Saúde
Mortes por Covid-19 caíram 98,8% em abril, em relação ao mesmo período de 2021
Os últimos dados epidemiológicos da doença foram divulgados na quarta-feira (20) pela Secretaria Municipal da Saúde (SES)
A chegada de uma nova doença até então desconhecida para os cientistas e para a medicina deixou o mundo de cabeça para baixo. Foram dois anos de incertezas, limitações e marcas que ainda levarão um bom tempo para serem cicatrizadas. A pandemia de Covid-19 finalmente dá indícios de um fim próximo. O número de casos e mortes em decorrência do coronavírus deste mês de abril representa queda de mais de 90% em comparação ao mesmo período do ano passado. Embora o cenário seja otimista, pessoas que perderam entes queridos ainda carregam as dores do luto.
Os últimos dados epidemiológicos da doença foram divulgados na quarta-feira (20) pela Secretaria Municipal da Saúde (SES), por conta do feriado de Tiradentes. Até o momento, Sorocaba contabilizou, no mês de abril, 745 confirmações e quatro mortes por Covid-19. Conforme apurado pelo Cruzeiro do Sul, durante o mesmo intervalo de tempo em abril de 2021, haviam sido registradas 7.782 positivações e 346 óbitos. A quantidade de óbitos diminuiu 98,8% de um ano para o outro, enquanto o número de casos teve queda de 90,4%.
O diagnóstico da doença deixou a administradora Thaís Cristina Sales, 21 anos, em pânico. Ela contou que foi infectada em setembro de 2020, logo no início da crise sanitária, e tem sequelas pós-Covid até hoje. Subir escadas ou fazer longas caminhadas podem ser tarefas difíceis para jovem, que acabou desenvolvendo asma, mesmo após ter se recuperado. Além disso, ela notou que sua memória também foi afetada, inclusive, quem a lembrou desse fato foi a própria mãe, a cabeleireira Cláudia Sales, 52.
“Os primeiros sete dias foram os mais tensos. Os sintomas iniciais foram perda de olfato e paladar. No segundo dia, eu não conseguia nem levantar da cama de tanta febre e fraqueza. Fiquei com muito medo quando testei positivo porque moro com os meus pais. Até tive crise de ansiedade enquanto voltava do hospital, fiquei com medo deles também estarem doentes. E realmente eles estavam, mas eles sobreviveram, graças a Deus. Meu pai, por fazer tratamento quimioterápico, desenvolveu uma herpes zóster e quase morreu. Ele se tratou em casa mesmo e deu tudo certo”, relembrou.
A perda do pai
Emanuele Mattos, a Manu, é uma menina de 19 anos que, apesar da pouca idade, se viu obrigada a amadurecer da noite para o dia. Ela não imaginava que a voz acolhedora de seu pai, Antônio Mattos, 53, seria calada para sempre pela Covid-19. A relação entre Manu e Toninho -- como era chamado pela família e por amigos -- era tranquila e cheia de amor. A jovem sempre se refere ao pai como seu melhor amigo e faz questão de recordar a alegria e a bondade ele emanava.
Toninho começou a sentir os primeiros sintomas de contaminação pelo coronavírus em uma sexta-feira, dia 19 de março de 2021. O pai da menina passou o fim de semana com tosse e decidiu ir a uma farmácia na segunda-feira (22), pensando que o problema fosse apenas na garganta. Depois, ele foi para o hospital mais próximo e ficou quase uma semana em casa para fazer tratamento com alguns remédios. Sem sinal de melhoras, precisou retornar ao hospital e o médico decidiu interná-lo na terça-feira seguinte (30).
Na época, os testes estavam escassos no sistema de saúde pública e, embora Toninho tivesse feito o exame, o resultado ainda não havia sido disponibilizado. Ele ocupou leitos específicos para a doença mesmo sem a confirmação -- atitude que deixou Manu entristecida. A filha de Toninho contou que o pai foi entubado no sábado (3), mas devido à gravidade da situação, o homem do sorriso largo não resistiu. Os amigos e a família mantêm a memória de Toninho viva seguindo um dos princípios que ele mais prezava: levar a vida com leveza e honestidade.
“Eu acho que esse negócio de ‘voltar ao normal’ nunca vai existir para a minha família, e para as outras que também sofreram com isso. O normal era ter ele aqui. Mesmo o meu pai sempre nos preparando para a sua morte, por conta de sua saúde debilitada, foi um choque para todos. Sofremos muito, foi uma transformação muito grande. É como se eu tivesse renascido. Fiquei um ano vivendo o luto da pior maneira possível, quase enlouqueci. Por isso, assim que pude, fui me vacinar e a minha família também. Chorei muito porque aquilo poderia ter salvado o meu pai”, disse Manu. (Wilma Antunes)
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