Cidades
Com guerra na Ucrânia, preço do fertilizante sobe até 80% na RMS
Empresas do ramo falam em escassez de produtos e vendas ficam prejudicadas
A invasão russa à Ucrânia, que já provocou mais de três milhões de refugiados e quase cinco mil mortos, entre soldados e civis, já traz consequências para a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). A situação ocorreu, em especial, para as cidades onde o agronegócio tem fatia importante na economia. Entre os municípios, Itapetininga, São Miguel Arcanjo e Piedade, onde o aumento dos fertilizantes já chega a 80%.
A Ouro Safra, por exemplo, que atua no mercado há mais de 30 anos, em cidades como Itapetininga, Piedade e Pilar do Sul, revende insumos agrícolas que têm na base de composição minérios que o Brasil não é autossuficiente. Essa matéria prima é extraída em minas na Rússia e Bielorússia. “O Brasil não sofreu nenhuma sanção comercial desses países, porém não temos previsão de quando a situação retornará à normalidade. Sabemos que a nossa ministra da Agricultura, Tereza Cristina, está realizando iniciativas com as empresas canadenses para suprir essas demandas”, disse Júlio Guilherme Chudzik Filho, diretor comercial de agroquímicos do grupo.
“Já começamos a sentir o impacto. As empresas de fertilizantes, no momento, estão sem listas de preço e os pedidos de compra a longo prazo estão sujeitos à disposição de produto. Ou seja, o agricultor brasileiro está abastecido de insumos para a safra de inverno, no entanto, para a próxima safra de verão sentiremos os impactos na escassez de fertilizantes”, avaliou.
Em Piedade, Sidnei Vieira Martins Junior, vendedor da empresa OuroFert Comércio de Agroquímicos, disse que nos últimos dias sentiu as compras diminuírem e as entregas também. “O pessoal comprava para estocar, agora estão comprando o que vão usar”, disse. Ele explica ainda que o saco de um dos fertilizantes que comercializa aumentou nos últimos dias, após o início do conflito, de R$ 210,00 para R$ 380,00, representado de 80%.
A agropecuária Centro, em São Miguel Arcanjo, também sentiu os impactos. O vendedor Francisco Rodrigues disse que a procura tem se mantido a mesma, mas que os preços subiram de maneira significativa. “O adubo subiu bastante e o defensivo também. A procura continua a mesma porque o produtor não para. Às vezes, ele precisa até substituir o produto, mas não pode parar”, argumentou. A loja Pezzato Agrícola, também de São Miguel, registrou aumento nos preços dos produtos que dependem da Rússia.
O mercado, assim como produtores e governos, esperam um aceno sobre o cessar-fogo entre os países, para, ao menos, amenizar a situação. O setor agrícola ainda tem outros fatores para se preocupar. “Já vimos de anos estressados em relação a suplemento na China e os custos estão aumentado inacreditavelmente nesses últimos anos por vários problemas, em especial pela Covid. Com essa variação recente do petróleo, todos os outros insumos irão ter impactos”, explica Julio Borges, presidente da Ihara, com planta em Sorocaba.
A empresa não atua no área de fertilizantes -- diretamente afetados pelos conflitos --, mas de defensivos agrícolas, que também já começa a dar sinais negativos. “Todos já percebemos como a inflação está atingindo o Brasil. Infelizmente, esse conflito está tomando proporções e já está se alongando mais do que se esperava. Então, estamos muito preocupados. Não tivemos o impacto imediato, mas espera-se que tenhamos em breve”, alertou. (Marcel Scinocca)