Debate
Psicóloga alerta sobre pedofilia após cena de filme gerar polêmica
Flávia Helena Pérez, psicóloga da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba, diz que na maioria das vezes crime é cometido por pessoas próximas da criança
Uma cena do filme de comédia “Como se tornar o pior aluno da escola”, inspirado no livro do apresentador e comediante Danilo Gentili, gerou polêmica esta semana e foi alvo de críticas nas redes sociais. O caso ganhou repercussão após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) compartilhar um trecho editado da obra com a alegação de que ela promove a “apologia à pedofilia”. A cena mostra um personagem interpretado pelo ator Fábio Porchat tentando convencer dois adolescentes a tocar em seu órgão genital. No filme, os meninos saem correndo depois do convite.
Após a polêmica, a psicóloga da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba, Flávia Helena Pérez, falou sobre o assunto em uma entrevista concedida à rádio Cruzeiro FM 92,3 na última segunda-feira (14). Para Flávia, independentemente do trecho ter sido tirado de contexto ou não, a cena é forte, já que a faixa etária do filme, a princípio era de 14 anos. “Eu vi a cena e fiquei um pouco chocada. Achei pesado para uma criança, para um adolescente de 14 anos”, comentou.
A especialista também enfatizou que alguns adolescentes nessa idade têm acesso a informação e conversas sobre sexualidade na escola e com os pais, mas existe outro público que não tem esse acesso. Dessa forma, a polêmica se tornou uma oportunidade para que questões como essa sejam discutidas. “Acho que podemos usar isso a nosso favor. Como está no streaming para quem quiser assistir, acredito que deveria ser um tema de estudo mesmo, porque a sexualidade hoje em dia do adolescente já está muito aberta e é uma questão que precisamos tratar de forma direta, sem rodeios. Já existem estudos com escolas nas quais as crianças têm início de vida sexual aos sete anos, vítimas de abuso. Só que isso não é tratado, então, porque não usar esse momento, e essa polêmica, para falar sobre sexo, sobre pedofilia, sobre assédio sexual? Vamos falar de abuso e começar dar voz para o adolescente, para ouvir a percepção dele sobre uma cena como aquela que é retratada no filme”, ressalta.
Durante a entrevista, a psicóloga também destacou que a maioria dos casos de pedofilia é cometido por pessoas próximas da criança, como pais, avós, padrastos e tios. “Eu conheço casos de pacientes do meu próprio consultório, de mulheres adultas, resolvidas pessoalmente e profissionalmente, que sofreram esses abusos na infância. Isso é uma cicatriz, uma marca que a pessoa leva para o resto da vida. E ainda nos dias de hoje, muitas famílias optam por esconder isso, como se a criança tivesse provocado”, declara.
Para tentar evitar que crimes como esse continuem ocorrendo, é necessário ficar atento e ouvir mais os relatos das vítimas. Ainda segundo a psicóloga, conversar sobre o assunto e tirar as dúvidas das crianças sobre sexualidade quando elas surgem é fundamental. “Acredito que a idade para começar a falar sobre sexo com os filhos é quando eles começam a ter curiosidade sobre isso. Muitas vezes existe essa preocupação dos pais de querer adiantar e já se preparar para isso, mas o ideal é deixar a criança vir tirar as dúvidas e responder em uma linguagem que a criança e o adolescente possam entender de forma simples, especificamente aquilo que elas perguntaram, sem mais detalhes, porque é um processo de maturação emocional, no qual a criança está percebendo mudanças no próprio corpo”, conclui. (Da Redação)
Mudança na classificação indicativa do filme
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), alterou para 18 anos a classificação indicativa do filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola. A reclassificação está publicada no Diário Oficial da União de quarta-feira (16). Até então, o longa era indicado para a faixa etária acima de 14 anos.
A justificativa para a alteração é que a produção apresenta ‘conteúdo com tendências de coação sexual ou estupro, ato de pedofilia, e situação sexual complexa’.
De acordo com o Ministério da Justiça, o prazo para ajustar os símbolos que indiquem a nova classificação em qualquer plataforma ou canal que possa exibir o longa é de cinco dias corridos. Outra decisão é que o filme só pode ser exibido pela TV aberta após às 23h.
Na terça-feira (15), a pasta havia instaurado processo administrativo cautelar no qual determinava a suspensão do filme, em até cinco dias contados a partir de ontem, das plataformas de streaming como Netflix, Telecine, Globoplay, Youtube, Apple Computer Brasil e Amazon do Brasil. Pelo despacho do MJSP, o não cumprimento da determinação, geraria multa diária de R$ 50 mil, além de sanções administrativas e penais. (Agência Brasil)
O que diz os envolvidos
O comediante e apresentador, Danilo Gentili, se pronunciou após a polêmica envolvendo o filme. Ele disse que a cena foi tirada de contexto e que as reações ao trecho são ‘chiliques, falso moralismo e patrulhamento’. Já Fábio Porchat, que interpreta o inspetor que sugere o ato sexual com os adolescentes, destacou que trata-se de um vilão: ‘É um personagem mau, que faz coisas horríveis. Um vilão pode ser racista, nazista, machista, pedófilo, matar ou torturar pessoas. Quando isso aparece em um filme, não quer dizer que estamos fazendo apologia’, aponta o comediante. (Da Redação, com informações da Agência Brasil)