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Ministério Público

Novo procurador-geral de Justiça será conhecido neste sábado (9)

Dr. João Machado de Araújo Neto, com fortes ligações com Sorocaba e com o Cruzeiro do Sul, deixa o posto

09 de Abril de 2022 às 00:01
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Dr. João Machado Araújo recebeu a visita dos promotores de Justiça Antônio Farto Neto e Aluísio Pupim.
Dr. João Machado Araújo recebeu a visita dos promotores de Justiça Antônio Farto Neto e Aluísio Pupim. (Crédito: CORTESIA)

Hoje (dia 9), ao proclamar o resultado da eleição para a formação da lista tríplice a partir da qual o governador do Estado nomeará o novo procurador-geral de Justiça de São Paulo, o procurador João Machado de Araújo Neto encerra uma das mais importantes etapas de sua trajetória no Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

“É uma honra ocupar esse cargo e representar a classe”, disse Araújo Neto em entrevista ao Cruzeiro do Sul, referindo-se ao período de cerca de 30 dias em que, como procurador-geral em exercício, esteve à frente do maior e mais importante Ministério Público do País.

Nascido em São Paulo por uma contingência, já que o obstetra recomendou à sua mãe que o parto fosse realizado na capital, o procurador tem raízes na cidade de Sorocaba há gerações. Seu avô, João Machado de Araújo, era o prefeito da cidade quando, em 1929, uma grande enchente castigou a região. Com Walter Autran, delegado de Polícia, o então prefeito tornou público um aviso para alertar os comerciantes que evitassem praticar preços abusivos tendo como pretexto o desabastecimento provocado pela cheia. Esse tipo de atitude não seria tolerada.

“O delegado era o pai do Paulo Autran”, conta Araújo Neto, que teve a oportunidade de conversar com o ator sobre esse episódio depois de um espetáculo no Hotel Renaissance. “O Paulo Autran me disse que nesses dias da enchente, quando era criança, gostava de ficar pulando as poças d’água”, recorda o procurador.

Essas lembranças vieram à sua mente ao receber a visita do procurador Aloísio Pupim e do promotor Antônio Farto Neto, no gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça, na última quarta-feira (6). Seus colegas o presentearam com uma publicação com figuras históricas da cidade ligadas à maçonaria. Abrindo o livro aleatoriamente, o primeiro retrato com o qual se deparou foi justamente o de seu avô. O texto se referia a participação dele na Loja Maçônica Perseverança III em campanhas destinadas à introdução do ensino médio em Sorocaba. O livro consigna o papel de Machado de Araújo na consecução desse desejo da cidade. A escola, primeiramente instalada no prédio da loja, depois recebeu o nome de Instituto de Educação Dr. Júlio Prestes de Albuquerque.

Nos EUA, Dr. João sempre tinha um exemplar do Cruzeiro do Sul. - ACERVO PESSOAL
Nos EUA, Dr. João sempre tinha um exemplar do Cruzeiro do Sul. (crédito: ACERVO PESSOAL)

Araújo Neto guarda na memória sua passagem por escolas tradicionais de Sorocaba. Ele estudou no Colégio Santa Escolástica e no próprio Júlio Prestes. Teve também uma experiência muito marcante nos Estados Unidos, quando cursou, na Pensilvânia, o último ano do high school na Nether Providence High School como bolsista do American Field Service International Scholarships (AFS).

Durante a sua permanência no exterior, Araújo Neto recebia com frequência exemplares do Cruzeiro do Sul enviados por seus pais. Certa vez, levou um deles à escola americana e mostrou-o a colegas e professores. Uma foto registrou o momento em que o seu professor de espanhol, Richard Ferrell, segurava o jornal a seu lado.

O procurador lembra também, com muito carinho, de sua passagem pela redação do Cruzeiro nos anos de 1964 e 1965. Exibindo um talento precoce para escrever, Araújo Neto, com apenas 13 anos de idade, tornou-se colaborador do jornal. Sua paixão pelo São Bento fez com que ele ganhasse uma coluna para escrever sobre futebol.

“Achavam que quem escrevia era o meu pai”, diz Araújo Neto sobre o espanto dos colegas de escola sobre a sua cooperação com um dos jornais mais tradicionais do país.

Foi nessa época que ele, mimetizando Nelson Rodrigues, um gênio da crônica esportiva, arriscou projetar a carreira de dois jovens talentos que estavam surgindo no futebol sorocabano. Nelson Rodrigues, no dia 8 de março de 1958, profetizou a grandiosidade de Pelé, chamando-o de rei pela primeira vez na história em sua coluna da “Manchete Esportiva”, depois de ver o jogador de apenas 17 anos destroçar o América no Maracanã.

Já Araújo Neto previu que Marinho Peres, que coincidentemente também tinha 17 anos na ocasião, e um outro atleta seriam grandes jogadores, o que só se confirmou no caso do zagueiro, que jogou no São Bento, na Portuguesa de Desportos, no Santos ao lado do próprio Pelé, no Barcelona e na seleção brasileira como titular na Copa de 1974.

“Bem, acertei em 50%. É um bom índice”, brinca Araújo Neto.

A paixão pelo futebol ensejou um episódio inesquecível. No segundo jogo da decisão do Campeonato Paulista de 1962, entre o São Bento e o América de São José do Rio Preto, realizado no dia 17 de fevereiro de 1963 no Estádio Humberto Reale. Ainda adolescente, Araújo Neto queria assistir ao embate e um amigo da família, José Humberto Urban -- depois professor da Faculdade de Direito de Sorocaba, juiz de Direito e desembargador do Tribunal de Justiça -- ofereceu-se para acompanhar o jovem. Quando o time do São Bento entrou no gramado, teve a tradicional queima de fogos e alguns rojões atingiram os torcedores.. Imediatamente, Urban protegeu o adolescente, impedindo que ele se machucasse. Como consequência, Araújo Neto saiu ileso, ao passo que Urban ficou com o cabelo parcialmente queimado.

Enquanto Marinho Peres brilhava nos gramados no começo dos anos 70, o jovem estudante suava a camisa nos bancos acadêmicos. Ingressou na Faculdade de Direito de Sorocaba, instituição na qual foi vice-presidente do Diretório Acadêmico Rubino de Oliveira no período de 1972/1973, presidente na gestão 1973/1974 e acompanhava as inesquecíveis aulas de Direito Romano do professor Alexandre Correa, Direito Constitucional do professor Hélio Rosa Baldy e Direito Civil do professor José Eliezer Teixeira de Arruda. Teve, sem dúvida, grandes mestres, como Rubens Teixeira Scavone e Vicente Grecco Filho, dois membros de enorme destaque no MP-SP. Mas foram as aulas de Direito Penal do professor Gilberto Quintanilha Ribeiro, que viria a se tornar procurador-geral de Justiça, que o fizeram optar pela carreira de promotor público.

Menos de dois anos depois da formatura da 14ª Turma (denominada Gilberto Quintanilha Ribeiro), que teve Araújo Neto como orador, o professor José Eliezer Teixeira de Arruda como patrono e o professor Geraldo Gomes Correa como paraninfo, o mais novo dos cinco irmãos da família Araújo tomou posse como membro do MP-SP. Era setembro de 1976. Trabalhou em várias comarcas do interior. Depois, atuou na condição de promotor auxiliar da Capital e promotor de Entrância Especial. Em São Paulo, também trabalhou por cinco anos no então Centro de Acompanhamento e Execução do MP-SP.

Em novembro de 1989, alcançou o topo da carreira, tendo sido promovido a procurador de Justiça. Em 1990, foi eleito para o Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça. Desde 2010, é membro nato do colegiado, no qual figura como o quarto procurador mais antigo na carreira. Em dezembro de 2021, venceu a eleição para compor o Conselho Superior do MP-SP no biênio 2022/2023.

De acordo com Araújo Neto, nesses quase 50 anos de atuação no Ministério Público ganhou ainda mais força a certeza de que escolheu a carreira certa para colaborar com a construção de um país melhor. E esse tem sido o móvel de sua atuação, independentemente do posto que ocupe, o de promotor substituto ou o de procurador-geral de Justiça. “No Ministério Público, sinto que estou na minha casa”, afirma o filho ilustre -- se não de direito, de fato -- de Sorocaba.

Durante a visita da última quarta-feira (6), o Dr. João recebeu dos promotores de Justiça Antônio Farto Neto e Aluísio Pupim um livro que marca o sesquicentenário da Loja Maçônica Perseverança III. (Da Redação)

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