Buscar no Cruzeiro

Buscar

Polícia instaura inquérito para investigar morte de sorocabana em SP

17 de Março de 2022 às 00:01
Vinicius Camargo [email protected]
Agressor de Anna Caroline, o marido Eliano de Lima Barbosa Filho está foragido.
Agressor de Anna Caroline, o marido Eliano de Lima Barbosa Filho está foragido. (Crédito: REPRODUÇÃO)

A Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar a morte da sorocabana Anna Caroline Valença Oliveira, de 26 anos. A linha de apuração é de feminicídio. As informações foram passadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo. A jovem foi espancada pelo marido, Eliano de Lima Barbosa Filho, de 28 anos, no dia 5 deste mês. Ela chegou a ser socorrida ao hospital, mas, após cinco dias internada, não resistiu aos ferimentos. O suspeito continua foragido.

Inicialmente, o boletim de ocorrência foi registrado como violência doméstica e lesão corporal. O BO foi feito pela mãe dela, Priscila Valença Reis, de 41 anos, no dia 7 deste mês, dois dias após o espancamento. Como a vítima faleceu posteriormente, em decorrência das agressões, o tipo do crime mudou e o caso passou a ser apurado como feminicídio. A investigação está sob responsabilidade da 4ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da capital.

O caso

Anna Caroline era natural de Sorocaba, mas morava em São Paulo há 12 anos. Segundo Priscila, a filha mantinha um relacionamento com Eliano desde os 14 anos. Os dois se conheceram durante uma viagem à praia. Com poucos meses de namoro, ela se mudou da cidade natal para viver com o suspeito na capital. O casal tem uma filha de 7 anos.

De acordo com a mãe, no início, a relação era boa. No entanto, com o nascimento da filha do casal, tudo mudou. Primeiramente, conta ela, a jovem era agredida verbalmente. Com o passar do tempo, a violência física tornou-se frequente. Só na semana do crime, foram dois episódios. O primeiro, no dia 3 deste mês, uma quinta-feira, e a segundo, que vitimou Ana, no dia 5, um sábado.

A vítima já havia registrado diversos boletins de ocorrência contra o agressor. Em 2019, obteve uma medida protetiva em desfavor do homem, mas reatou com ele. No último espancamento, Eliano deu socos no rosto e chutes no abdômen da esposa, bem como a jogou ao chão. Ela sofreu perfuração no intestino grosso e hemorragia interna. Chegou a ser levada ao Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha. Apesar dos esforços médicos, morreu na última quinta-feira (10).

A filha e uma irmã da sorocabana, de 12 anos, estavam na residência e presenciaram a violência. De acordo com Priscila, a neta ainda não sabe da morte da mãe, e a filha ficou traumatizada.

Na segunda-feira (14), nove dias após o crime, Eliano fez contato com a sogra. A neta irá morar com Priscila em Votorantim, que tenta trazer móveis do quarto da menina, para a sua casa. De acordo com ela, sabendo disso, o suspeito lhe enviou diversas mensagens pelo WhatsApp, para tentar impedi-la de entrar na residência dele. Priscila informa não haver informações sobre o paradeiro de Eliano. Conforme ela, embora esteja foragido, ele teria conseguido advogado de defesa, e o profissional teria até se apresentado à DDM. A SSP não confirmou essa informação.

Mãe relata dificuldade para registrar ocorrência

Priscila Valença Reis critica a atuação do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, onde a filha foi atendida e ficou internada. Segundo ela, quando deu entrada na unidade de saúde, no sábado (5), Anna Caroline Valença Oliveira relatou o seu caso. Mesmo assim, o hospital não teria acionado a polícia. “Eles falaram que só a assistente social chama a polícia e que ela não estava”, disse.

A polícia só foi acionada horas após o crime, por Priscila, quando chegou ao hospital. Para ela, a demora favoreceu a fuga de Eliano. Mesmo com a chegada de policiais, a mãe afirma terem persistido os impasses. “Eles (policiais) falaram que não podiam fazer nada e que tinham que esperar ela melhorar e sair (do hospital), para ir à DDM fazer o BO”.

Ela comenta ter insistido para o registro ser feito na unidade, pois a filha não tinha condições de sair dali, mas conseguia relatar o ocorrido. Porém, não foi atendida. “Eu falei: ‘minha filha está com problema no fígado, está mal, mas ela ainda está falando. Vão lá e colham o depoimento dela’”. Priscila só conseguir registrar a ocorrência na segunda-feira (7).

Na delegacia, houve mais dificuldades, pois teve que aguardar por 12 horas. Priscila também afirma não que recebeu detalhes sobre o andamento das investigações. “Eles só respondem que o caso corre em segredo de Justiça.” Não bastasse tudo isso, ainda tem de lidar, é claro, com a dor da perda da filha. Para a mãe de Anna, a prisão de Eliano de Lima Barbosa Filho lhe trará ao menos um pouco de alívio.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde, administradora do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, afirma que a unidade prestou todo o auxílio à Anna. “A paciente esteve assistida durante todo o período de internação e os familiares foram orientados quanto aos protocolos para o caso”. O Cruzeiro do Sul questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre as reclamações de Priscila, mas não obteve resposta. (Vinicius Camargo)