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Acidentes de trabalho cresceram 33% em Sorocaba entre 2020 e 2021

A cidade registrou 3.103 ocorrências no ano passado, 33,3% a mais que os 2.327 registros de 2020

30 de Abril de 2022 às 00:01
O uso de equipamentos de proteção individual é imprescindível para inibir fatores de risco.
O uso de equipamentos de proteção individual é imprescindível para inibir fatores de risco. (Crédito: ARQUIVO JCS (18/7/2013))

O número de acidentes de trabalho em Sorocaba cresceu 33,3% em 2021, na comparação com 2020. No ano passado, houve 3.103 registros, contra 2.327 em 2020. A cidade é a 9ª com mais ocorrências no Estado de São Paulo, entre 645 municípios. No Brasil, ocupa a 23ª posição na lista com 5.570 cidades. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O levantamento é realizado com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo o relatório, as ocorrências com óbitos tiveram ligeira alta entre 2020 e 2021 -- de cinco para seis (20%). As concessões de benefícios previdenciários acidentários mais do que duplicaram, passando de 275 para 627 (128%). Além disso, em 2021, começaram a ser pagas duas pensões por morte devido a acidentes trabalhistas. Em 2020, nenhum benefício do tipo havia sido solicitado.

Por outro lado, a cessão de auxílio-acidente caiu 23% no período, de 238 para 182. O mesmo ocorreu com as aposentadorias por invalidez, que diminuíram de 16 para 11 (-31,25%).

Por setores

A pesquisa ainda apresenta diversos outros dados sobre os acidentes de 2021. Dentre eles, distinção por ramos, tipos de lesões, grupos de agentes causadores, profissionais mais afetados e perfil dos acidentados. A área de atendimento hospitalar lidera a lista dos três principais setores com mais casos, com 364 (14%). Depois, vêm fabricação de peças e acessórios automotivos, com 119 (4%) e hipermercados e supermercados, com 79 (3%).

Já as lesões mais frequentes foram cortes, lacerações, feridas contusas e puncturas (picadas), com 542 registros (20%). Fraturas aparecem na segunda posição, com 529 (20%) e contusões e esmagamentos na terceira, com 275 (10%).

Em relação aos grupos de agentes causadores, as máquinas e equipamentos estão no topo, com 510 acidentes (20%). Posteriormente, quedas, com 302 (12%), e veículos de transporte, com 280 (11%).

No escopo por cargos, 265 alimentadores de linha de produção se machucaram (10%). Na sequência, vêm técnicos de enfermagem, com 219 (8%) e faxineiros, com 114 (4%). Na análise por faixa etária e sexo, os homens de 18 a 24 anos foram as principais vítimas -- 382 registros.

No Estado de São Paulo, houve cerca de 183.500 acidentes de trabalho em 2021. No Brasil, foram em torno de 571.800. Assim, o número registrado em Sorocaba representa 1,69% do total estadual e 0,54% da quantidade nacional.

Multifatores

Os acidentes trabalhistas são causados por multifatores, mas há três preponderantes. A afirmação é do médico do trabalho Renan Paiva Moreno, diretor da empresa Trabt - Medicina e Segurança do Trabalho. Segundo ele, o primeiro motivo são as condições precárias de trabalho. O segundo, a negligência no gerenciamento dos fatores de risco. E o terceiro, a organização do trabalho propriamente dita. “Isto é, a imposição de ritmos de trabalho além da capacidade humana, com intensidade e pressão pela alta produtividade”, explica.

Para o especialista, os índices elevados apontam falta de atenção especial e investimento na saúde e segurança por parte das empresas e empregados. Por isso, ele defende a adoção de ações efetivas como a única maneira de mudar esse cenário. Moreno afirma que tudo começa com a elaboração e implantação de um Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (PGR). Ainda indica como essencial a implementação de um Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO).

De acordo com ele, essas iniciativas visam preservar e acompanhar a saúde dos trabalhadores. Pontua, também, ser importante executá-las na prática, e não só criá-las e deixá-las no papel. “Esses programas são pautados no planejamento, execução, monitoramento e correção de ações necessárias para tornar o ambiente de trabalho seguro”, detalha.

Mais expostos

Conforme Moreno, algumas categorias, como a dos trabalhadores da saúde, estão naturalmente mais expostas a acidentes. Isso por conta de riscos biológicos, físicos, elevados ritmos de trabalho e pressão.O médico lembra que, durante a pandemia de Covid-19, tudo isso se intensificou. Assim, esses profissionais ficaram ainda mais propensos a sofrer acidentes.

Ainda de acordo com ele, outras questões, como a falta de insumos e matérias-primas para a produção de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), agravaram ainda mais a situação.“Instalou-se um círculo vicioso, em que trabalhadores da saúde adoeceram mais por conta da falta de equipamentos de proteção e aumento de pressão no trabalho, deixaram seus postos de trabalho, sobrecarregando e expondo ainda mais aqueles que permaneceram trabalhando”, pontua.

Duas mortes foram no mesmo dia

Das três mortes por acidentes de trabalho ocorridas em Sorocaba em 2021, duas aconteceram no mesmo dia. Na manhã do dia 20 de outubro, um rapaz de 26 anos morreu após uma explosão em uma fábrica de churrasqueiras no bairro Cajuru. Ele foi atingido por um tambor com gás acumulado. Já à tarde, uma prateleira caiu em cima de um funcionário de uma empresa de gás no Iporanga.

Em 2022 também houve, até o momento, pelo menos dois óbitos na cidade, ambos por quedas. Na última terça-feira (26), um pintor de 57 anos morreu após cair de um prédio na avenida Barão de Tatuí. Ele despencou de um andaime instalado no terceiro andar do edifício. A outra morte foi no dia 21 de março. Na ocasião, um funcionário de uma construção, de 45 anos, caiu do 12º andar de um empreendimento em construção no Alto da Boa Vista. (Vinicius Camargo)