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Polêmica x Covid-19

Supostos efeitos colaterais e desinformação levam sorocabanos a optar por não se vacinar

Segundo estimativa feita pelo Cruzeiro do Sul, 52.598 munícipes não se vacinaram, o equivalente a 8% da população

20 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Vinicius Camargo [email protected]
Em Sorocaba, quase 56 mil pessoas ainda não tomaram nenhuma dose de imunizante contra a Covid.
Em Sorocaba, quase 56 mil pessoas ainda não tomaram nenhuma dose de imunizante contra a Covid. (Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Receio de efeitos colaterais e falta de informações sobre as vacinas. Estes são os principais motivos apresentados por sorocabanos que não querem se imunizar contra a Covid-19. Segundo estimativa feita pelo Cruzeiro do Sul, 52.598 munícipes não se vacinaram, o equivalente a 8% da população. O cálculo aproximado foi realizado com base em dados da Secretaria da Saúde (SES) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A reportagem conversou com duas mulheres contrárias à vacinação contra a Covid-19. Sem se identificar, ambas justificaram as razões pelas quais decidiram não tomar nenhuma dose. Elas afirmam não serem antivacinas em geral e asseguram terem tomado todas os outros imunizantes prescritos no Brasil. Dessa forma, suas opiniões se limitam aos imunizantes contra a Covid.

Uma delas, de 35 anos, diz não haver pesquisas aprofundadas sobre possíveis reações graves. “Acho que não houve estudos suficientes para conhecer os riscos da vacina a longo prazo, o que a vacina pode nos causar a longo prazo”, fala. Neste sentido, afirma conhecer pessoas que desenvolveram doenças após receberam a vacina, bem como contraíram a Covid. “Eu vejo vários casos de trombose, embolia pulmonar, AVC e infarto em pessoas pós-Covid e pós-vacina, e outros que tomaram a vacina e acabaram tendo o vírus logo após”.

Rapidez de desenvolvimento

Já a outra mulher, de 38 anos, aponta a rapidez no desenvolvimento dos imunizantes como o principal motivo do seu receio. “Várias vacinas demoram anos para ficar pronta; essa ficou pronta muito rapidamente”, reforça. Ela ainda conta ter estudado sobre o assunto. Nas pesquisas, afirma ter visto haver vacina que não cumpriu todos os requisitos necessários para ser aprovada. “Ela pulou alguns testes, não teve o tempo realmente necessário para fazer os testes em animais e em humanos”.

Falta de informações

Além disso, conforme a segunda entrevistada, os imunizantes ainda estariam em fase experimental e, assim, sendo aplicados na população como parte dos testes. Contudo, essa informação não estaria sendo divulgada. “No começo, [autoridades sanitárias] disseram que é um experimento e que seria dado um termo de consentimento para a pessoa assinar e fazer parte [de estudo] de uma [vacina] em um uso emergencial”, fala. “Teve até alguns lugares em São Paulo que aplicaram esse termo, mas, depois, foi deixando de ser aplicado e [o estudo] acabou tido como normal”, emenda.

Por isso, crê ela, muitas pessoas teriam se vacinado sem saber dos riscos e dos possíveis efeitos colaterais. “Não tem problema nenhum em fazer um estudo na prática, usando as pessoas, mas elas devem ser informadas disso, porque a maioria não sabe, e assinar um termo de consentimento em que as farmacêutica se responsabilizem se acontecer alguma coisa”, comenta. “Não é o que está acontecendo. As indústrias farmacêuticas não estão se responsabilizando por nenhum dano ao paciente”, completa.

A mulher também diz conhecer pessoas que, supostamente, teriam sofrido reações adversas graves após se vacinarem. Esses efeitos, conforme a entrevistada, seriam sangramentos, infartos, problemas de coagulação, doenças no fígado e trombose.

Verdadeira proteção

Outra justificativa da segunda entrevistada para não se vacinar é a falta de dados claros sobre a verdadeira capacidade de proteção. “A cada dia, vai mudando a narrativa. Primeiro, disseram que a vacina protegia contra o coronavírus. Depois, viu-se que não protegia. Aí, mudou a narrativa e foi dito que protege contra as formas graves. Agora, na prática, o que a gente vê são pessoas que tomaram as três doses internadas com a forma grave da doença. Então, agora, com certeza, a narrativa vai mudar de novo”.

Obrigatoriedade

Por fim, a mulher pontua ser contra a vacinação obrigatória porque as pessoas “podem ter direito de escolha”. “Já existiram epidemias mais mortais e não chegou a esse ponto de obrigar uma pessoa a tomar uma coisa que não está protegendo de verdade”. Por tudo isso, ela pretende continuar não imunizada, ao menos por enquanto. “Está tudo muito incerto. Eles não têm certeza de nada. Cada hora, é uma informação nova que chega. Então, eu não quero brincar com a minha saúde. Quero ter certeza do que estou tomando”, argumenta.

Um ano de vacinação

No Brasil, a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 foi a enfermeira paulistana Mônica Calazans, de 54 anos. A profissional do Hospital das Clínicas recebeu uma dose da CoronaVac no dia 17 de janeiro de 2021, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, minutos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial do imunizante no País.

Vacinas são testadas em milhares de voluntários

A fase de testes das vacinas contra a Covid-19 foi realizada antes do início da aplicação na população em geral. Nessas etapas, voluntários se candidataram para receber as doses. As pessoas selecionadas sabiam estar participando de um estudo e assinaram termos de compromisso. No País, por exemplo, a CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, foi testada em milhares de voluntários. 

Médica especialista nega problemas e garante que imunizantes são seguros

Infectologista Marina Jabur culpa as fake news pela maioria das dúvidas da população sobre a vacina contra a Covid. - DIVULGAÇÃO
Infectologista Marina Jabur culpa as fake news pela maioria das dúvidas da população sobre a vacina contra a Covid. (crédito: DIVULGAÇÃO)

Para esclarecer dúvidas sobre a imunização, o Cruzeiro do Sul ouviu a infectologista Marina Campelo Jabur, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Unimed Sorocaba. A especialista reforça, primeiramente, a eficácia e a segurança das vacinas contra a Covid-19.

Segundo a médica, os imunizantes não estão em fase experimental e já foram aprovados. Portanto, cumpriram integralmente as etapas de pesquisa, não tendo sido pulada nenhuma. Também seguiram as exigências necessárias para serem aprovadas. Igualmente, foram liberados pelos órgãos competentes, sejam nacionais ou mundiais, após análise minuciosa. Por isso, Marina explica que a rápida fabricação se deu, na verdade, graças aos altos investimentos de tempo e dinheiro. Conforme ela, há dados públicos sobre os estudos e os próprios imunizantes em diversas fontes confiáveis, inclusive, científicas.

Reações

Já quanto às reações graves, ela destaca poderem ser causadas por qualquer vacina. Mas, no caso do imunizante contra a Covid, são bastante raras. “A maior parte deles [efeitos] é considerada leve, como cefaleia (dor de cabeça), dor no corpo, às vezes, sensação de como se fosse ficar gripado. [Já] numa parcela de pessoas, podem existir eventos muito raros, mais moderados a graves, que seria a miocardite (inflamação no coração)”, esclarece.

De acordo com Marina, vale ressaltar que o vírus também podem causar esses problemas. Ainda conforme ela, embora haja risco de efeitos adversos, não foi comprovada, até o momento, nenhuma morte em decorrência da vacina. Além disso, as doses não causam a Covid, pois o vírus nelas utilizado está inativo (morto). “Nenhuma dessas vacinas contra a Covid-19 é feita com o vírus vivo. Portanto, elas jamais vão causar uma doença vacinal”, enfatiza.

Em relação à eficiência dos imunizantes, a infectologista frisa que eles realmente não impedem a contaminação pelo coronavírus. No entanto, reduzem as possibilidades de pessoas infectadas evoluírem para quadros graves. “Quando chegou a vacina, nós paramos de ter tantas internações e óbitos”, lembra.

Fake news

Ainda segundo a médica, algumas informações, como a capacidade da vacina de alterar o DNA humano, tratam-se de fake news. De acordo com ela, esse boato pode ter surgido porque a tecnologia de RNA mensageiro, usada nos imunizantes, é nova. “Isso é especulação total. A tecnologia utiliza material genético que tem códigos do vírus para que nós, entrando em contato, produzamos os anticorpos”, elucida.

A especialista também esclarece não haver imunidade igual ou superior à conferida pela vacinação. Assim, o fato de ter sido contaminado não garante proteção. Isso porque os níveis de anticorpos produzidos a partir do imunizante são bem maiores do que as quantidades geradas pela infecção. “Apenas tendo a doença, não conseguimos combater a pandemia até agora. O que fez reduzir e está comprovado foi a vinda das vacinas”, assinala.

Marina afirma que a imunização, aliada aos demais protocolos sanitários, é a melhor forma de se combater a pandemia de Covid-19. Conforme ela, as vacinas provaram a sua eficiência em vários outros momento da história. Como exemplos, cita o surto de H1N1, em 2009, e a erradicação da paralisia infantil no Brasil, em 1.989. “Combatemos todas as pandemias e epidemias com vacina. Nós sempre estivemos à frente. A vacinação sempre foi um ponto forte no Brasil”, salienta. 

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