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Sorocaba

Violência nas escolas estaduais cresce 48%

Em Sorocaba, os principais registros são de indisciplina, bullying e crimes contra o patrimônio

08 de Maio de 2022 às 00:01
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Neste ano até agora foram registrados 5.737 mil casos de violência, incluindo agressão física, ameaça, bullying, discriminação e ação violenta de grupos e gangues.
Neste ano até agora foram registrados 5.737 mil casos de violência, incluindo agressão física, ameaça, bullying, discriminação e ação violenta de grupos e gangues. (Crédito: ADRIANA CORRÊA / AGÊNCIA SENADO)

O estudo realizado pela Secretaria da Educação de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Sena apontou aumento nas ocorrências de agressões físicas e morais -- nas unidades escolares de São Paulo. Somente em 2022, foram registrados 5.737 casos de violência, incluindo agressão física, ameaça, bullying, discriminação e ação violenta de grupos e gangues. O dado inclui um total de 4.021 casos só de registros de agressões físicas, um aumento de 48% em comparação a 2019, quando foram registrados 2.708 casos.

A violência escolar pode ser considerada como todos os atos ou ações de comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados entre a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos à escola), no ambiente escolar.

Por quase dois anos, mais de 53 mil alunos matriculados nas 83 escolas estaduais de Sorocaba estudaram dentro de suas casas. Este período distante do convívio social, unido aos problemas psicológicos como ansiedade e depressão e à estrutura familiar, foram alguns dos fatores que contribuíram para o aumento da violência no ambiente escolar.

Em Sorocaba, segundo a dirigente regional de ensino, Rossenilda Gomes, a ocorrência com mais registro é a indisciplina. Os dados divulgados são das maiores escolas estaduais da cidade e foram retirados da plataforma “Conviva SP - Placon”, sistema utilizado para acompanhar os registros de ocorrências escolares na rede estadual de ensino.

Para a dirigente, os alunos estão reaprendendo as regras básicas da escola. “Muitos, por exemplo, saem e entram das aulas quando bem querem, não cumprem o horário ou chegam atrasados”. Essa atitude dos adolescentes é um reflexo do período em que ficaram em aulas on-line, no qual tinham uma liberdade diferente da encontrada na escola.

As relações interpessoais foram afetadas por diversos fatores, como a vulnerabilidade social em que muitas famílias se encontram e, em alguns casos, pelo convívio com episódios de violência doméstica, além dos que perderam amigos e familiares vítimas da Covid-19.

Este período sem convívio social fez com que o bullying e o cyberbullying ficassem em segundo lugar em número de ocorrências. “Os adolescentes não entendem o que é empatia, eles perderam esse convívio com o próximo e com a sociedade, devido ao isolamento”, comenta a dirigente. Em terceiro lugar, estão os danos e crimes contra o patrimônio, como por exemplo, vandalismo e depredação “No mês de abril, tivemos muitos casos”, comenta.

Problema de todos

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade de Sorocaba, Denise Lemos Gomes Luz, cita uma pesquisa realizada em conjunto pela Unicamp, Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2020. O estudo constatou que, inicialmente, os adolescentes encararam a pandemia e a necessidade de isolamento como férias antecipadas.

De acordo com a professora, o tempo era livre para dormir até mais tarde ou assistir às séries na TV, ou ainda para jogar videogame, mas com o decorrer dos meses, isso tudo tornou-se entediante e os hábitos foram se alterando em função do isolamento. “Eles acabaram por perder interesse em atividades que antes adoravam fazer, reduziram a frequência de atividades físicas e passaram a ingerir mais alimentos não saudáveis. Também ganharam peso e tiveram piora na qualidade do sono. O bom humor foi diminuindo, o nervosismo e a ansiedade foram aumentando até ocupar todo esse espaço. A escola mudou, as pessoas que a frequentam mudaram e as formas de habitar esse espaço é outro”, explica.

Todas estas alterações no estado emocional dos adolescentes refletem no ambiente escolar e aumentam as possibilidades de conflitos e desentendimentos “Eles ficaram mais irritadiços, tristes, ansiosos e estressados. Isso gerou menor tolerância à frustração, mais impaciência, hostilidade e agressividade”.

Para Denise, a saúde mental dos adolescentes já causava preocupação antes mesmo da pandemia chegar. “O distanciamento social, com a quebra das rotinas, aumentou o grau de preocupação. É possível constatar que adolescentes mais deprimidos, irritados e ansiosos podem se tornar mais impulsivos e tomar atitudes impensadas e desproporcionais”, alerta.

A professora destaca que a ação isolada do Estado não é suficiente para combater a violência nas unidades escolares, no entanto, cabe aos poderes públicos articular as contribuições, realizar estudos e formular políticas públicas. “É preciso integração da escola com a família e a comunidade. Além de reforçar medidas para promoção e estímulo de ações pedagógicas alicerçadas por valores humanos, como ética, respeito e tolerância, que favoreçam a prevenção e diminuição da violência”.

Ela destaca que um dos aspectos que precisam ser considerados para fortalecer o vínculo escola/aluno é o resgate da sensação de pertencimento com a escola, que se enfraqueceu ou se perdeu, nesse período de volta às aulas presenciais. “Para os adolescentes, essa ligação ocorre pela forma de falar, vestir, nas músicas que se ouve, na expressão corporal, até mesmo nas simples escolhas do dia a dia. Se pertencer é uma necessidade humana, para os jovens ela é vital. A escola precisa dar voz e vez aos jovens para que eles se sintam acolhidos, cuidados, reconhecidos e respeitados integralmente”.

O que diz o Estado

Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que repudia qualquer forma de agressão dentro ou fora das escolas. Quando há qualquer tipo de intercorrência em uma escola estadual, a direção da unidade entra em contato com os responsáveis pelos estudantes envolvidos para fins de mediação, tomando as providências restaurativas que preservem o direito à Educação. “A pasta conta com o Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) composto por projetos e ações articuladas entre Convivência e Colaboração; Articulação Pedagógica e Psicossocial; Proteção e Saúde e Segurança Escolar”, informou. (Virgínia Kleinhappel Valio)