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Acidente

Avião que caiu em Boituva estava regular, afirma Anac

Embora conste que a aeronave permite apenas nove passageiros, a Anac destaca que a capacidade é definida pela configuração interna da cabine utilizada na operação

13 de Maio de 2022 às 00:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Já se sabe que uma parte do trem de pouso quebrou, o que teria provocado o capotamento da aeronave.
Já se sabe que uma parte do trem de pouso quebrou, o que teria provocado o capotamento da aeronave. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

O avião de pequeno porte Cessna Aircraft, de matrícula PTOQR, envolvido no acidente de quarta-feira (11), em Boituva, estava com Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) em dia, ou seja, apto para realizar voos, informou a Anac. A causa do acidente será investigada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

No Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o veículo está inscrito na categoria privada de serviço aéreo especializado para público do paraquedismo e possui configuração aprovada tanto para transporte de passageiros, como para lançamento de paraquedistas.

Embora conste que a aeronave permite apenas nove passageiros, a Anac destaca que a capacidade é definida pela configuração interna da cabine utilizada na operação, previamente aprovada pelo órgão.

No caso da configuração para lançamento de paraquedistas, em que são removidos os assentos, a avaliação da capacidade é feita pelo peso máximo de decolagem. “O limite da aeronave PT-OQR é de 3.629Kg. No planejamento do voo, o piloto em comando considera todas as pessoas e bens embarcados no cálculo do peso e balanceamento da aeronave. Assim, a aeronave pode realizar a operação de lançamento de paraquedistas com quantidades superiores a 9 pessoas a bordo, limitada ao peso máximo”, explicou a Anac.

“Ele está com registro de nove pessoas na versão executiva com assentos. Para o uso de paraquedismo, ele estava 100% dentro das normas, isso eu posso afirmar”, esclareceu o administrador do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), Marcello Costa. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) deu início às investigações. Agora, a Polícia aguarda o laudo do Cenipa e deve ouvir todas as pessoas que estavam na aeronave.

Pouso forçado ocasionou acidente

O acidente aéreo aconteceu no início da tarde de quarta-feira (11), em uma área rural da cidade. A aeronave prestava serviço para os paraquedistas no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP) e, ao atingir a altura de mil pés, teve um problema no motor e precisou realizar um pouso forçado.

“Não sabemos ainda qual foi o problema, mas a aeronave não bateu em nenhuma torre ou outro lugar. Infelizmente, durante o pouso forçado, em uma área de pasto, a bequilha quebrou, o que travou a frente da aeronave, que capotou”, explicou o administrador do CNP, Marcello Costa. Bequilha é a parte do trem de pouso destinada a suportar o peso da parte traseira da fuselagem quando o avião está no solo.

Quinze paraquedistas e um piloto estavam a bordo da aeronave. As vítimas foram encaminhadas para o hospital municipal São Luís. Dois paraquedistas não resistiram aos ferimentos e faleceram ao darem entrada no Hospital São Luiz, são eles Wilson José Romão Júnior, de 38 anos, atleta do paraquedismo e instrutor com cerca de dois mil saltos realizados ao longo da carreira; e André Luiz Warwar, de 53 anos, funcionário da área de tecnologia e diretor de filmes, que havia descoberto a paixão pelo esporte há pouco tempo. Três paraquedistas foram transferidos para o hospital estadual Adib Jatene. Um deles foi transferido para uma unidade hospitalar particular, com estado de saúde estável, e outros dois permanecem no Adib Jatene, um em observação e outro na ala de neurocirurgia, ambos com quadro considerado estável.

Outra morte recente

Além das duas mortes de paraquedistas no acidente aéreo de quarta-feira (11), outro acidente foi registrado neste ano, em 24 de abril, quando Bruna Ploner, de 33 anos, integrante do Exército Brasileiro, morreu após realizar uma manobra durante um salto de paraquedas em Boituva.

Bruna ocupava a posição de 3º Sargento do Programa de Atletas de Alto Rendimento. Na queda, ela sofreu politraumatismo e não resistiu. O local do acidente e o equipamento utilizado foram periciados pela Polícia Civil, que investiga a causa do acidente.

TJ nega suspensão de saltos e Polícia recorre à Câmara de Boituva

Após a morte de Bruna Ploner, a Polícia Civil de Boituva enviou a conclusão do inquérito policial para a Justiça e outra para o Ministério Público, no dia 28 de abril. No documento o pedido era pela suspensão de todas as atividades de paraquedismo no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), em Boituva, entre outras exigências. Na conclusão, a Polícia Civil também pedia uma UTI móvel no CNP, devidamente equipada, e guarnecida de profissionais médicos e enfermeiros, para atendimento de quaisquer acidentes e incidentes que ocorram durante o exercício das atividades, independente de hora e dia.

No entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) indeferiu o pedido: ‘não é cabível de apreciar a questão neste inquérito, de modo que eventuais providências devem ser apuradas e ditadas em outras instâncias, de iniciativa dos órgãos responsáveis pela fiscalização administrativa, técnica e de segurança’.

Diante disso, o delegado Emerson Jesus, responsável pelo caso, protocolou um pedido junto à Câmara Municipal de Boituva para que avaliem a criação de uma lei que obrigue o Centro Nacional de Paraquedismo a ter uma UTI móvel. Outro ponto levantado pelo delegado são as regras locais que, para ele, precisam ser centralizadas.

O administrador do CNP, Marcello Costa, disse que o delegado está equivocado ao pedir a UTI móvel, visto que o Centro Nacional de Paraquedismo de Boituva já possui uma equipe de primeiros socorros altamente qualificada para atender uma emergência em caso de necessidade. “No acidente da Bruna, por exemplo, em menos de sete minutos, ela estava no hospital”, comentou.

Em relação às regras do paraquedismo, Marcello reitera que o Centro Nacional de Paraquedismo de Boituva possui regras baseadas na Confederação Brasileira de Paraquedismo. “O Ministério Público tem conhecimento das regras, isso foi feito em comum acordo com eles. O CNP está disposto a trabalhar junto à Polícia e estreitar este relacionamento, para que possam entender como é o funcionamento do Centro. Estamos de portas abertas para qualquer esclarecimento”. O Centro Nacional de Paraquedismo de Boituva é considerado a maior área de salto do mundo em número de lançamentos de paraquedistas, com cerca de 20 mil saltos por mês. “Tenho trinta anos no esporte, conheço várias áreas de salto, inclusive nos Estados Unidos, e posso garantir que aqui é a mais segura”. (Virgínia Kleinhappel Valio)