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Homenagem

Amigos lembram da importância de Cherubim Rosa Filho

15 de Maio de 2022 às 00:01
Denise Rocha [email protected]
Tenente-brigadeiro Cherubim faleceu dia 2.
Tenente-brigadeiro Cherubim faleceu dia 2. (Crédito: ARQUIVO)

A alegria e a gentileza são as características que tornam Cherubim Rosa Filho mais do que um personagem importante. É como se ele alçasse um voo mais alto para se tornar um filho ilustre que merece ser lembrado pelo que fez e por quem foi. “Ele não esqueceu Sorocaba e a cidade também não esqueceu dele”, conta o empresário Sérgio Reze. A revelação traz à tona o quanto Cherubim atraiu mais apaixonados para a aviação. É que além da influência que exerceu, está o auxílio crucial que deu para o desenvolvimento do Aeroclube de Sorocaba, que foi a origem para projetos maiores: o Aeroporto Estadual Bertram Luiz Leupolz e o Polo de Manutenção Aeronáutica.

Reze, por volta dos 20 anos teve o primeiro contato com aquele que viria a se tornar um amigo pessoal. Na época, queria se tornar aviador, um sonho que, por questões familiares, só se concretizou duas décadas depois. “Eu lembro que naquela época, se passasse um avião voando baixo, todo mundo ouvia. E, quando o motor era mais potente, nós sabíamos que ele estava na cidade e iria participar do baile, atraindo a atenção de todos”, lembra.

Sérgio Reze e Telmo Cardoso, ex-presidentes do Aeroclube de Sorocaba. - FÁBIO ROGÉRIO (9/5/2022)
Sérgio Reze e Telmo Cardoso, ex-presidentes do Aeroclube de Sorocaba. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (9/5/2022))

A questão é que essa poderia até ser mais uma história de um piloto, já que Cherubim se formou aviador no Aeroclube de Sorocaba. Em 1944 conquistou o brevê -- permissão para pilotar aviões -- de número 28. E voou. Voou longe. Alcançou o que é hoje o posto mais alto da Força Aérea Brasileira (FAB): Tenente-brigadeiro. Ao longo da vida profissional ocupou posições importantes como instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica, chefe do Estado-Maior do Comando de Transporte Aéreo, comandante da Academia da Força Aérea em Pirassununga (SP), diretor-geral do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento, além de ter sido nomeado para o Superior Tribunal Militar (STM), em novembro de 1989, logo após a promulgação da Constituição de 1988, quando ajudou na Lei de Organização do Judiciário Militar. Chegou a presidência do STM no biênio 1993/1995 e se aposentou por limite de idade em setembro de 1996.

Contudo, o poder, como faz com alguns, não lhe subiu a cabeça. Esteve sempre pronto a ouvir e atender quem recorria a ele. É comum ouvir dos aviadores sorocabanos a história da forte tempestade que derrubou o telhado do Aeroclube sobre oito aviões em 23 de dezembro de 1983. Cherubim, que estava no 3º Comando Aéreo Regional, não mediu esforços para auxiliar na reconstrução. Foi também o fim da poeira que levantava quando o avião acelerava: a pista foi asfaltada. Bertram Luiz Leupolz, por sua vez, ajudou no conserto das aeronaves; quatro de propriedade do Aeroclube e quatro de particulares.

Mas não era só na vida pública que o Tenente-Brigadeiro conseguia ser um agregador; era assim também no ambiente familiar. “Ele sempre estava disposto a auxiliar, a atender. Mas é preciso ressaltar que as interferências eram sempre dentro legalidade. Se ele podia ajudar, ele ajudava”, explica Telmo Pereira Cardoso, ex-presidente do Aeroclube de Sorocaba, casado com uma das sobrinhas de Cherubim.

É de Telmo, inclusive, a proposta para o projeto de lei para denominar a primeira construção no antigo Campo de Aviação da Terra Vermelha como Hangar Tenente Brigadeiro Querubim Rosa Filho. Telmo encaminhou a solicitação, um dia após a morte do tio, ao vereador Hélio Brasileiro (PSDB), na esperança de que a homenagem póstuma não deixe a cidade esquecer de quem contribuiu efetivamente com ações que beneficiaram a sociedade.

Assim, com muitas histórias para serem lembradas, o Tenente-brigadeiro Cherubim, faleceu, aos 95 anos, em Brasília (DF), em 2 de maio de 2022. A mente se manteve afiada até os últimos dias de vida. Tanto que discursou no ano passado, quando esteve no aniversário de 50 anos da Base Aérea de Santa Maria (RS), que construiu e organizou. Ele foi o primeiro Comandante da estação, importante para o avanço da FAB no Cone Sul, pelo apoio a operações especiais realizadas a partir dali. Numa referência à dedicação que teve em vida a Força Aérea usou uma frase do poeta santista Martins: “já que não pude servi-la quanto devo, quero ao menos amá-la quanto posso”. E o fez, não só por meio de palavras, mas pelos feitos que deixou gravados na história. A despedida permite a recordação e o agradecimento, afinal os aviadores não morrem, apenas voltam ao céu por outras asas. (Denise Rocha)

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