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Saudades

Jequitibá de mais de 100 anos sofre intervenção na Vila Santana

Corte foi autorizado e justificativa é de que árvore estava morta; no local, ficou apenas o tronco

09 de Abril de 2022 às 19:15
Marcel Scinocca [email protected]
Decreto municipal afirmava que árvore tinha mais de 200 anos
Decreto municipal afirmava que árvore tinha mais de 200 anos. Imagem registra momento em que corte ainda estava acontecendo. (Crédito: Cortesia)

Foi realizado neste sábado (9) o corte de uma árvore da espécie Jequitibá, protegido por um decreto municipal, e com mais de 100 anos. A situação ocorreu na Vila Santana, na rua Joana Maria Pereira. A árvore era “protegida” por um decreto municipal e foi tema de matéria do jornal Cruzeiro do Sul ao menos em duas oportunidades. Restou apenas o tronco.

O exemplar do Jequitibá Branco -- cuja espécie, inclusive, é símbolo do Estado de São Paulo --, tem aproximadamente 30 metros de altura, raiz com 80 centímetros de diâmetro, e o tronco medindo de 1,5 metro a 2 metros de diâmetro. Estava localizado no fundo de um imóvel particular. O corte foi feito por uma empresa privada, com acompanhamento do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil de Sorocaba.

Segundo a Prefeitura de Sorocaba, a supressão foi autorizada pela Secretaria de Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema). “Após uma avaliação técnica, quando foi constatado que a árvore estava senescente (morta), ou seja, com seu estado fitossanitário totalmente comprometido e com risco iminente de queda”, garante.

 

Decreto

O decreto, que afirmava que a árvore tinha 200 anos, assinado pelo então prefeito de Sorocaba, Renato Amary, em 09 de junho de 1999, é claro: “Fica declarada a imunidade ao corte, para preservação, da árvore da espécie Cariniana estrillensis (Raddi) Kunte, conhecida pelo nome comum de Jequitibá Branco, com idade superior a 200 anos, situada na Rua Joana Maria Pereira, na Vila Santana, nesta cidade, conforme consta do Processo Administrativo número 18.362/97”.

O seu segundo artigo, o decreto determinava ainda que o proprietário do local onde estava situada a árvore somente poderá utilizar o imóvel para fins de urbanização, proibindo “qualquer tipo de edificação que prejudique as condições ambientais do espécime preservado, ficando o proprietário obrigado a protegê-lo”.

Tema de matéria

A espécie foi tema de ao menos duas matérias no Jornal Cruzeiro, em 2010 e 2017. A primeira tratava exemplares da flora que ganhavam proteção extra da Prefeitura de Sorocaba, com proibição de corte. Posteriormente, e de forma mais ampla, a árvore foi tema de outra publicação, agora falando de um projeto para divulgá-la.

O texto afirmava que o ambientalista Francisco Moreira de Campos, mais conhecido como Chico do Rio, de 85 anos, havia protocolado, junto à Prefeitura, um projeto de paisagismo para que a árvore se tornasse mais visível e pudesse até mesmo ser visitada por estudantes, “visando assim maior conscientização em relação à conservação do meio ambiente. O projeto nunca foi adiante.

Homenagem

Ivo Romão, de 68 anos, vizinho ao patrimônio natural, está desolado. Além de recortes com os textos publicados, ele ainda guarda um quadro, cuja frondosa jequitibá está bem ao centro. Moro próximo e desde criança vejo essa árvore. No outono suas folhas caem e na primavera voltam florindo. Tenho por isso uma grande admiração e sentimento. Vejo diariamente de minha varanda. Ao entardecer, bando de pássaros , principalmente maritacas, usam como dormitório”, conta do que agora é só saudade.

“Fui informado por agente da Defesa Civil,que estava condenada por técnicos ambientais, por isso a derrubada. Enfim, nada resta a fazer, mas minha vista, com certeza ficou mais triste. Lamentável”, termina.