª sem osso, como acém, paleta ou fraldinha.
E claro, o que é comum é incrementar com opções mais baratas como asinha de frango. “Agora está na moda o churrasco comunitário, então, cada um leva um pouco de cada coisa”, explicou o profissional, que ainda conta que as vendas para churrasco caíram 50% no estabelecimento onde ele trabalha.
Outra opção são os cortes suínos, que costumam até surpreender os que não estão acostumados, além do pão de alho, que pode ser comprado em mercados e açougues ou até mesmo preparado com receitas caseiras. Dessa forma é possível diversificar o cardápio, sem pesar no bolso. Mas é claro, que um bom tempero, a calma para acompanhar o trabalho feito pelo fogo e a companhia dos amigos deixam em segundo plano a questão econômica. Afinal, não se trata apenas de uma questão de “comer carne”, é mais do que isso, é a possibilidade de estar com as pessoas que gostamos depois de tanto tempo. (Denise Rocha)