Usuários e motoristas das empresas de transporte por aplicativo estão insatisfeitos com o serviço. Cancelamentos e alta dos preços das corridas são algumas das críticas dos passageiros. Os motoristas reclamam dos valores que recebem. A psicóloga Patrícia Nunes, de 25 anos, contou que chegou a ter quatro solicitações canceladas no mesmo dia e quando um motorista finalmente aceitou a corrida estava há cerca de dez minutos de distância do local de embarque.

A passageira também reclama dos preços das viagens. “As corridas que custavam R$ 12 estão chegando a R$ 18. Já quando os valores estão no modo dinâmico, os usuários precisam pagar ainda mais”.

Em abril a reportagem do Cruzeiro do Sul vivenciou situação semelhante, porém com a empresa 99. Por volta das 7h, foi solicitada quatro carros na zona norte de Sorocaba. Os veículos estavam há cerca de 10 minutos de distância e todos os motoristas, depois de alguns minutos, cancelaram as corridas. Para entender os motivos dos cancelamentos, o Cruzeiro do Sul conversou com um motorista de aplicativo que preferiu não se identificar. Ele explicou que muitos trabalham com as duas empresas e dão andamento na corrida que compensa mais para eles. “Na maioria das vezes, os preços estão bem defasados. Corrida de 4 quilômetros, para ganhar R$ 7, R$ 10. Então, às vezes o motorista liga o aplicativo da Uber e aceita a corrida. Quando ele está chegando próximo ao passageiro, a 99 oferece uma corrida com um preço melhor e um quilômetro menor, ai é óbvio que ele vai cancelar”, explicou o motorista.

Outra situação relatada é que a Uber não está repassando ao motorista o aumento temporário de 6,5% feito ao passageiro após a alta da gasolina. “Eles têm aumentado muito as taxas do motorista. Eles não têm um parâmetro, tem horas que eles cobram bem pouco, mas na próxima corrida já vem a taxa maior. Além disso, eles não nos pagam esse aumento”, disse.

Outro lado

O Cruzeiro do Sul questionou as duas empresas sobre as reclamações. Em relação ao tempo de espera dos passageiros, a Uber informou que nos meses iniciais da pandemia a demanda caiu e agora as pessoas que antes não usavam o sistema passaram a optar pelo App por se sentirem mais seguras. Assim, o número de usuários aumentou e os passageiros estão tendo que esperar mais tempo por uma viagem, especialmente nos horários de pico. A empresa confirmou que podem ocorrer cancelamentos com mais frequência tanto pelo usuário quanto pelos motoristas, que pelo cenário de alta demanda podem presumir que haverá novos chamados de maior ganho na sequência.

A Uber informou que os motoristas são parceiros profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Em relação aos valores, a empresa informa que o mecanismo de preço dinâmico é temporário e atualizado constantemente, por isso a dica para os usuários é esperar algum tempo antes de verificar o preço novamente no aplicativo.

Já sobre o reajuste de 6,5% que não estaria sendo repassado aos motoristas, a empresa informou que não procede e que a Uber lançou um pacote de medidas para ajudar a mitigar os custos dos parceiros com a mais recente alta dos combustíveis.

A 99 esclareceu que não observou redução do número de motoristas parceiros na plataforma, mas sim o aumento no volume de demanda durante a pandemia e ainda mais com o fim das regras de isolamento social. A empresa informou que o índice de cancelamento na plataforma registrado em todo o Brasil nos últimos 12 meses está abaixo de 5%, a menor porcentagem do setor. Ou seja, a cada 100 corridas na 99, menos de 5 são canceladas por parte do motorista parceiro. Para permitir que o parceiro tome a melhor decisão em aceitar ou rejeitar a corrida, a 99 apresenta antecipadamente todas as informações relevantes sobre a viagem: valor aproximado, origem, destino e dados sobre o passageiro. A 99 informou que lançou um auxílio no ganho do motorista que aumenta sempre que a gasolina sobe. (Vanessa Ferranti)