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Sorocaba

ONG defende conservação ambiental de área urbana

17 de Março de 2022 às 00:01
Vinicius Camargo [email protected]
Floresta Cultura, conhecida como parque Três Meninos, fica no Jardim Piratininga.
Floresta Cultura, conhecida como parque Três Meninos, fica no Jardim Piratininga. (Crédito: ERICK PINHEIRO / ARQUIVO JCS (26/1/2019))

A Associação Floresta Cultural pede a transformação do parque Três Meninos (Floresta Cultural), no Jardim Piratininga, em Sorocaba, em área de conservação ambiental. Atualmente, a Organização Não Governamental (ONG) tem a permissão de uso da área. Porém, teme perder a concessão, devido ao avanço dos empreendimentos imobiliários no bairro. A entidade também solicita o tombamento de um mirante situado no local como patrimônio turístico e paisagístico. A Prefeitura afirma que pretende atender aos pedidos.

O espaço, com mais de 200 mil metros quadrados, onde antigamente era uma fazenda, está sob responsabilidade da ONG desde 2016. À época, ao visitá-lo, um grupo teve a ideia de transformá-lo em parque. Atualmente, é uma Área de Preservação Permanente (APP), gerida por mais de 50 associados da entidade. Essas pessoas, de diversas áreas profissionais, trabalham de alguma forma em prol do local. Destas, 15 atuam diretamente na sua conservação. São os chamados “guardiões da floresta”.

Ali, são realizadas diversas atividades de preservação, educacionais, culturais e turísticas. Alguns exemplos são reflorestamento, por meio do plantio de árvores e plantas, pesquisas, visitas guiadas, celebrações, dentre outras. Segundo membros da associação, o parque abriga, por exemplo, mais de 100 espécies de árvores, sendo pelo menos 15 ameaçadas de extinção, e, também, cerca de 100 espécies de aves. Nas suas dependências, há, ainda, mais de cinco nascentes e quatro lagoas.

A bióloga e ecóloga Silvia Beatriz de Souza, de 54 anos, é uma das “guardiãs”. Conforme ela, devido à diversidade de fauna, flora e fontes de água, o parque é parte importante do meio ambiente e do ecossistema locais. Por isso, destaca a necessidade da sua preservação para a ecologia e a sustentabilidade da cidade. Além disso, em razão dos trabalhos ali desenvolvidos, o considera igualmente fundamental para a população. “Estamos aqui para manter e proteger a floresta, que é tão completa e, ao mesmo tempo, conservar a água. É igualmente importante esse processo educativo”, diz.

Apesar da sua relevância, Silvia acredita que o lugar está ameaçado. Há receio da área ser vendida para o setor imobiliário, pois diversos empreendimentos residenciais têm sido construídos nos arredores do local. Diante disso, de acordo com ela, a maneira mais eficaz de impedir isso é tornando-o uma área de conservação ambiental. “Se não estivéssemos atuando aqui, isso já teria acontecido”, afirma.

Projetos ampliados

A pedagoga Luanda Bauly, de 41 anos, “outra guardiã”, explica que, com a medida, o espaço viraria oficialmente um parque municipal. Assim, a Prefeitura passaria ser responsável por cuidar da infraestrutura. Segundo Luanda, com isso, o local receberia melhorias, como instalação de banheiros, água potável e ações de segurança. Com esses recursos, alguns projetos efetuados ali, como as atividades educacionais para crianças, poderiam ser ampliados, de acordo com a guardião. Ela diz que, hoje, essas atividades são oferecidas a poucos participantes justamente devido à falta de estrutura adequada. "Se fizéssemos uma reestruturação, atrairíamos quatro a cinco vezes mais pessoas”, acredita. 

Pesquisas

Para Silvia, a medida ainda favoreceria o desenvolvimento de pesquisas. No momento, pesquisadores, inclusive alunos de universidades sorocabanas, realizam trabalhos na floresta, mas de forma independente. Já com a formalização, ela comenta que seria possível, por exemplo, firmar parcerias com universidades locais. Atualmente, isso não é exequível, pois, sem a oficialização, os estudiosos não têm respaldo, segundo ela. "Como alguém vai começar a fazer mestrado ou doutorado aqui, se, no meio da pesquisa, a área pode deixar de existir?”, indaga.

Benefícios

O estudante de engenharia florestal André Fogaça, de 22 anos, também “guardião”, afirma que a ONG já procurou a Prefeitura várias vezes, em busca da certificação. Porém, não obteve resposta. conforme ele, a aprovação do pedido beneficiaria o próprio poder público, o bairro, a cidade e a população. Como exemplos das vantagens, cita a criação de mais um espaço de lazer completo; valorização dos imóveis no entorno da área; e incentivo ao turismo ecológico. Mesmo com esses pontos positivos, para Fogaça, um único fator impede a transformação da área em unidade de conservação. “Damos de cara com a especulação imobiliária”, aponta.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema) informa ter a intenção de transformar o parque em área de conservação ambiental. “O processo está em fase de elaboração dos estudos necessários”, afirma. Ainda de acordo com a pasta, a Associação Floresta Cultural efetuou a solicitação e possui o número do processo, podendo acompanhar o andamento, como fez outras vezes.